28 de agosto de 2025
Politica

Lula lê carta de Getúlio Vargas a ministros; saiba qual

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) leu uma carta do ex-presidente Getúlio Vargas durante a reunião ministerial desta terça-feira, 26, segundo pessoas presentes no encontro. O texto, de julho de 1950, é tido como uma “premonição” de Getúlio quanto ao destino do governo iniciado em 1951.

Ao mesmo tempo em que expressou confiança na vitória no pleito presidencial, marcado para dali a três meses, Vargas afirmou que não chegaria ao fim do mandato. No texto, ele diz não saber até que ponto seus “nervos poderão aguentar”. As previsões confirmaram-se. Vargas venceu a eleição de outubro de 1950, reassumindo a Presidência em janeiro de 1951. Em agosto de 1954, sob forte pressão política, suicidou-se.

“Conheço meu povo e tenho confiança nele. Tenho plena certeza de que serei eleito, mas sei também que, pela segunda vez, não chegarei ao fim de meu governo”, disse Vargas ao jornal Folha da Noite, em declaração ao jornalista e professor Miguel Costa Filho, filho do general Miguel Costa.

O ex-presidente Getúlio Vargas 'previu' destino de seu mandato presidencial em julho de 1950
O ex-presidente Getúlio Vargas ‘previu’ destino de seu mandato presidencial em julho de 1950

Segundo Miguel Costa Filho, o encontro com Vargas trataria sobre a recusa de seu pai para uma candidatura ao Senado pelo PTB. “Meu pai declinara do convite e me pedira (que) transmitisse ao sr. Getúlio Vargas seu agradecimento pessoal”, relatou o jornalista em agosto de 1954 para o Folha da Noite. O então candidato a presidente e Costa Filho conversaram na Fazenda do Itu, uma das propriedades rurais de Getúlio.

Ao jornalista, Vargas disse que, se eleito, priorizaria a conquista da “independência econômica” do País, mas expressou preocupação com o que chamou de “exploração das forças internacionais”, que se uniriam aos seus opositores para depô-lo.

“O Brasil ainda não conquistou sua independência econômica e, nesse sentido, farei tudo para consegui-lo. Cuidarei de valorizar o café, de resolver o problema da eletricidade e, sobretudo, de atacar a exploração das forças internacionais”, disse Vargas. “Eles, os grupos internacionais, não me atacarão de frente, porque não se arriscam a ferir os sentimentos de honra e civismo de nosso povo. Usarão outra tática, mais eficaz. Unir-se-ão com os descontentes daqui de dentro, os eternos inimigos do povo humilde, os que não desejam a valorização do homem assalariado, nem as leis trabalhistas, menos ainda a legislação sobre os lucros extraordinários”.

Getúlio governou sob forte pressão de opositores. Entre as denúncias de corrupção que miravam o Catete, houve até uma tentativa de impeachment do presidente, na primeira vez que o dispositivo seria acionado na história do País.

Em agosto de 1954, a crise política foi agravada pela tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, principal voz na oposição a Vargas. O crime vitimou o major Rubem Vaz, da Aeronáutica. As investigações apontaram para o envolvimento da guarda presidencial no atentado. Sob forte pressão política, Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954.

“Confesso que, naquele tempo, não liguei muita importância às palavras do Sr. Getúlio Vargas. Considerei-as simplesmente demagógicas, talvez uma inteligente propaganda eleitoral”, relatou Miguel Costa Filho. O jornalista contou que, após o suicídio de Vargas, passou a conferir outro significado ao depoimento do líder político em julho de 1950.

Leia a íntegra da carta de Vargas, lida por Lula a ministros

Conheço meu povo e tenho confiança nele. Tenho plena certeza de que serei eleito, mas sei também que, pela segunda vez, não chegarei ao fim de meu governo. Os meus inimigos, que na realidade são mais inimigos do povo e da liberdade do que meus próprios, acusam-me de inúmeras coisas. Não lhes faço caso, porque tenho a consciência tranquila. Tenho 67 anos de idade e pouco me resta de vida. Quero consagrar esse tempo ao serviço do povo e do Brasil. Quero, ao morrer, deixar um nome digno e respeitado. Não me interessa nem me agrada levar para o túmulo uma renegada memória. Procurarei, por isso mesmo, desmanchar alguns erros de minha administração e empenhar-me-ei a fundo em fazer um governo eminentemente nacionalista. O Brasil ainda não conquistou sua independência econômica e, nesse sentido, farei tudo para consegui-lo.

Cuidarei de valorizar o café, de resolver o problema da eletricidade e, sobretudo, de atacar a exploração das forças internacionais. Elas poderão, ainda, arrancar-nos alguma coisa, mas com muita dificuldade. Por isso mesmo serei combatido sem tréguas. Eles, os grupos internacionais, não me atacarão de frente, porque não se arriscam a ferir os sentimentos de honra e civismo de nosso povo. Usarão outra tática, mais eficaz. Unir-se-ão com os descontentes daqui de dentro, os eternos inimigos do povo humilde, os que não desejam a valorização do homem assalariado, nem as leis trabalhistas, menos ainda a legislação sobre os lucros extraordinários. Subvencionarão brasileiros inescrupulosos, seduzirão ingênuos e inocentes. E em nome de um falso idealismo e de uma falsa moralização, dizendo atacar sórdido ambiente corrupto, que eles mesmos, de longa data, vem criando, procurarão, atingindo minha pessoa e o meu governo, evitar a libertação nacional e prejudicar a organização do nosso Povo. Terei que lutar. Até onde resistirei? Se não me matarem, até que ponto meus nervos poderão aguentar? Uma coisa lhe digo: Não poderei tolerar humilhações.

 

 

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