Insanidades em série dos Bolsonaros deixam cenário eleitoral menos difícil para Lula
Do ponto de vista absoluto, não há vitoriosos na sequência de desvarios e baixarias que a família Bolsonaro tem cometido com o objetivo exclusivo de tirar o patriarca da cadeia (não acreditem nessa história de salvar a democracia, só pensam na própria pele). A sociedade e o setor produtivo perdem com as sanções aos produtos brasileiros. O setor financeiro teme as consequências da Lei Magnitsky contra as autoridades públicas. O governo vive mais períodos de tumultos e ingovernabilidade.

Mas, do ponto de vista relativo, como se pode ver na pesquisa divulgada hoje pela Quaest, Lula é quem colhe mais frutos. Na atual circunstância, se distancia dos demais candidatos. Hoje, segundo a sondagem, seu principal oponente, num eventual segundo turno, nem é Jair Bolsonaro, mas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Porém, a diferença a favor de Lula que era de quatro pontos, subiu para oito. Agora, como Tarcísio irá largar uma reeleição praticamente garantida no Estado em que governa para uma aventura em que, antes da largada, sofre boicote do padrinho político e de seus filhos, conforme os áudios divulgados pela Polícia Federal ontem? Na prática, um candidato que ameaça Lula deve ir para a cadeia, e o segundo tem sido inviabilizado pelo primeiro. Os demais, governadores, também são hostilizados pelos Bolsonaros. O atual ocupante do Palácio do Planalto esfrega as mãos.
Nisso tudo, dentro do festival de expressões de baixo calão que sempre marcou os Bolsonaros, é possível ver que não agem com frieza e racionalidade. Se o drama, até compreensível, é livrar o pai de uma punição severa, talvez o melhor caminho seria ajudar a eleger um candidato aliado e depois buscar um indulto com o Supremo Tribunal Federal – que cada vez mais tem sido uma casa mais política do que jurídica.
A aposta, algo desatinada dos Bolsonaros, passa longe do discernimento. Tem sido contar com a ajuda do presidente americano Donald Trump para desestabilizar a política e a economia brasileira. E, para complicar, como mostram os espantosos áudios, há uma questão freudiana na história de um filho, Eduardo Bolsonaro, querendo provar para um pai em apuros que não é uma pessoa imatura, superficial e infantil. Os vazamentos, entretanto, mostram que o progenitor tem razão em considerar o filho algo oco.
Nisso, contam com a notável omissão do governo brasileiro, que não se aproximou dos atuais governantes da nação mais poderosa do planeta – o que de fato era uma missão difícil, face ao radicalismo da turma, porém era uma tarefa necessária. Nesse caos que contamina todo o setor da direita, e beneficiado também por fatores externos como a queda na inflação de alimentos, Lula consegue se tornar favorito mesmo com um governo impopular, com problemas graves nas contas públicas, com a maioria da população a considerar que não deve ser candidato, sem entregas notáveis, e sem controle do Congresso. O cenário só não é definitivo porque é raro o País passar mais de uma semana sem uma grande surpresa.