22 de agosto de 2025
Politica

Ideia de asilo na Argentina coincide com ida à Embaixada da Hungria e compromete versão de Bolsonaro

RIO – A minuta de pedido de asilo político na Argentina encontrada pela Polícia Federal com o ex-presidente Jair Bolsonaro foi editada, pela última vez, no mesmo dia em que o ex-chefe do Executivo entrou na Embaixada da Hungria, no dia 12 de fevereiro de 2024, após ter o passaporte retido pela Justiça. Bolsonaro ficou “hospedado” por três dias daquele mês na representação diplomática, em Brasília.

A hospedagem na Embaixada da Hungria no Brasil foi divulgada pelo jornal dos Estados Unidos The New York Times (NYT). O jornal publicou imagens de vídeo e fotos indicando que Bolsonaro entrou na embaixada em Brasília no dia 12 de fevereiro e só saiu de lá dois dias depois.

Imagens do ex-presidente Jair Bolsnaro na embaixada da Hungria, segundo NYT
Imagens do ex-presidente Jair Bolsnaro na embaixada da Hungria, segundo NYT

No mesmo dia 12, segundo a PF, o arquivo “Carta JAIR MESSIAS BOLSONARO.docx” foi editado pela última vez. Para os investigadores, o documento indica que o ex-presidente planejou “fugir do país, com o objetivo de impedir a aplicação de lei penal”.

“Durante a análise do material apreendido, foi identificado um arquivo de texto no formato .docx, com última modificação em 12.02.2024, cujo conteúdo revela que JAIR MESSIAS BOLSONARO praticou atos para obter asilo político na Argentina. Embora se trate de um único documento em formato editável, sem data e assinatura, seu teor revela que o réu, desde a deflagração da operação Tempus Veritatis, planejou atos para fugir do país, com o objetivo de impedir a aplicação de lei penal. Trata-se do arquivo Carta JAIR MESSIAS BOLSONARO.docx, o qual, conforme seus metadados, foi salvo no celular do ex-Presidente no dia 10/02/2024 às 18h28min (UTC-0)”, diz o relatório da Polícia Federal.

Trecho de relatório da PF aponta edição de pedido de asilo política na Argentina pela última vez no dia 12 de fevereiro de 2024
Trecho de relatório da PF aponta edição de pedido de asilo política na Argentina pela última vez no dia 12 de fevereiro de 2024

À época, a defesa de Bolsonaro confirmou a presença do ex-presidente na Embaixada da Hungria quatro dias após a Polícia Federal deflagrar uma operação que confiscou seu passaporte. Em nota divulgada à imprensa, os advogados do ex-presidente disseram que Bolsonaro ficou hospedado “a convite” e negou que o ex-presidente buscava asilo político.

Segundo o NYT, a estadia de Bolsonaro na Embaixada da Hungria sugere que Bolsonaro estava tentando “alavancar a sua amizade” com o primeiro-ministro Viktor Orbán, que é um político da extrema direita do país europeu. A estratégia seria tentar escapar de punições da Justiça brasileira, segundo o NYT.

Já o documento com o pedido de asilo na Argentina foi produzido após a deflagração da operação da Polícia Federal que apura o plano de golpe dos aliados do ex-presidente, que resultou na ação penal na qual ele é réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

No documento, endereçado ao presidente da Argentina, Javier Milei, Bolsonaro afirma que é “um perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos”.

“Os elementos informativos encontrados indicam, portanto, que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha em sua posse documento que viabilizaria sua evasão do Brasil em direção à República Argentina, notadamente após a deflagração de investigação pela Polícia Federal com a identificação de materialidade e autoridade delitiva quanto aos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito por organização criminosa”, diz o relatório da PF.

O advogado e ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, afirmou nesta quinta-feira, 21, que o ex-presidente “nunca cogitou sair do Brasil” e negou a existência de um plano de fuga para a Argentina.

“O Presidente Jair Bolsonaro NUNCA cogitou deixar o Brasil. Como ele mesmo sempre disse, o telefone dele, bem como do seu ajudante de ordens, sempre foram ‘aeroportos de mensagens’ e ou ‘muros de lamentações’ sem nenhuma opinião muito menos adjetivação. Essa é a verdade o resto é vazamento criminoso para dividir e constranger”, escreveu Wajngarten no X (antigo Twitter).

Em janeiro deste ano, Bolsonaro afirmou que não fugiria do Brasil. A declaração do ex-chefe do Executivo foi dada em entrevista à CNN Brasil três dias após ele ter dito à rádio Auriverde Brasil, que poderia deixar o País, mesmo tendo o passaporte retido por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Eu vou para a cadeia, eu não vou fugir do Brasil. Eu podia ter ficado lá quando eu fui para os Estados Unidos. Quando eu fui para a posse do (Javier) Milei, eu poderia ter ficado, mas vim para cá, sabendo de todos os riscos que estou correndo”, disse.

 

 

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