Achados da PF com Bolsonaro reforçam razão para a prisão e podem ajudar Tarcísio a conquistar centro
Os arquivos e mensagens recuperados pela Polícia Federal no celular do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) expostos no relatório final em que indicia ele e o filho Eduardo Bolsonaro por coação na ação do golpe reforçam as razões que levaram à decretação de medidas cautelares que culminaram na prisão domiciliar. Ao mesmo tempo, solidificam as teses de que a articulação junto ao governo americano e a empresas daquele País foram feitas com o objetivo de salvá-lo da condenação. Mas há um terceiro efeito, de ordem puramente eleitoral, e que pode ajudar um dos principais aliados do ex-presidente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a conquistar o centro partidário e eleitoral no Brasil.

A exposição da insatifação de Silas Malafaia e, sobretudo, de Eduardo Bolsonaro com a atuação de Tarcísio exibe a disputa de poder pelo espólio de Bolsonaro e contribui para a construção da imagem de que o governador seria o mais moderado entre eles. Alguém que não estaria disposto a seguir absolutamente tudo o que a família, em seus momentos mais radicais, exige dele. É um ativo importante para arrebanhar partidos de centro e centro-direita, como o PSD, os federados União Brasil e PP ou mesmo o MDB em uma candidatura presidencial. E para ampliar o apoio junto ao empresariado. Afinal, como disse Eduardo em uma das mensagens, Tarcísio estaria pronto para abandonar a defesa intransigente da liberdade de Bolsonaro para “resolver a vida do pessoal da Faria Lima”.
É verdade que, com Eduardo expondo um Tarcísio pouco atuante na defesa de Bolsonaro pode haver perda de apoio do eleitorado mais convicto do ex-presidente. Mas esse, que prega a escolha de um nome da família, não teria escolha quando fosse Tarcísio de um lado e Lula de outro em 2026. Nesse ponto, obter apoio mais ao centro, ainda que às custas de um esvaziamento junto ao núcleo radical do bolsonarismo, seria mais negócio. Ainda mais no momento em que a figura de seu detrator, Eduardo, vive a pior crise de popularidade desde o anúncio do tarifaço.
Enquanto isso, a situação de Bolsonaro se agravou. Moraes deu 48 horas para que a defesa se manifeste sobre um “reiterado” descumprimento de cautelares. É a senha para uma prisão preventiva que, se não vier, será apenas por conta da proximidade do julgamento que vai condená-lo. Mas as mensagens e documentos apreendidos expõem risco de fuga. Em especial a operação para obter um asilo na Argentina, e a tentativa de tumultuar o processo.
No caso de Eduardo, pouco muda do ponto de vista jurídico. Ele não poderá voltar ao Brasil, a não ser que seu plano de atropelar o Judiciário dê certo. Mas, politicamente, fica mais exposto que a intenção não era anistia para todos, mas salvar o pai.
Por fim, as mensagens e conversas entre Jair Bolsonaro, Eduardo e Silas Malafaia mostram um grupo com os ânimos à flor da pele, muito mais tensos e em divergência do que nas manifestações públicas em que tentam demonstrar força e confiança no andamento do plano. Estavam em estado de nervos. Provavelmente, agora ainda mais.