27 de agosto de 2025
Politica

Maranhão não esclarece ao TCU suspeitas sobre empresa ligada ao governador

O governo do Maranhão ignorou um pedido do Tribunal de Contas da União (TCU) para apresentar documentos sobre duas licitações suspeitas de favorecer a construtora Vigas Engenharia, ligada à família do governador do estado, Carlos Brandão (PSB), e que turbinou contratos na atual gestão. Em uma das licitações, apenas a empresa concorreu. Na outra, nove concorrentes foram eliminadas. A investigação abrange os anos de 2022 e 2023.

Após perder o prazo de resposta, a gestão estadual negou irregularidades, mas não enviou ao TCU os detalhes dos processos de licitação investigados na Corte de Contas.

Procurado pela Coluna do Estadão, o governo maranhense não respondeu por que não apresentou os documentos solicitados pelo TCU. Em nota, disse que enviou “tudo que foi requisitado”. Leia a íntegra do comunicado ao fim da reportagem. A Vigas Engenharia não respondeu.

No fim de junho, o ministro Augusto Nardes, relator do caso, pediu a cópia integral de duas concorrências do governo, em 2022 e 2023, vencidas pela Vigas Engenharia. A companhia, sediada em Colinas (MA), cidade natal do governador, recebeu ao todo R$ 134 milhões da gestão Brandão.

Nardes concordou com pedidos da área técnica do TCU e do Ministério Público de Contas, que citou indícios de ligação da Vigas com a família do governador. Entre eles:

  • Marcus Brandão, irmão do governador, usou um e-mail da empresa para acessar um processo na Secretaria de Infraestrutura; 
  • Daniel Brandão, sobrinho do governador e presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Maranhão, já advogou para a companhia;
  • Alessandro Martins, representante da Vigas, foi fotografado com um boné da família Brandão.

O governo do Maranhão tinha até 22 de julho para responder à demanda. Oito dias depois do prazo, solicitou mais tempo, o que o relator autorizou até 14 de agosto. Nesse dia, a gestão estadual enviou uma manifestação ao TCU. Nas onze páginas, a única menção ao pedido sobre os processos de licitação foi de uma secretaria que negou conhecer o caso.

“A Comissão Setorial de Licitação manifestou que as concorrências mencionadas não foram realizadas no âmbito da Secretaria de Governo, destacando que tais processos licitatórios ocorreram sob a responsabilidade de outros órgãos ou entidades da Administração Pública”, afirmou o parecer do governo estadual encaminhado ao ministro Augusto Nardes. Em outra frente, o TCE, presidido pelo sobrinho do governador, ainda não respondeu aos questionamentos do TCU.

Governador do Maranhão, Carlos Brandão
Governador do Maranhão, Carlos Brandão

Investigação da PF também cita sobrinho do governador

Além de ser alvo do TCU por ter advogado para a Vigas Engenharia, Daniel Brandão, sobrinho do governador do Maranhão e presidente do TCE, é investigado pela Polícia Federal (PF) por suposta cobrança de propina em contratos estaduais, como mostrou o Estadão.

As suspeitas surgiram a partir do assassinato de um homem em São Luís em 2022. Na época, Daniel era secretário do governo do tio e esteve à mesa com os envolvidos no crime minutos antes dos disparos feitos pelo matador, que sempre se apresentou nos depoimentos como seu amigo. Daniel disse rejeitar tentativas de associar sua imagem a práticas ilícitas e que sofreu uma tentativa de extorsão por parte de quem agora o denuncia.

Leia a íntegra do comunicado do governo do Maranhão

“O Governo do Maranhão apresentou manifestações de tudo que foi requisitado pelo TCU. Sendo que o próprio TCU não acatou qualquer tutela de urgência (liminar) requerida. A empresa Vigas não é de propriedade do governador ou de sua família.”

 

 

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