5 de setembro de 2025
Politica

Anistia a Bolsonaro: O que dizem os colunistas do Estadão sobre a articulação no Congresso

Exatamente um mês após deputados e senadores anunciaram um motim para impedir os trabalhos nas duas Casas legislativas até que seus respectivos presidentes levassem a diante o projeto de anistia a Jair Bolsonaro (PL), a pauta ganhou propulsão no Congresso.

Em meio ao julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter tentado um golpe de Estado em 2022, líderes do PL, partidos do Centrão e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), articulam tratativas para conceder o perdão político aos envolvidos. Os crimes pelos quais se quer anistia, entretanto, ainda estão sendo julgados pelos ministros da Corte.

Senadores e deputados apoiadores do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) se amotinaram por mais de 30 horas nas duas casas legislativas na primeira semana de agosto, no retorno do recesso.
Senadores e deputados apoiadores do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) se amotinaram por mais de 30 horas nas duas casas legislativas na primeira semana de agosto, no retorno do recesso.

Colunistas do Estadão consideram improvável que uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, como defendem os bolsonaristas, seja aprovada e entre em vigor como lei.

Como destacou Carlos Andreazza no “Estadão Analisa” desta sexta-feira, 5, um dos textos articulados pelo bolsonarismo na Câmara dos Deputados para anistiar o ex-presidente e condenados pelo 8 de Janeiro prevê perdão completo a todos os alvos da Suprema Corte por atos antidemocráticos desde 2019, o que poderia, na prática, reverter a inelegibilidade de Bolsonaro.

Andreazza avalia não haver meios para a anistia prosperar, e a ofensiva no Congresso, que antes tinha como centro livrar Bolsonaro da prisão, agora gira em torno das eleições de 2026, em dois cenários: com o ex-presidente elegível como querem os bolsonaristas raiz e com Bolsonaro fora do páreo e Tarcísio como candidato da direita, como quer o Centrão.

Um desses textos, que está sendo articulado no Senado, nem sequer cita o ex-presidente. Como mostra a colunista Carolina Brígido, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), tenta propor projeto para reduzir penas dos condenados pelo 8 de Janeiro em troca do fim da tramitação do projeto de anistia para todos os réus da trama golpista, que encabeçaram o plano. Uma ala dos ministros da Suprema Corte concordam com a proposta.

“A anistia ampla, para executores e planejadores do golpe, da forma como aliados de Bolsonaro defendem no Congresso, seria rejeitada pelo Supremo. Isso porque, após eventual aprovação, a PGR ou a base aliada entraria com ação no tribunal questionando a constitucionalidade da medida. A maioria dos ministros votaria contra o perdão aos condenados”, destaca a colunista.

Na opinião do colunista William Waack, tanto a Corte quanto o Congresso sofrem agora com falta de liderança. “No amplo espectro de centro-direita há vários operadores hábeis num jogo concentrado na defesa dos interesses diretos de parlamentares, que consiste em encurralar o governo para manter e ampliar ferramentas de poder e emendas. Mas não estão até aqui à altura de executar um ‘grande jogo’ como esse da anistia.”

A colunista Vera Rosaantecipou na terça-feira, 2, que Tarcísio desembarcou em Brasília para tentar convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a tirar da gaveta o projeto de anistia que beneficia Bolsonaro. “O Centrão promete trabalhar pela aprovação da anistia no Congresso, mas com uma condição: nessa barganha, quer que Bolsonaro apoie uma campanha de Tarcísio à Presidência.”

Para o colunista Silvio Cascione, as articulações do governador de São Paulo em Brasília, são, até agora, o movimento mais claro de suas ambições presidenciais: trata-se do pagamento do “pedágio” exigido por Bolsonaro para Tarcísio ser seu herdeiro em 2026. “A tarefa central é superar a desconfiança do ex-presidente e de sua família de que, uma vez eleito, não iria às últimas consequências na defesa de seu padrinho político”, avalia.

Segundo a apuração da colunista Roseann Kennedy, o “mergulho de cabeça” de Tarcísio justo agora seria uma forma de evitar o desgaste de defender a pauta em plena campanha eleitoral no próximo ano. “Nos cálculos mais otimistas do Centrão, a Câmara aprova a urgência da matéria após o STF terminar o julgamento de Bolsonaro e dos outros sete réus no caso da trama golpista – com a esperada condenação – e, em contrapartida, o ex-presidente confirma Tarcísio como seu sucessor na corrida pela Presidência da República.”

 

 

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