Ministro Jobim recomenda a Lula que procure abrir o diálogo com Trump; diplomacia vê caminho longo
O Brasil deve estar preparado para um longo contencioso com os Estados Unidos, em torno das tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump. O Estadão conversou com duas graduadas fontes da diplomacia brasileira em Washington que pediram anonimato para não incrementar o clima de desconfiança entre os dois países. Ninguém arrisca dizer se, e quando, Trump pode mudar. Inclusive porque o presidente americano não fala e nem recebe autoridades brasileiras.
Há poucos dias, ele voltou a criticar o Brasil dizendo que o País é “um dos piores parceiros comerciais dos Estados Unidos”. Trump quer que Lula vá até seu encontro, mas terá que “esperar sentado”, brinca uma fonte, diante da falta de disposição do presidente brasileiro em ir até Washington.

Será que Lula está certo? No mesmo dia em que o governo brasileiro anunciou a contratação de um escritório americano de advocacia para tentar reverter as sanções comerciais contra o País, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro da Defesa Nelson Jobim afirmou que Lula está equivocado. Falando para uma plateia de políticos, empresários e agentes do mercado financeiro, Jobim mandou um recado ao presidente:
“Ele (Lula) tem que ir e fazer contato. Pode estar sujeito a humilhação como outros que já foram? Pode. Mas faz parte da política resolver problemas. Lula avisou que não tinha sido avisado das tarifas…Ah…. esquece isso…Estamos sujeitos a essa humilhação”, disse no III Seminário Brasil Hoje, do grupo Esfera.
“O Império nos controla”, completou, lembrando de outra velha lição da política: não se escolhe o interlocutor. Disse que, com sua experiência no STF, pode afirmar que as tentativas de influenciar e até inocentar Bolsonaro têm efeito exatamente contrário. Mais ou menos com se fosse um bumerangue. Também alfinetou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que anunciou uma conversa com seu similar americano – antes que acontecesse – e o papo desandou.
Em Washington, uma dessas fontes confessou que a diplomacia brasileira não está preparada para esse tipo de desavença porque, nas palavras dos servidores do Itamaraty, “foge completamente à civilidade, às boas práticas e às relações entre os países”. Eles lembram que Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação diplomática de 200 anos amistosa e mutuamente benéfica.
Jobim, um dos mais experientes juristas e políticos brasileiros, foi aplaudido de pé pela plateia do seminário, realizado em um hotel de São Paulo. Poucos o foram com tanto entusiasmo. E olha que não faltaram ao encontro governadores, ministros, economistas e até a possível estrela futura da eleição de 2026 pela oposição, o governador de São Paulo, Tarcício de Freitas, que em alguns momentos fazia discurso de candidato e em outros negava que se candidataria à presidência da República.
O Itamaraty contava com a premissa de que essa negociação seria de ambos os países. Uma agenda positiva, pragmática, voltada para o comércio, investimentos e cooperação com certas áreas. O governo brasileiro foi completamente surpreendido pela carta de Trump. Desde a transição entre o democrata Joe Biden, que perdeu a eleição no ano passado, e o republicano Trump, o Brasil vinha trabalhando em sintonia com os Estados Unidos. O trabalho teria avançado bem. Mas Trump, ao assumir, teria deixado tudo de lado.
“O Império nos controla” faz lembrar de “Star Wars”, a genial franquia de George Lucas. Dentre todos os títulos, ficaria com o Império contra-ataca. Trump, claramente, está do “lado sombrio da força”. Eu, se me permitem, queria ficar com o Mestre Yoda.