Reviravolta de Lula e bate-cabeça: Oposição resolveu que seu candidato é aquele que diz não querer
Imagina um cenário perfeito para se vencer um governo posto: má avaliação do presidente, discussão sobre sua fragilidade de saúde em função da idade, dificuldade atroz na articulação com o Congresso, economia problemática com custo alto dos alimentos e serviços básicos, crise na segurança pública, cenário internacional hostil e um desejo de mudança expresso em todas as pesquisas de opinião. O Brasil de 2025, um ano antes do pleito que pode ser o fim da Era Lula, está assim. Todavia, quem lidera eleitoralmente a oposição brasileira parece não conseguir liderar a política, e a fórmula básica para a vitória vai se tornando uma equação de graus superiores, permitindo uma reviravolta de quem está no poder e o sentimento de que só há um caminho: uma candidatura vista como proibida pelo seu grupo.
As últimas movimentações partidárias, das siglas mais representativas da centro-direita brasileira, tem dado todos os sinais de que seus líderes desejam Tarcísio de Freitas como candidato. A União Progressista, federação surgida após um entendimento entre o União Brasil e o Progressistas, ritmou a linha discursiva da política da oposição e só faltou lançar a fórceps o governador paulista para o Planalto. Mais intrigante ainda é que o ato partiu justamente de um grupo político, que teve um candidato oficialmente lançado à Presidência, há menos de seis meses. Ronaldo Caiado acreditou que poderia sair na frente e organizou um grande ato em Salvador, na Bahia, terra de um dos caciques do partido, ACM Neto, mas ninguém o leva a sério. Desafeto de Bolsonaro e monotemático com a segurança pública, o goiano vai ter que se encolher e lutar em casa com a primeira-dama do Estado que já sonhava em ser senadora, por uma vaga na Câmara Alta brasileira.

No Republicanos, partido de Tarcísio, que tem tantas facetas, com ministro no governo Lula, presidência da Câmara dos Deputados e líderes de oposição no senado, como Cleitinho Azevedo e Damares Alves, o ensaio foi de lançamento, com o presidente do partido dizendo que talvez, ali naquele palco, tivesse o próximo presidente da República, animando o público presente, composto por mais dois importantes players da política nacional, o presidente do PL de Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto e o do PSD, Gilberto Kassab, que sonha em assumir um dia o Palácio dos Bandeirantes, hoje, ocupado por Tarcísio.
O PSD de Kassab tem uma situação ainda mais sui generis, já que tem dois pré-candidatos a presidente, uma a vice, mas sonha mesmo com o ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro. Eduardo Leite e Ratinho Jr. são dois governadores em final de mandato, com boa avaliação nos seus Estados e que poderiam ocupar esse espaço. Raquel Lyra, enfraquecida em Pernambuco, mas ainda detentora de boa imagem para o resto do País, poderia ser uma solução na busca por uma renovação nas bandas petistas, compondo chapa com Lula. O fato, no entanto, é que Kassab se movimenta com vistas a realizar seu desejo, o de ser o indicado de Tarcísio para a corrida governamental em São Paulo. Com tantos jabutis colocados na árvore, Kassab tem muita munição para negociar e pretende usá-las da maneira mais eficiente para ser aclamado o candidato da sucessão do bem avaliado governador paulista.
Com a impossibilidade de candidatura, Jair Bolsonaro começa a entrar em uma sinuca de bico. Tentou fazer do filho um herói nacional ao denunciar os desmandos do STF mundo afora, mas o tiro saiu pela culatra. O que era pra ampliar, fechou ainda mais. O resultado prático das movimentações de Eduardo Bolsonaro foram o anúncio de um tarifaço, que gerou medo nos brasileiros. Com a economia patinando, tudo o que as pessoas não querem é pagar mais. O dia a dia é difícil, e Lula, até então responsável por aumentar impostos, virou uma espécie de defensor do Brasil contra as investidas poderosas de Donald Trump e dos Estados Unidos da América. De concreto, o que Bolsonaro conseguiu foi reviver Lula.
Ainda com dificuldades para a próxima eleição, Lula agora tem narrativa e defesa, mesmo tendo um governo com baixíssimas entregas e decepcionante até mesmo para seus eleitores. Na política eleitoral, todos sempre precisam de um adversário e Bolsonaro tem o sido o melhor que Lula encontrou em toda a sua história. O PT acabado após diversos casos de corrupção, com os mensalões e petrolões, com Dilma impeachmada e Lula preso, conseguiu voltar ao poder, por falta absoluta de competência de Bolsonaro, eleito justamente com a ideia de apartá-los do poder. “Nossa bandeira jamais será vermelha” e “PT Nunca Mais” foram gritos de guerra dos bolsonaristas, que se perderam pela força da realidade. Os mais fiéis ainda insistirão em teses de urnas fraudadas e de acordo do STF, mas o fato é que essas mesmas urnas permitiram um Senado absolutamente repleto de candidatos eleitos ao lado de Bolsonaro, bem como governadores.
Tarcísio de Freitas, o mais importante dos governadores, justamente por liderar São Paulo, é um desses exemplos. Entretanto, ao mesmo tempo em que é uma solução tão óbvia para a oposição, acaba sendo tão complexo para os desejos daquele que reúne os votos da oposição. Jair Bolsonaro já deu diversas demonstrações públicas de não querer sua candidatura. Teme que a vitória de Tarcísio seja seu fim. Sem força de organização política, Bolsonaro vive da sua conexão popular e deixar alguém tomar isso, seria colocar uma pá de cal em suas pretensões políticas. O PL, de Bolsonaro, já demonstrou também estar de olho em Tarcísio. O presidente da sigla afirmou que caso o governador fosse candidato a presidente, seria pelo seu partido.
Com o prazo se aproximando e Lula se reerguendo na cadeira, a oposição parece já estar decidida do que quer, mas como diz o ditado, falta combinar com os russos. Tarcísio, sabedor do risco de ser jogado às garras dos leões, caso vire um pária para o bolsonarismo, não se movimenta. Joga parado, mas permite que joguem por ele. Com discursos evasivos sobre o Brasil, fala sempre que não é candidato e lança Bolsonaro, mesmo sabedor de que essa possibilidade é cada vez mais remota. Pesquisa da Paraná mostra seu empate absoluto com Lula, em um segundo turno. A Quaest, que aferiu 60% de aprovação para Tarcísio em seu trabalho à frente do Bandeirantes, mostrou também que ele é o melhor candidato para enfrentar o chefe do Executivo brasileiro.
A decisão da política parece tomada, mas com Lula dando sinais de melhora, Tarcísio terá que escolher seu futuro. Sua reeleição em São Paulo é muito possível e sabe que enfrentar um animal político como Lula, em sua derradeira eleição, não será tarefa fácil. Além do mais, terá que contrariar seu líder máximo, sem mostrar que está o contrariando. Um cenário muito complexo que a falta de liderança e rumo da oposição no campo da articulação gerou. A negação da política pode ser boa para discurso eleitoral, mas para a realidade do jogo, só se mostra frustrante para quem a pratica.