5 de setembro de 2025
Politica

Promessa de Tarcísio a Bolsonaro é confissão de desprezo pela democracia

A temporada de Jair Bolsonaro na cadeia — caso ele venha a ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes — pode ser mais curta do que a enfrentada por Lula entre 2018 e 2019, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O atual presidente ficou 580 dias na carceragem curitibana da Polícia Federal. Já Bolsonaro, a depender do desenrolar da eleição presidencial do ano que vem, talvez não fique mais do que 450 dias detido após uma eventual condenação.

O motivo não é o tamanho da pena. A de Bolsonaro pode chegar a 46 anos, no máximo, somados os crimes. O que pode encurtar a punição ao ex-presidente é a disposição dos políticos que concorrem por seu espólio eleitoral de conceder a ele a “graça presidencial”. Ou seja, numa canetada, extinguiriam sua pena. Para isso, claro, um deles precisa ser eleito presidente. Já se comprometeram com a medida os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás. Ambos já lançaram suas pré-candidaturas ao Palácio do Planalto.

Ato na Avenida Paulista com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Tarcísio de Freitas pediu o impeachment do ministro Alexandre Moraes em setembro de 2024
Ato na Avenida Paulista com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Tarcísio de Freitas pediu o impeachment do ministro Alexandre Moraes em setembro de 2024

Em entrevista publicada na sexta-feira, 29, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, disse que faria o mesmo – e sem demora. Ele eliminaria a pena do seu padrinho “na hora, no primeiro ato”. Tarcísio deu a entender que estava falando em tese, pois insistiu que não pretende disputar a Presidência. Que seja. Caso mude de ideia e ceda às pressões do Centrão e da Faria Lima para ocupar o vácuo eleitoral deixado por um Bolsonaro inelegível, será instado a cumprir com sua palavra pela família do ex-presidente e por seu séquito de seguidores.

A promessa de Tarcísio é uma confissão de desprezo pela democracia. Na mesma entrevista, em concessão aos revisionistas da história, ele chamou o golpe militar de 1964 de “movimento”. O governador já foi mais consistente em sua defesa das instituições do Estado. Após a votação do segundo turno da eleição de 2022, em que Lula, para a presidência, e ele, para o governo de São Paulo, saíram vitoriosos, afirmou sem tergiversar que o “resultado das urnas é soberano”. Não resvalou para a aceitação seletiva da vontade dos eleitores — como fizeram muitos de seus colegas bolsonaristas, inclusive seu padrinho, que comemoraram as conquistas de seu grupo político e de aliados no Congresso e nos Estados (incluindo a do próprio Tarcísio), mas negaram a derrota para a Presidência, aventando fraude eleitoral e outras vitimizações.

Vencedor, Tarcísio conseguiu se afastar, naquele momento, da atitude dos maus perdedores. A promessa de agraciar com impunidade o aliado acusado de planejar a destruição da democracia, antes mesmo da sua condenação, sob o argumento de que não acredita na Justiça, atribui ares de oportunismo à sua defesa pregressa das instituições. Antes era conveniente conferir legitimidade ao sistema. Agora, aparentemente, não mais.

E por que não? Talvez por que Tarcísio esteja convencido de que precisa dos votos dos bolsonaristas mais empedernidos, para os quais lealdade é tudo. Mas eles só são realmente imprescindíveis se o governador tiver planos de se lançar à presidência, em que as opções à direita se avolumam. A disputa para a reeleição em São Paulo, a julgar pelas últimas pesquisas de intenção de voto, tem tudo para ser um passeio no parque.

Ou seja, a afirmação de Tarcísio de que a primeira coisa que faria caso se tornasse presidente seria conceder indulto a Bolsonaro não é apenas uma confissão de desprezo pelas instituições democráticas. É também uma confissão de que pretende disputar a Presidência.

 

 

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