28 de agosto de 2025
Politica

O pós-Bolsonaro e o dilema de Tarcísio

Lula diz que Tarcísio de Freitas será seu adversário em 2026. Essa – manchete média nos jornais de hoje – foi a notícia-novidade que o governo distribuiu-difundiu sobre a reunião ministerial de ontem, terça-feira, 26 de agosto. Texto fechado, empacotado. Sem aspas. Palavra passada-plantada adiante. A versão que interessa ao Planalto. O recado. Informe-se.

Tem método. A campanha-articulação para 26 deu uma acelerada nas últimas semanas. Todo mundo – o presidente da República incluído – se organizando em função do pós-Bolsonaro. Produto da proximidade do julgamento final do ex-presidente, mundo real – Jair não disputará a eleição – que se impôs a partir da experiência política objetiva que a prisão domiciliar antecipou: a de Bolsonaro isolado e cada vez mais.

O presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas lançam o edital de construção do túnel Santos - Guarujá.
O presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas lançam o edital de construção do túnel Santos – Guarujá.

A fila anda. As peças se movem. Ou: rei morto, rei posto. Ou: rei por morrer, reis postulantes vários na pista. Repita-se: a campanha-articulação para 26 se acelerou, o chamado Centrão organiza suas escolhas, e Lula não pode mais jogar o jogo do me-engana-que-eu-gosto de que será Bolsonaro o oponente no ano que vem. O pós-Bolsonaro, Jair ao limbo, está posto e Tarcísio, na vitrine. Que se lhe atire.

Tem método. Lula, ao indicar o governador de São Paulo como adversário, aumenta a superfície da vidraça de Tarcísio, nomeado “direita consentida”, e a expõe às pedradas do bolsonarismo. É o que o presidente, candidato à reeleição, explora-alimenta: o racha no vestiário da direita e a luta pela gestão-controle do espólio do mito. Lula, o sistema, escolhe o desafiante à direita – aponta a direita autorizada pelo establishment – e joga a isca. Que o bolsonarismo já estava atacando. Que atacará sem dó.

Tudo e todo mundo a se orientar em função do pós-Bolsonaro – inclusive os Bolsonaro. Eduardo, em postagem no X, é transparente a respeito, exibidas abertamente as suas angústias. “(…) quanto mais próximo do julgamento do meu pai, mais pessoas têm falado sobre substituí-lo na corrida presidencial”. É verdade. Isso, expressão do encontro com a realidade, poderia ser definido como corrida por preencher o vácuo de poder. Eduardo também corre.

“E, de maneira descarada, essas mesmas pessoas ainda dizem que é para o bem de Bolsonaro, porque o apoiam”. Todo mundo quer o bem de Bolsonaro – Eduardo, Tarcísio, Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira. (Assim como todo quer o bem da democracia e trabalha por ela – de Bolsonaro a Xandão.) A peleja é pela forma de assegurar-alcançar esse bem. A turma do tal Centrão se dirige pelas perspectivas eleitorais e vende um acordo em que, afinal, Jair – rei morto, rei posto – seria indultado pelo afilhado eleito presidente. Indultado e aposentado.

O bolsonarismo considera essa uma solução caracu – equivalente ao que se chama de “anistia light”. “Não adianta vir com o papo de ‘única solução’, porque não vamos nos submeter”. A solução bolsonarista – por Bolsonaro e nada eleitoral – é via Donald Trump.

“Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem”. Se houver necessidade… Poderia – seria mais realista – escrever “quando houver”. Quando houver: “qualquer decisão política será tomada por nós”. O deputado pretende centralizar na família – na empresa familiar que Jair constituiu no Estado – o futuro da direita; a legitimidade da direita. Quer administrar o tempo – calculado pelas necessidades da agenda de anistia ao pai – e não o fará considerando os prazos eleitorais.

“Quando houver”, será surpreendente se o substituto não for solução bolsonarista interna. Ou melhor: será surpreendente se não houver – ainda que haja Tarcísio, ou um tarcísio – uma alternativa bolsonarista raiz, dissidente daquela associada à direita oficial.

“Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento”. É explícito. Anunciar apoio a um tarcísio agora – agora e depois – será passar a bola adiante, constituir um sucessor político, donde uma liderança, uma persona com existência própria, e dar prioridade à linguagem eleitoral, que é o verbo da normalidade. Anunciar apoio agora seria se esvaziar; oferecer caminho também para que a Casa Branca identificasse alternativa palatável a Bolsonaro e largasse a mão da família.

A família não pode permitir que o “rei morto, rei posto” chegue também aos EUA. “Para que a pressa?” Os Bolsonaro entendem essa blitz antes do julgamento como “faca no pescoço de JB”; “meio de pressão eficaz” para forçá-lo “a tomar uma decisão” que o amarraria. “Quem compactua com essa nojeira pode repetir mil vezes que é pró-Bolsonaro, mas não será permitido como apoiador e muito menos como merecedor dos votos bolsonaristas”; que a família – Eduardo informa – controla, ou crê controlar. O filhote 03 baixou um decreto.

Aí está o dilema de Tarcísio de Freitas; que precisa esperar pelo ex-chefe; que precisa esperar, a rigor, o pai desautorizar as crias. Desautorizará?

O dilema de Tarcísio é mais complexo. Para o bolsonarismo, disputar a eleição presidencial para vencer – não sendo Jair Bolsonaro o candidato da direita – é ato ilegítimo, de abandono ao padrinho. Concorrer – para ganhar – seria trair. Concorrer – não para denunciar o golpe – seria chancelar o processo e negar a vigência de uma ditadura no Brasil. Eduardo quer muito – apaixonadamente – ir para esse sacrifício, ser o anticandidato; tem até reclamado de não ver seu nome medido em pesquisas de intenção de voto…

Todo mundo se projeta em decorrência do pós-Bolsonaro, sendo o pós-Bolsonaro de Eduardo Bolsonaro, claro, o legítimo.

 

 

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