Primeiro dia da Jornada do Patrimônio tem debate sobre bens imateriais e oficina de acarajé
Texto: Thaís Seixas
Fotos: Otávio Santos | Secom PMS
De um lado, o monumento da Cruz Caída. De outro, a vista para a Baía de Todos-os-Santos. Foi este cenário que abrigou as atividades da VI Jornada do Patrimônio Cultural de Salvador na tarde desta quarta-feira (27), primeiro dia do evento. A Jornada, promovida pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), acontece de forma gratuita até sexta-feira (29), em três espaços do Centro Histórico de Salvador.
A mesa que abriu a programação vespertina colocou em pauta o tema “O patrimônio dentro do patrimônio: os bens imateriais que habitam o Centro Histórico de Salvador”. Com mediação da turismóloga e gerente de Desenvolvimento Estratégico do Turismo de Salvador, Simone Costa, o encontro reuniu a presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam), Rita dos Santos; o mestre de capoeira Eduardo Carvalho Correia Filho, conhecido como Mestre Duda; e a técnica em ciências sociais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Rebecca de Luna Guidi.
Rita Santos enfatiza que o ofício da baiana de acarajé já é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, reconhecido pelo Iphan, e celebra o andamento do processo em âmbito municipal para se tornar também Patrimônio de Salvador. “O acarajé começou aqui na Bahia, no Rio de Janeiro e em Recife há uns 300 anos. Com o passar do tempo, a Bahia abraçou esse ofício, e as antigas ganhadeiras passaram a se chamar baianas de acarajé. Ser um patrimônio nacional quer dizer que todo lugar onde houver uma baiana de acarajé deve ter um plano de salvaguarda, não importa se é uma baiana nascida na Bahia ou é uma carioca como eu, que está aqui há 38 anos e é apaixonada por este estado”, diz ela.

Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a capoeira também teve espaço no debate. Mestre Duda lembrou que foi no Belvedere da Sé – espaço onde estão hoje a Cruz Caída e a sede da Abam – foi o local onde o Mestre Canjiquinha passou a difundir a capoeira para o mundo.
“Era aqui que ele, através do grupo folclórico Aberrê, fazia a divulgação de uma prática de capoeira bem diferente daquela que a gente começou a ver nos anos 1970, com o ideário de brasilidade. Era uma capoeira com muita identidade, que ele trouxe da rua para dentro do Belvedere da Sé. Hoje, a gente pode falar que a capoeira está presente em mais de 170 países, levando a língua e a cultura popular brasileira para fora”, destaca.
Centro Histórico pulsante
Para a técnica do Iphan Rebecca de Luna Guidi, é necessário compreender que todo bem imaterial tem na sua estrutura algo material, exemplo do tabuleiro e dos quitutes que compõem o ofício das baianas, considerado um patrimônio imaterial. Da mesma forma, ela destaca a presença da vida e das pessoas nos centros históricos que também são patrimônios.
“A compreensão de que os aspectos material e imaterial são dois lados de uma mesma moeda nos leva a refletir sobre uma série de questões importantes no que diz respeito aos centros históricos. E aqui em Salvador não é diferente. Pensar que o conjunto urbanístico e arquitetônico do centro e sua ambiência são importantes para entendermos o nosso passado deveria ser uma noção acompanhada da compreensão de que a população residente desse centro histórico é a guardiã dos saberes, religiosidades e práticas que dão sentido e vida a este local”, explica.

Depois da mesa de debate, o público participou da oficina de acarajé ministrada por Rita Santos, com o objetivo de ensinar o preparo do quitute e evidenciar a importância para a cultura e gastronomia brasileiras. A programação do primeiro dia foi encerrada com uma apresentação cultural.
A VI Jornada do Patrimônio Cultural de Salvador segue nesta quinta (28) e na sexta-feira (29), com atividades na sede da Vale do Dendê e no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab). Com o tema “Centro Histórico de Salvador – Quatro Décadas como Patrimônio Mundial”, o evento reúne palestras, debates, visitas guiadas e atividades artístico-culturais.

Confira a programação:
28/08 – Vale do Dendê
9h30 às 10h: Recepção
10h às 12h30: Mesa 2: Presenças e resistências no Centro Histórico de Salvador: desafios socioculturais
Palestrantes: Zenilde de Jesus Silva, Cláudia Vaz e Francisca de Paula
Mediação: Roberta Ventura
12h30 às 14h: Intervalo do almoço
14h às 17h: Vivência Circuito #Reconectar Centro Histórico (Cruzeiro de São Francisco – Estátua Castro Alves) + Bate-papo sobre o Reconectar e os monumentos da cidade no Café-Teatro Nilda Spencer (Quarteirão das Artes)
Mediação: Prof. Ubiraci Santos (Bira)
29/08 – Muncab
9h30 às 10h: Recepção
10h às 12h30: Mesa 3: Preservação do patrimônio material no Centro Histórico de Salvador: potencialidades e desafios
Palestrantes: Tânia Scofield Almeida e Nivaldo Andrade
Mediação: Rafael Dantas
12h30 às 14h: Intervalo do almoço
14h às 16h: Mesa 4: Entre memórias e um futuro presente: ressignificando o patrimônio do Centro Histórico de Salvador
Palestrante: Andrea Velame
Mediação: Jamile Coelho
16h às 17h: Visita guiada ao Muncab | Mediação: Jamile Coelho
17h às 18h: Homenagem a Clarindo Silva + Encerramento com atividade artístico-cultural