Coronel do 8/1 corre risco de voltar para prisão por descumprir ordem de Moraes; saiba por quê
BRASÍLIA – Acusado de omissão nos ataques de 8 de Janeiro, o coronel Jorge Eduardo Naime, da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal, corre o risco de voltar a ser preso. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu que a Procuradoria Geral da República se manifeste em cinco dias sobre a suspeita de que o oficial da PMDF teria violado decisão judicial que o impedia de usar redes sociais.
Jorge Naime era chefe do Departamento de Operações da PMDF. Ele ficou preso por um ano e dois meses, até ganhar a liberdade em maio de 2024. Ao liberá-lo, Moraes determinou o uso de tornozeleira eletrônica, restrição de horários de circulação e proibição de uso de redes sociais, entre outras medidas cautelares.
A mulher do coronel da reserva participou de entrevistas em canais bolsonaristas na semana passada. Durante sua participação, Mariana Naime disse consultar um “assessor” por pelo menos três vezes. Ela estava em casa.

As consultas feitas por Mariana durante as entrevistas concedidas por videoconferência levaram a Federação Nacional de Entidades de Praças Militares Estaduais (Fenepe) a pedir ao ministro do STF a prisão preventiva do coronel por descumprimento das medidas cautelares.
No último sábado, 23, Moraes pediu uma manifestação da Procuradoria-Geral da República. Para a Fenepe, não há dúvidas de que Naime usou a mulher para falar às redes sociais.
Procurada pela reportagem para informar o nome do assessor e quais serviços ele presta, Mariana não comentou. A defesa de Jorge Naime também não se manifestou sobre o pedido de prisão.
Para a federação de praças, as entrevistas concedidas pela mulher do réu são um “subterfúgio” para Jorge Naime “fraudar a eficácia da ordem judicial”. A entidade pediu aplicação do mesmo entendimento citado por Moraes na decisão que determinou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando o ministro barrou “a instrumentalização de entrevistas”.
A mulher do réu falou, na semana passada, aos canais Auriverde Brasil e Timeline. Ambos funcionam como porta-vozes de bolsonaristas. Marina, que disse estar na própria casa, usou os programas para reproduzir o que seriam diálogos do coronel Jorge Naime com Ricardo Cappelli, que atuou como interventor na segurança pública do DF a partir do 8 de Janeiro.
Um dos entrevistadores do Timeline era o blogueiro foragido Allan dos Santos. Ele é alvo de uma série de inquéritos que tramitam no STF e tratam, por exemplo, de organização criminosa, lavagem de dinheiro, atos antidemocráticos e milícia digital.
Na entrevista, a mulher trata do que chama de “ápice da crise”, discorre sobre o plano de ação elaborado para o 8 de Janeiro e apresenta opiniões sobre o planejamento das forças de segurança. Ao tentar descrever uma cena, Mariana, que não é policial, estala os dedos, chama uma pessoa e diz “me ajuda a lembrar”.
Ao canal Auriverde, ela interrompeu um raciocínio, reclinou-se para enxergar algo fora do enquadramento da câmera e comentou, aos risos: “meu assessor está aqui falando comigo”. Em seguida, prosseguiu com o que seria a continuação de uma diálogo entre Naime e Cappelli.
Mais tarde, ela se perdeu em um raciocínio e desviou o olhar lateralmente. Após instantes de silêncio, disse: “Ah, tá. O Na…Eu tô aqui…”. E segue com o relato de outra situação que teria sido vivenciada pelo coronel durante o ataques aos prédios dos Três Poderes.

Depois da participação de Mariana Naime, Allan dos Santos usou as manifestações dela para fazer ataques ao STF. Disse que se a entrevista concedida por ela “aparecesse para um terço da população”, ninguém mais ia querer “processo burocrático para tirar Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Lula”. Segundo o blogueiro, “eles sairiam com chute na bunda”.
“Nós não temos mais tribunais superiores no Brasil, não temos. Temos narcotraficantes, terroristas e criminosos. E viado. O que falta é o povo saber disso”, afirmou.
PGR acusa coronel de omissão proposital
Para a PGR, Naime usou uma “estratégia deliberada de afastamento” da crise, o que reforça a conivência implícita com as ações violentas que se aproximavam”.
Também apontou “omissões verificadas ainda no ano de 2022″ e que o militar “colocou-se em campo na véspera dos eventos”, mas optou pela omissão.
“Essa desconexão com a missão foi uma forma de minimizar a responsabilidade, criando um disfarce com a distância física dos eventos, enquanto o caos se instaura”, destaca a PGR.
Além de Naime, mais seis ex-integrantes da cúpula da PM distrital são réus por suposta relação com o 8 de Janeiro. O STF já pautou e retirou de pauta o julgamento deles, ainda sem nova data para ocorrer.
A Fenepe é presidida pelo ex-policial militar cabo Carlos Vitor Fernandes Vitório. Em janeiro, ele se acorrentou na grade do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do DF para o que dizia ser um protesto por mais atenção à saúde mental dos policiais.