Tarcísio decide ir a Brasília onde deve ter reunião sobre anistia a Bolsonaro em dia de julgamento
O governador de de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mudou o plano inicial e vai a Brasília nesta terça-feira, 2, onde deve ter reuniões sobre o avanço da proposta de anistia a Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional. O governador pretendia acompanhar os primeiros dias do julgamento do ex-presidente em São Paulo.
Pela manhã, Tarcísio se encontrou com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira. O Estadão apurou com duas fontes que eles conversaram durante a reunião com Hugo Motta (Republicanos-PB).
Segundo um interlocutor, o presidente da Câmara ligou para Pereira para tratar de outro assunto. Em seguida, o presidente do Republicanos passou o telefone para Tarcísio falar com Motta.
“Café da manhã com o nosso governador Tarcísio de Freitas. No cardápio do dia: anistia”, escreveu Marcos Pereira nas redes sociais sobre a reunião
De acordo com um aliado do governador, um encontro entre ele e Motta em Brasília pode acontecer, mas ainda não está marcado. A assessoria do presidente da Câmara não respondeu se há possibilidade deles se reunirem.
Até o início da tarde, estava previsto que Tarcísio teria apenas reuniões internas na terça e quarta-feira no Palácio dos Bandeirantes, parte delas também para articular a anistia.
Conforme interlocutores, Tarcísio quer aproveitar o momento para se encontrar com líderes políticos e debater a possibilidade da aprovação da anistia no Congresso Nacional, medida que beneficiaria Bolsonaro ao poupá-lo dos efeitos de uma eventual condenação na ação da tentativa de golpe.
A agenda oficial do governador é divulgada na íntegra apenas no início de cada dia e pode sofrer alterações. Tarcísio havia dito publicamente na semana passada que não iria a capital federal durante o julgamento de Bolsonaro. O planejamento era seguir a tônica dessa segunda-feira, quando realizou seis reuniões internas com secretários e deputados estaduais no Palácio dos Bandeirantes.
O governador, cotado para suceder o ex-presidente nas urnas, tem redobrado os gestos e movimentos para mostrar que trabalha pela aprovação da anistia. Ele tem sido alvo de críticas da ala mais radical do bolsonarismo, liderada por Eduardo Bolsonaro (PL), pelo que o grupo considera falta de empenho dele com a pauta.
Na semana passada, ele também foi criticado por bolsonaristas por ter jogado futebol com prefeitos em meio ao momento judicial delicado de Bolsonaro e outros aliados, como o pastor Silas Malafaia.
Nas últimas semanas, à medida em que o julgamento se aproximava, Tarcísio passou a dizer que a anistia é um “remédio político” para a pacificação do País e que há precedentes na história do Brasil. Em outro gesto, ele chegou a subir ao palco de um evento em Barretos (SP) com um boneco de Bolsonaro nas mãos e dizer que o tempo trará justiça ao ex-presidente.
“A gente vai trabalhar para que uma anistia seja construída no Congresso Nacional. A gente tem falado com os partidos e eu acredito muito nessa saída política”, disse Tarcísio na sexta-feira, 29, em entrevista ao Diário do Grande ABC. Sem citar diretamente Motta, Tarcísio também cobrou que o presidente da Câmara dos Deputados paute a anistia.
Em mensagens reveladas pela Polícia Federal, Eduardo Bolsonaro conversa com o pai e ironiza a atuação de Tarcísio junto ao STF para que a anistia avance. “Está de braço cruzado vendo vc se f…. e se aquecendo para 2026”, escreveu o filho do ex-presidente em julho.
Como mostrou o Estadão, participantes de um jantar na semana passada oferecido pelo presidente do União Brasil, Antônio Rueda, se animaram com uma declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.
Em uma palestra no Mato Grosso, o ministro disse que após o julgamento, a anistia passa a ser uma questão política que será definida pelo Congresso. A avaliação no jantar foi de que a declaração é um sinal que o STF estaria disposto a não interferir em um eventual perdão a Bolsonaro. Tarcísio era um dos presentes.
Recentemente, Eduardo passou a ameaçar deixar o PL caso Tarcísio se filie ao partido e saia candidato a presidente. Embora negue que será candidato ao Palácio do Planalto em 2026, o governador afirmou na mesma entrevista ao Diário do Grande ABC que concederia indulto presidencial a Bolsonaro se for eleito para o cargo.
“Na hora. Primeiro ato. Porque eu acho que tudo isso que está acontecendo é absolutamente desarrazoado”, declarou, acrescentando que não confia mais na Justiça brasileira.
Foi a primeira declaração de Tarcísio citando o indulto como uma ação caso seja eleito para o Planalto. Em julho, o governador havia afirmado acreditar que “qualquer candidato” de centro-direita deveria conceder um indulto a Bolsonaro, caso o ex-presidente seja condenado na ação penal sobre a trama golpista.
Na ocasião, assim como agora, Tarcísio afirmou acreditar na inocência de Bolsonaro e na falta de elementos para condenar o ex-presidente por tentativa de golpe.
Como mostrou o Estadão, Tarcísio desenhou uma estratégia para manter as duas opções abertas em 2026: a reeleição ou a disputa pelo Planalto. Ao mesmo tempo que conversa faz acenos a Bolsonaro e conversa com banqueiros e empresários sobre o rumo do País, ele tem rodado o interior fazendo entregar e se aproximando dos prefeitos paulistas.