4 de setembro de 2025
Politica

Julgamento de Bolsonaro antecipa 2026, Lula tenta desgastar Tarcísio e Centrão barganha anistia

Qualquer estrangeiro que desembarcasse em Brasília nesta terça-feira, 2 – mesmo sem carregar a sirene do apocalipse de Donald Trump – teria certeza de que estamos em um ano eleitoral. Não estaria de todo errado: embora no calendário gregoriano ainda faltem 13 meses para a disputa que vai definir o novo inquilino do Palácio do Planalto, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antecipou essa corrida.

No Congresso, o PP e o União Brasil – dois partidos do Centrão – articulam a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à sucessão do presidente Lula e, no embalo do julgamento, anunciaram que seus ministros devem entregar os cargos em 30 dias.

Tarcísio, por sinal, desembarcou em Brasília para tentar convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta, a tirar da gaveta o projeto de anistia que beneficia Bolsonaro. O Centrão promete trabalhar pela aprovação da anistia no Congresso, mas com uma condição: nessa barganha, quer que Bolsonaro apoie a candidatura de Tarcísio.

Sede do STF em Brasília: julgamento de Bolsonaro e mais sete começou nesta terça-feira, 2
Sede do STF em Brasília: julgamento de Bolsonaro e mais sete começou nesta terça-feira, 2

Enquanto isso, no Planalto, a estratégia traçada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, é mostrar que o governo do presidente Lula tem “mais o que fazer” do que assistir ao julgamento de Bolsonaro e seus aliados. Trata-se de uma tática na linha “Deixa o homem trabalhar”, slogan que marcou a campanha de Lula ao segundo mandato, em 2006.

Nos bastidores, porém, o governo aposta nas redes sociais do PT para alimentar a guerra da polarização. Além disso, ministros e parlamentares do partido foram orientados a destacar o plano Punhal Verde e Amarelo, descoberto pela Polícia Federal no curso das investigações, sempre que questionados sobre a tentativa de golpe em 8 de Janeiro de 2023.

Pesquisas encomendadas pelo Planalto mostram que muitos eleitores ainda veem a ameaça de ruptura democrática como algo abstrato, apesar do quebra-quebra na Praça dos Três Poderes. Caem na real, no entanto, quando são confrontados com o plano de assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Não se pode tramar a morte de um presidente eleito, de um vice-presidente eleito e de um ministro do STF e isso ficar impune”, afirmou o titular da Casa Civil, Rui Costa.

Uma cartilha intitulada “Por que Jair Bolsonaro está sendo julgado no Brasil?” – produzida pelo PT e Fundação Perseu Abramo em inglês, francês, espanhol e mandarim para ser distribuída à imprensa estrangeira – também sublinha a operação Punhal Verde e Amarelo logo no início do texto.

Não se pode tramar a morte de um presidente eleito, de um vice-presidente eleito, de um ministro do STF e isso ficar impune

Rui Costa, ministro da Casa Civil

Com 2026 no horizonte e a condenação de Bolsonaro dada como “favas contadas” pelo mundo político e econômico, a outra estratégia do Planalto é colar Tarcísio ao ex-presidente para desgastar sua imagem. Expoentes do Centrão, por sua vez, tentam sair dessa armadilha, sob o argumento de que o governador atrai o eleitor de centro, aquele que não quer nem Lula nem Bolsonaro.

Não foi à toa que Lula disse, na reunião ministerial do último dia 26, que Tarcísio será seu adversário em 2026. Ao tirar o governador da “zona de conforto”, o presidente joga o rival na arena contra os filhos de Bolsonaro – principalmente Eduardo, que pretende herdar os votos do pai para concorrer ao Planalto – e aumenta os decibéis da briga nas fileiras do bolsonarismo.

E as sanções de Trump? O governo não tem dúvidas de que a pressão sobre o Brasil aumentará após o julgamento de Bolsonaro, mas avalia que também pode tirar dividendos eleitorais da queda de braço com os EUA. A primavera política promete.

 

 

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