5 de setembro de 2025
Politica

Anistia é o preço para Tarcísio seguir no jogo de 2026

A intensa articulação de Tarcísio de Freitas em torno da anistia para os envolvidos no 8 de janeiro é o movimento mais claro de suas ambições presidenciais. Contrariando sua imagem de gestor técnico, o governador de São Paulo foi a Brasília e se encontrou com as lideranças do Congresso com um objetivo definido: pagar o pedágio exigido por Jair Bolsonaro para ser seu herdeiro em 2026. A tarefa central é superar a desconfiança do ex-presidente e de sua família de que, uma vez eleito, não iria às últimas consequências na defesa de seu padrinho político.

O caminho para uma candidatura, no entanto, é mais complicado do que parece. O sucesso da empreitada de Tarcísio não depende da aprovação imediata de uma anistia ampla, que inclua Bolsonaro. Este cenário, inclusive, continua improvável. O alvo da ofensiva é outro: convencer o ex-presidente de que o governador, se eleito presidente, estará comprometido com a “conclusão do serviço”.

A promessa, explicitada pelo próprio Tarcísio, é a de usar o poder da caneta presidencial para conceder um indulto e, mais importante, lutar para que ele seja validado pelo Supremo Tribunal Federal.

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo

Nesse contexto, os sinais de apoio de Bolsonaro a Tarcísio devem ser vistos com pragmatismo. Um deputado que esteve com o ex-presidente relata a sua intenção de apoiar o governador, contrariando a pressão do filho Eduardo.

Mas isso pode ser um jogo duplo. Afinal, Bolsonaro precisa manter a chama da anistia acesa no Congresso, e para isso necessita da influência de Tarcísio sobre partidos do Centrão, muitos dos quais preferem o governador a um herdeiro familiar. Ao acenar para Tarcísio, Bolsonaro o mantém engajado. Mas quem conhece o ex-presidente sabe de sua instabilidade e da facilidade com que pode mudar de posição.

Por isso, o jogo da sucessão envolve um terceiro ator decisivo: o Supremo Tribunal Federal. A decisão de Bolsonaro passará, fundamentalmente, por sua percepção sobre a disposição do STF em aceitar um futuro perdão presidencial.

Se os ministros sinalizarem, ainda que informalmente, que sob um novo governo poderiam validar um indulto, as chances de Tarcísio aumentam. Por outro lado, se o governador queimar pontes com a Corte em sua defesa da anistia, pode transmitir a Bolsonaro que não terá a coesão necessária para garantir sua liberdade, minando sua própria candidatura.

Outra variável fundamental na equação é a competitividade do presidente Lula. Políticos experientes avaliam que a força de Tarcísio na disputa pela indicação é inversamente proporcional à fraqueza do atual governo. Se Lula se mostrar um candidato forte e competitivo para a reeleição, Bolsonaro tende a se preocupar em não arriscar o capital político de seus filhos em uma disputa incerta.

Nesse cenário, o argumento de que Tarcísio, por dialogar melhor com o centro, seria um candidato mais viável, ganha peso. Contudo, se Lula parecer fragilizado, Bolsonaro pode se sentir confiante de que qualquer nome que ele indique chegará ao segundo turno, abrindo espaço para uma solução caseira – mesmo que Tarcísio tenha defendido a anistia.

Finalmente, há os arranjos partidários, onde o relógio está correndo. Lideranças do Centrão já cobram uma definição de Tarcísio até meados de janeiro, para que haja tempo de organizar sua sucessão em São Paulo e montar a chapa presidencial. Aliados do governador trabalham para oferecer a Bolsonaro uma composição que o deixe confortável, como um vice de sua confiança.

O esforço pela anistia, portanto, é a condição necessária para Tarcísio se fortalecer na luta pela candidatura em 2026, mas não é suficiente ainda para sacramentar o seu nome. Por mais que, hoje, a balança pareça pesar a favor do governador de São Paulo, a decisão final será um complexo balanço entre a confiança pessoal de Bolsonaro, a viabilidade jurídica, o cenário eleitoral e as costuras de bastidores.

 

 

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