22 de agosto de 2025
Politica

Fundação FHC prepara coleção definitiva com legado intelectual e político do ex-presidente

A Fundação Fernando Henrique Cardoso prepara o lançamento da edição definitiva da obra completa do ex-presidente. A proposta é reunir e organizar a produção intelectual e política de FHC, contextualizando escritos e discursos. O primeiro volume deve sair no próximo ano, acompanhado de um texto de apresentação da coleção. Ao longo dos anos, novos livros serão publicados, até alcançar os cerca de 150 volumes previstos.

Sociólogo e professor, Fernando Henrique, que completou 94 anos em junho, foi senador, constituinte, chanceler, ministro da Fazenda e ocupou por oito anos a Presidência da República entre 1995 e 2003.

O presidente do conselho curador da fundação, Celso Lafer, esclarece que o projeto terá uma dimensão histórica, e que a publicação de todos os volumes poderá levar décadas. Algo semelhante já foi feito no País com a obra completa de Rui Barbosa, organizada pela Fundação Casa de Rui Barbosa num esforço contínuo iniciado nos anos de 1940, resultando na publicação de quase 140 livros e outros 20 a serem finalizados.

Fundação Fernando Henrique Cardoso pretende relançar a obra completa do ex-presidente a partir de 2026.
Fundação Fernando Henrique Cardoso pretende relançar a obra completa do ex-presidente a partir de 2026.

“A fundação tem como objetivo a multiplicidade e a atualidade do legado de FHC. No âmbito de seu legado está a sua obra. Assim, a fundação, em parceria com a família do presidente, reconheceu a necessidade de preservar e disponibilizar a sua obra por meio de uma edição crítica”, disse Lafer, que foi ministro das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços no governo FHC.

O ex-ministro contou ainda que o objetivo do projeto é contextualizar os textos e discursos de FHC, situando-os em seu tempo histórico e permitindo uma compreensão mais ampla de sua relevância no debate público e intelectual. “A obra de Fernando Henrique Cardoso vai além da trajetória de um homem público: é uma chave essencial para compreender o Brasil e seu papel no mundo.”

A proposta de reunir a obra de FHC numa edição crítica é um desejo antigo, que vem sendo discutido pela fundação desde 2014. “Agora saímos da fase das ideias e entramos na fase executiva”, conta o cientista político e escritor Jorge Caldeira, que foi escolhido pelo próprio Fernando Henrique para coordenar o projeto. Ambos são colegas na Academia Brasileira de Letras (ABL).

“(Jorge Luis) Borges, ao se candidatar a diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, disse uma frase célebre: ‘Preparei-me a vida inteira para este cargo’. De certa forma, sinto algo parecido. Conheço Fernando Henrique há 53 anos. Fui colega de escola de seu filho, Paulo Henrique, e convivo com ele desde o tempo de estudante”, conta o coordenador do projeto.

Caldeira esclarece que o próximo passo é a definição do conselho editorial, que será responsável pela definição das diretrizes. Além disso, cada volume terá um editor responsável. “É um trabalho de equipe, que exige montar um grupo de autoridade indiscutível, tecnicamente capaz de revisar tudo, acrescentar notas de referência e rodapé, corrigir, organizar e publicar de forma definitiva”, disse.

Jorge Caldeira vai coordenar os trabalhos
Jorge Caldeira vai coordenar os trabalhos

O coordenador do projeto diz que, após duas décadas do governo FHC, o legado de Fernando Henrique na Presidência deixou de ser um debate político do presente, transformando-se num objeto de reavaliação histórica. “Esse é o momento em que se revê o passado: o que foi avaliado de um jeito passa a ser visto de outro. Organizar a obra é um instrumento para isso”, conta.

Embora o roteiro de trabalho ainda não tenha sido definido, Caldeira afirma que já está pacificado que a edição crítica será estruturada em duas vertentes: atos e falas como presidente da República e a produção como intelectual.

“A Presidência funciona como uma síntese de sua obra. Quando falava como presidente, havia sempre um passado intelectual por trás, em que já tinha proposto ideias”, conta Caldeira. “Essa relação entre teoria e prática ainda não foi devidamente estudada. É isso que agora precisamos avaliar historicamente”, acrescenta.

Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República por dois mandatos
Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República por dois mandatos

Em relação ao escopo, a proposta é reunir toda a produção de caráter público de Fernando Henrique na edição crítica, incluindo livros, artigos, discursos, aulas e outros materiais. “Provavelmente, o primeiro texto conhecido dele é uma poesia, ainda estudante, publicada na revista Dos Novíssimos. Ele estreou ali, em 1941, junto com Augusto e Haroldo de Campos e Boris Fausto”.

Todo o material será distribuído em bibliotecas públicas e disponibilizado gratuitamente na internet. Para viabilizar o projeto, a Fundação FHC está levantando fundos, o que também influencia o ritmo de publicação das edições. Uma das propostas é que o primeiro volume reúna discursos de Fernando Henrique no período em que foi senador, de 1987 a 1993. Como o conselho editorial ainda não foi definido, no entanto, essa ideia ainda não está confirmada.

 

 

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