‘Cê não imagina o esquema’, ‘tá guloso’, disse lobista sobre governador do Tocantins
Mensagens encontradas no celular do empresário Paulo Cesar Lustosa Limeira reforçaram as suspeitas de corrupção contra o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), afastado pelo período de seis meses do cargo nesta quarta-feira, 3, por ordem do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), confirmada pela Corte. O governador foi alvo de buscas da Polícia Federal, em sua casa e também em seu gabinete no Palácio Araguaia na segunda fase da Operação Fames-19.
Em nota, Wanderlei disse que considera a decisão “precipitada” e que vai acionar os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo e comprovar a legalidade dos seus atos (leia a íntegra da nota ao final da matéria).

A PF também fez buscas, por decisão do ministro Campbell, nos gabinetes de dez dos 24 deputados da Assembleia Legislativa do Tocantins. A investigação põe os parlamentares sob suspeita de envolvimento com o esquema, inclusive o presidente da Casa, Amélio Cayres (Republicanos).
A Procuradoria-Geral da Assembleia informou que “não teve acesso aos autos, portanto, desconhece-se o que motivou a expedição dos referidos mandados” (abaixo a íntegra da nota da Assembleia).

Em conversas no WhatsApp com o irmão, Paulo César Lustosa – apontado como lobista do esquema – afirma que um esquema de direcionamento de contratos em troca de propinas começou a ser montado antes mesmo da posse do governador, ainda na transição da gestão Mauro Carlesse (2018-2022), de quem Wanderlei foi vice. O ex-governador também está pressionado por investigações de corrupção em outros episódios.
“Sai da mão do Carlesse entra na mão do Wanderlei. Meu Deus do céu véi, cê não imagina o esquema que esses caras tão montando aí (sic)”, afirma Lustosa.
Em outro diálogo, ele comenta decreto do governador que prorrogou o estado de calamidade pública no Tocantins, no auge da pandemia de covid-19, que permitiu contratações emergenciais sem licitação: “Caba tá guloso, rsrsrs Dinheiro”.

A Polícia Federal afirma que a “principal atividade laboral” de Lustosa era a negociação de propinas em contratos estaduais e municipais. Ele cobrava “comissão” em cima das licitações, segundo os autos da Operação Fames-19, segunda fase.
“Além do governo do Estado, Paulo César Lustosa buscou firmar parcerias com diversas prefeituras, a fim de maximizar o mesmo modus operandi”, diz o relatório da investigação.
O operador trocou mensagens diretamente com o governador afastado, mas os diálogos foram apagados, o que impediu a PF de analisar, por enquanto, o teor das conversas.

COM A PALAVRA, O GOVERNADOR AFASTADO DO TOCANTINS
Recebo a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com respeito às instituições, mas registro que se trata de medida precipitada, adotada quando as apurações da Operação Fames-19 ainda estão em andamento, sem conclusão definitiva sobre qualquer responsabilidade da minha parte. É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesa.
Reforço que, por minha determinação, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Controladoria-Geral do Estado (CGE) instauraram auditoria sobre os contratos mencionados e encaminharam integralmente as informações às autoridades competentes.
Além dessa providência já em curso, acionarei os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo de Governador do Tocantins, comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população.
COM A PALAVRA, A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO TOCANTINS
A Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins (Aleto) informa que prestou nesta quarta-feira, 3, colaboração total e irrestrita ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e à Polícia Federal (PF), no cumprimento integral das determinações contidas em dez mandados de busca e apreensão, com a devida disponibilização de todos os equipamentos, documentos e informações solicitados.
Informa ainda que a Procuradoria Geral da Casa não teve acesso aos autos, portanto, desconhece-se o que motivou a expedição dos referidos mandados. Além disso, a Aleto não foi intimada de nenhuma decisão judicial relacionada ao caso, que ainda está em curso.
Os mandados de busca e apreensão aos quais a Aleto teve acesso foram direcionados aos gabinetes parlamentares dos deputados Amélio Cayres, Claudia Lelis, Cleiton Cardoso, Ivory de Lira, Jorge Frederico, Léo Barbosa, Nilton Franco, Olyntho Neto, Valdemar Júnior e Vilmar de Oliveira.