Novo presidente do Coaf pede mutirão para analisar movimentações suspeitas de Bets e bancos no País
O novo presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Ricardo Saadi, afirmou que a agência tem apenas nove funcionários para tratar das 7,5 milhões de comunicações de movimentações financeiras suspeitas informadas por instituições financeiras e bets no País. Saadi pediu socorro à Secretaria Nacional de Segurança Pública em Busca de um mutirão para lidar com o atraso da análise dos dados. E deve receber reforços também dos bancos para tratar de casos que esperam até 5 anos para serem analisados.
O sucateamento do Coaf estaria ainda presente no sistema tecnológico do órgão que é de 1999. De acordo com Saadi, um novo sistema substituirá o antigo. O anúncio foi feito nesta sexta-feira, 22, em evento sobre o papel do Coaf no combate ao crime organizado, realizado na Faculdade de Direito de São Paulo.

De acordo com Saadi, só 3% das comunicações feitas pelos bancos ao Coaf são transformados em comunicações de suspeitas de crimes enviadas às policias e Ministérios Públicos do País. “As outras 97% não comunicamos automaticamente, mas podem ser acessadas pelas autoridades a pedido. Aí o Coaf vai passar.”
Ao todo, o Coaf tem 100 pessoas para exercer todas as funções sob sua responsabilidade, como a representação no Grupo de ação Financeira Internacional (Gafi), além do monitoramento do mercado de alto luxo. “Quem estava no Coaf fazia um trabalho hercúleo. Mesmo sem estrutura, o Coaf conseguia estar presente em 90% das grandes investigações de combate ao crime organizado no País”, disse Saadi.
De acordo com ele, em razão do baixo número de funcionários, o Coaf passou a ter um estoque de comunicações que deixaram de ser tempestivas, e que demoraram de 3 a 5 anos para serem feitas, com prejuízos para o controle da lavagem de recursos ilícitos no País.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Roberto Costa, criticou a presença de apenas nove agentes para lidar com os relatórios de inteligência financeira no Coaf. “É muito pouco. O Brasil não é um narcoestado, mas convive com relações mafiosas,” afirmou Costa. De acordo com ele, o crime organizado hoje tem bancos, com o uso de instituições de pagamentos, as Fintechs.
No mesmo sentido, o desembargador Nino Toldo, do Tribunal Regional Federal da 3a Região, afirmou que “é de dar vergonha” a situação do Coaf. “não é possível que nove pessoas tenham de lidar com 7,5 milhões de informações. O que chega hoje para a Justiça é só uma gota.” Segundo ele, há casos em que o crime organizado obriga fazendeiros a vender seus produtos para usinas de álcool de uma organização criminosa.
“Se pretendem combater o crime organizado é preciso investir para combater a infiltração de agentes do crime organizado na estrutura do Estado.”
O desembargador criticou a resistência de governadores em permitir a criação de uma estrutura federal que coordene nacionalmente o crime organizado, uma vez que este fenômeno não é mais estadual. “A PEC da segurança pública tem de vincular os Estados para que esse combate possa ser feito de forma eficaz.”