26 de agosto de 2025
Politica

Tarcísio muda discurso interno, admite disputar o Planalto e se prepara para dois cenários em 2026

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desenhou uma estratégia para manter abertas duas opções em 2026: a reeleição no Estado ou uma candidatura à Presidência. Para isso, já conversa com marqueteiros, promove mudanças na comunicação e calibra seu discurso para se projetar além do Estado.

A preparação antecipada busca evitar que Tarcísio parta do zero em uma eventual disputa presidencial. A ideia é chegar ao momento da decisão já com discurso, equipe e articulação política minimamente estruturados para dar sustentação ao voo nacional. Se decidir mesmo disputar o Planalto, ele precisa obrigatoriamente deixar o governo de São Paulo em abril.

Antes categórico ao descartar a Presidência, Tarcísio mudou o tom e passou a admitir a hipótese diante de aliados, ainda que faça questão de frisar que sua preferência é permanecer em São Paulo, onde acredita ter uma reeleição tranquila. O governador reitera que qualquer movimento dependerá de um pedido expresso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem afirma ser leal.

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é cotado para a Presidência em 2026
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é cotado para a Presidência em 2026

Emissários do governador procuraram, de maneira informal, alguns marqueteiros, como Chico Mendez e Paulo Vasconcelos, para discutir o cenário eleitoral, mas as conversas não evoluíram para algo mais concreto. Segundo fontes do Palácio dos Bandeirantes, o governador também tem mantido conversas com a equipe de Pablo Nobel, responsável pela campanha vitoriosa em 2022. Aliados afirmam que a tendência é que Tarcísio reedite a parceria. Procurado, Nobel não quis comentar.

O governo de São Paulo se manifestou por meio de nota. “Não há emissários responsáveis por montar equipes do governador. Essa decisão é exclusiva de Tarcísio de Freitas, que é quem dialoga e escolhe sua equipe”, infirmou a assessoria do governador.

A indefinição sobre o futuro já se reflete na agenda de Tarcísio. Enquanto intensifica viagens ao interior de São Paulo para inaugurar obras e anunciar recursos a municípios, inclusive aos finais de semana, o governador também marca presença em eventos do mercado financeiro e mantém encontros reservados com empresários. Nessas conversas, expõe sua visão sobre os desafios do Brasil, defende medidas para alavancar o crescimento econômico do País e critica o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Palácio dos Bandeirantes disse que Tarcísio mantém diálogo com os diferentes setores da sociedade, “incluindo empresariado e representantes do mercado financeiro, sendo convidado e participando de encontros, reuniões e eventos desde o primeiro dia de gestão”.

O Executivo afirmou ainda que a Caravana 3D, iniciativa pela qual Tarcísio percorre o interior, foi idealizada no final de 2024 para percorrer todas as regiões do Estado com foco “nos três pilares da gestão: desenvolvimento, dignidade e diálogo”.

“A iniciativa busca fortalecer a articulação com os municípios, garantindo entregas e investimentos alinhados às necessidades regionais e que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população”, disse o Bandeirantes.

Nas conversas que tem mantido com agentes do mercado financeiro e empresários, o governador tem colocado sua posição sobre os desafios do País e criticado o governo Lula
Nas conversas que tem mantido com agentes do mercado financeiro e empresários, o governador tem colocado sua posição sobre os desafios do País e criticado o governo Lula

Em paralelo, o governador busca dar uma guinada na comunicação para explorar melhor as marcas da sua gestão e se projetar como uma liderança nacional. A inflexão já aparece nos discursos mais recentes, agora mais duros contra o governo federal e embalados no antipetismo.

Na semana passada, durante fórum com governadores promovido pelo Banco BTG Pactual, Tarcísio disse que “o Brasil não aguenta mais Lula”.

“Nós estamos há 40 anos discutindo a mesma pessoa. O Brasil não aguenta mais excesso de gasto. O Brasil não aguenta mais, não tolera mais aumento de imposto. O Brasil não aguenta mais corrupção. O Brasil não aguenta mais o PT. O Brasil não aguenta mais o Lula”, afirmou Tarcísio. “É preciso falar dessa safra de governadores. Nós não precisamos mais da mentalidade atrasada, da mentalidade de 20 anos atrás.”

O tom contrasta com o do início da gestão, quando dizia ser o governador de oposição que todos queriam ter justamente por evitar críticas.

A preparação de Tarcísio para uma eventual disputa nacional exige uma articulação cuidadosa: o governador e seus aliados têm o desafio de se estruturar sem dar a impressão de que Tarcísio já está pronto para entrar em campo, o que poderia irritar a base bolsonarista. Mensagens extraídas do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, tornadas públicas no dia 20 de agosto, mostram Eduardo Bolsonaro (PL-SP) incomodado com a possibilidade de Tarcísio suceder o pai.

Num jantar oferecido pelo presidente do União Brasil, Antônio Rueda, um dia antes da divulgação das mensagens do celular de Bolsonaro, Tarcísio não abordou uma eventual candidatura a presidente e fez discurso voltado a manifestar solidariedade a Bolsonaro e analisar as perspectivas econômicas do Brasil.

Pressão por candidatura presidencial cresce

A pressão para que Tarcísio seja candidato à Presidência tem aumentado, e lideranças do Centrão avaliam que será difícil o governador não ceder. Como mostrou o Estadão, a leitura de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro é de que as mensagens obtidas pela Polícia Federal fortalecem o chefe do Executivo paulista e enfraquecem o argumento de que o ex-presidente deseja emplacar alguém de sua família como seu sucessor político.

O entendimento majoritário é que os diálogos mostram que o governador paulista tem o respaldo total de Bolsonaro para ser candidato – algo que, segundo um deputado federal que foi um dos primeiros apoiadores de Tarcísio em São Paulo, já era de conhecimento do círculo de aliados mais próximos, mas não podia ser publicizado para não enfraquecer o ex-presidente diante do processo da tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal (STF).

Um aliado próximo do governador pondera, no entanto, que Tarcísio só entraria na disputa com todos os astros alinhados. Isto é: apoio dos principais partidos da centro-direita e da direita, respaldo explícito de Bolsonaro e bolsonarismo pacificado.

Além disso, a candidatura dependerá da avaliação da gestão Lula. Pessoas próximas lembram que enfrentar o petista não será tarefa simples, que Lula “sabe ganhar eleição”, e que não faz parte do perfil de Tarcísio arriscar em um ambiente de muita incerteza.

 

 

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