Tarcísio, cada vez mais presidenciável, à sombra do indulto a Bolsonaro
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dormiu na semana passada em cima do muro e acordou, nesta, candidato à Presidência da República. Ele ainda não anunciou que está em campanha, mas a mudança em seu discurso é perceptível.
Já na segunda-feira, Tarcísio “vestiu a skin” de presidenciável: afirmou que é preciso “discutir um projeto de Brasil”, praticamente apresentou um plano de governo – defendeu redução de ministérios, desindexação da economia e reformas – e, citando Juscelino Kubitschek, criou até slogan: crescer “40 anos em 4”.

Na terça-feira, em reunião ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a seus auxiliares que vê Tarcísio como seu rival nas eleições do ano que vem. No mesmo dia, o governador jogava futebol, num ato típico de campanha.
A semana do candidato foi coroada pela pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, que colocou Tarcísio à frente de Lula num segundo turno em 2026.O timing de Tarcísio cada vez mais presidenciável coincide com o do ex-presidente Jair Bolsonaro cada vez mais fora do jogo eleitoral.
O governador mudou de postura justamente na semana anterior ao início do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que deve condenar seu padrinho político por comandar a tentativa de golpe de Estado. Mais um movimento para comprovar o bordão de que a política não admite vácuo.
O governador, entretanto, pouco falou sobre um ponto fundamental entre as “coincidências”: se eleito presidente, Tarcísio concederia um indulto presidencial para perdoar Bolsonaro, caso este seja condenado?
Diretamente questionado sobre o assunto em uma entrevista coletiva no início de julho, o governador não disse com todas as palavras, mas sinalizou que sim: “Se for necessário, tenho certeza que qualquer candidato desse bloco de centro-direita vai dar indulto”, declarou.
Pré-candidatos do espectro citado por Tarcísio já foram mais enfáticos. Ronaldo Caiado (União), governador de Goiás, disse que, se eleito, vai “resolver esse assunto, anistiar essa situação toda”. Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, afirmou que é “totalmente favorável” ao indulto.
Lembrando que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, deixou claro que o pai apoiará não somente quem prometer indulto a ele, mas estiver disposto a “brigar com o Supremo por isso”.
Isso porque, se existir, a discussão sobre a possibilidade de indultar um ex-presidente condenado por golpe de Estado será polêmica. O jurista e professor Lenio Streck, pós-doutor em Direito, sócio do escritório Streck e Trindade Advogados, disse à Coluna que, na composição atual do Supremo Tribunal Federal (STF), o indulto não seria possível.
“No caso Daniel Silveira, o perdão foi considerado inconstitucional. O Supremo tem uma posição muito firme quanto a isso, qualquer crime que vá contra a democracia não é suscetível de indulto”, afirmou. Ele se refere à concessão do perdão pelo então presidente Jair Bolsonaro, da pena do deputado Daniel Silveira, condenado após ameaçar ministros do STF. A graça concedida foi derrubada depois pelo tribunal.
Streck ressaltou que composições e entendimentos do STF mudam. “Nunca se sabe o que vai acontecer. Na posição atual o Supremo disse que o indulto desses tipos são inconstitucionais”. Portanto, é preciso que os eleitores saibam se Tarcísio, aliado de primeira hora do ex-presidente, pretende perdoar Jair Bolsonaro. E brigar por isso.