2 de setembro de 2025
Politica

O que há em comum entre os Tarcísios de Lula e de Eduardo Bolsonaro

Lula disse, na sexta, que Tarcísio de Freitas é nada sem Jair. Em entrevista à Itatiaia, tratou o governador de São Paulo como boneco do ex-chefe, que “vai fazer o que Bolsonaro quiser”. O presidente torce para que assim seja. Não é apenas torcida. Também caracterização do oponente.

É o sonho de Eduardo Bolsonaro – que Tarcísio vire cavalo e seja, incorpore, o que os Bolsonaro quiserem. Sonhar custa nada. Desconfiar tampouco, já que o chamado centrão prepara a sela do cavalo que se oferecerá à montaria de Tarcísio. Ele vai?

O bolsonarismo não confia. Eduardo tem certeza. Certeza de que Tarcísio vai. Certeza também de que Tarcísio nada será sem – mais que Bolsonaro – o bolsonarismo. Por via das dúvidas, trabalha para que Trump não perceba que existe alternativa à família. Todos – adversários, aliados, filhos – se organizando em função do pós-Bolsonaro. Jair, afinal, não disputará a eleição no ano que vem.

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e possível candidato a presidente da República
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e possível candidato a presidente da República

Mais cedo na semana passada, Lula estabelecera Tarcísio como o seu rival em 2026. Preferiria enfrentar um Bolsonaro. Sabe que a chance é pequena. Pau, pois, no governador. Tudo articulado. A constituição do oponente – a consagração da “direita permitida” – como movimento pensado para alimentar os ataques bolsonaristas contra o “novo PSDB”.

Lula surfou a onda; investiu na ampliação da superfície da vidraça de Tarcísio, mesmo estando ele quietinho. Quase quietinho. O homem, o escolhido do sistema, direita autorizada por Lula, apanhando de todo o lado, mesmo sem ter colocado o queixo para soco. O presidente escolhe o adversário e expõe o “tucano” ao bolsonarismo. Deixa o vestiário rachar ainda mais. Depois, classifica o escolhido como fraco, dependente de Bolsonaro – e torce para que ele resolva provar a própria independência.

Eduardo se escolhe como o desafiante de Lula. Seria forma de enfrentar o “direcionamento para apagar a família Bolsonaro do cenário político.” Só o seu pós-Bolsonaro, puro-sangue, é legítimo. E ele está disposto a enfrentar o comando do pai ingrato; que errou demais e continua errando – é o que se lê em seus movimentos desde os EUA. Não teria dificuldade em abrir, encarnar, uma dissidência.

“Se o meu pai não puder se candidatar, eu gostaria de ser o candidato. Se Tarcísio vier para o PL, não terei espaço” – falou ao Metrópoles. Mudaria de partido. Faria esse sacrifício pela causa. Assumiria uma anticandidatura… Para denunciar a ditadura. Para minar Tarcísio. Para manter o controle sobre o bolsonarismo. Perder – e conservar a liderança. A eleição, como expressão de normalidade, é perigo para o bolsonarismo. Eleição – com vitória de Tarcísio – é virada de página; é Bolsonaro encostado; é família fora do jogo.

Bolsonaro encostado, com sorte indultado, talvez seja desfecho inevitável. Família fora do jogo, jamais. Rei morto, rei posto. Eduardo está propondo a superação bolsonarista de Bolsonaro. O pós-Bolsonaro permitido.

 

 

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