O risco de Bolsonaro tornar Tarcísio um ‘não governador’ se anunciá-lo como sucessor ao Planalto
Integrantes do Centrão e do PL pressionam Jair Bolsonaro a anunciar Tarcísio de Freitas (Republicanos) como seu sucessor na corrida presidencial logo após terminar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) em que, profetizam, o ex-presidente será inevitavelmente condenado. Esse movimento, no entanto, preocupa aliados do governador de São Paulo por dois motivos. O primeiro é que ele se tornaria um “não governador”, ou seja, perderia a credibilidade para conduzir ao Estado já que seria visto, desde já, como alguém de olho no Planalto apenas. O segundo é que viraria “vidraça” na arena política.
O temor de um anúncio público agora é grande não só porque o governo Lula apontaria toda sua artilharia para o governador, mas também por causa do “fogo amigo”. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo, resistem à candidatura de Tarcísio e estão prontos para sabotá-la.
Um correligionário de Tarcísio disse à Coluna do Estadão, sob reserva, que o melhor para o governador é atuar nos bastidores agora, com a construção de alianças para disputar o Palácio do Planalto em 2026, sem ser ungido oficialmente por Bolsonaro. Afinal, o governador tem até abril do ano que vem para deixar o Palácio dos Bandeirantes, caso escolha concorrer à Presidência.
A articulação do Centrão por Tarcísio cresceu nas últimas semanas. Como mostrou a Coluna, os partidos de direita perderam o “medo” de Bolsonaro e decidiram agir para emparedar a família e dar as cartas no jogo eleitoral de 2026. Em jantar realizado na casa do presidente do União Brasil, Antonio de Rueda, na semana passada, após a convenção que formalizou a federação entre PP e União, o governador foi a “estrela”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou o alerta e afirmou, durante reunião ministerial, que Tarcísio será seu adversário ano que vem. O PT, por sua vez, convocou a “tropa de choque” dos partidos de esquerda para unir esse campo político, discutir estratégias eleitorais e blindar a imagem de Lula.
Da parte palaciana, a tendência é o presidente Lula “chamar Tarcísio para a briga”, cada vez mais. Com base nas pesquisas mais recentes de intenção de voto para 2026, estrategistas do PT estão convencidos de que o bolsonarismo causa mais rejeição que o petismo já provocou. Logo, a ideia é colar a imagem do governador de São Paulo a Bolsonaro, preferencialmente tentando relacioná-lo à ala mais radical da direita bolsonarista.
Tarcísio sabe que precisa dos votos bolsonaristas, entretanto já percebeu que é a imagem de equilíbrio que pode atrair a parcela do eleitorado que não se agrada de Lula nem de Bolsonaro.
Em paralelo a tudo isso, vale lembrar que a direita tem outros postulantes ao Planalto. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), já apresentou sua pré-candidatura. O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), também. O PSD apresenta o nome do governador do Paraná, Ratinho Júnior, para a corrida presidencial.
Há quem defenda no grupo que “quantos mais candidaturas melhor” para garantir o segundo turno desde já. Outros, entretanto, acreditam na possibilidade de unir todos em torno de Tarcísio.
