Será que é verdade?
Quando leio notícias ufanistas sobre a queda da taxa de desemprego, fico na dúvida. Ótimo se isso estiver a refletir a existência de ocupação digna para todos os que queiram de fato trabalhar. Mas me assalta uma dúvida. Isso não é reflexo do assistencialismo que se estabeleceu em todos os níveis da Federação?
Há várias advertências sobre os projetos sociais desvinculados de qualquer contraprestação por parte do assistido. Mas é notória a existência de desocupados em todos os logradouros públicos. Em todas as reentrâncias das edificações, estão os moradores de rua. Morar na rua não é digno. Nem faz sentido impedir que a rua, que é de todos, seja o caminho natural das pessoas, em virtude de sua ocupação por parte dos que não querem aceitar abrigos nem projetos de capacitação para exercer uma atividade rentável.
Pesquisa recente do Data Favela já demonstrou que quase quarenta por cento dos moradores dessas “comunidades” possuem negócio próprio. E destes, nem dez por cento – na verdade nove por cento – declaram desejar carteira assinada.
O Brasil tem 12.348 favelas, onde residem 17,2 milhões de pessoas, concentradas em 6,6 milhões de domicílios, ou sejam: 8% dos lares brasileiros. Para grande parte dessa população, empreender é mais fácil do que ter emprego CLT.
O desejo de ser empreendedor está na rotina das favelas. Desenvolver negócio próprio não é plano B, mas é projeto de vida. Renato Meirelles, fundador do Data Favela, foi ouvido por Maeli Prado, que fez reportagem para a FSP. Ele afirma que a pesquisa revelou “um ecossistema fervilhante: gente que usa a cozinha como dark kitchen, a laje como estúdio de conteúdo e o beco como corredor logístico”.
Oitenta por cento dos que já exercem uma atividade querem ampliar seu negócio ou abrir um novo nos próximos doze meses. Isso é saudável. Mas é apenas um aspecto da realidade. E aqueles que não empreendem e nem querem carteira assinada? Esses são os clientes preferenciais dos serviços sociais. Será que essa categoria não está crescendo de forma excessiva? É só olhar as cidades para verificar que os moradores de rua, os que não trabalham, não produzem e nem querem qualquer emprego, só crescem em número.
O perigo é que o acúmulo de benefícios sociais, na inexistência de um cadastro único, a reunir os assistidos pela União, pelo Estado e pelos Municípios, faça com que essa verba estatal, em lugar de mudar a vida do indivíduo, o torne refém de uma ajuda crônica.
Os programas sociais não podem se limitar a dar de comida a quem tem fome e a vestir quem precisa de agasalho, principalmente nas ondas de frio. Mas precisa tentar recuperar a autoestima dessa população. Falando em ondas de frio, é lamentável verificar que, a cada manhã, os caminhões coletores de resíduo sólido recolhem centenas de cobertores deixados nas ruas pelos que foram obsequiados com eles na noite anterior.
Também não é um espetáculo edificante verificar a situação rotineira da rua Riachuelo, atrás da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Ali existe oferta de alimentos em todos os períodos do dia. Mas é impressionante constatar que aqueles que foram atendidos para o desjejum ali permaneçam à espera do almoço e depois se acomodem à espera do lanche da tarde e do jantar. Qual o trabalho que está sendo feito para recolocá-los na produtividade?
Nada contra o empreendedorismo, que é a tônica nas escolas que acordaram para o fato de que a IA acaba com empregos. Mas é urgente encaminhar os desejosos para empreendimentos saudáveis, com a possível regularização mínima. E maior controle daqueles beneficiados com os serviços sociais, para que esse estágio seja transitório, não permanente.
Os pensadores estão com a palavra e os jovens, em sua criatividade, precisam criar startups com soluções para essas questões cruciais. Senão, eles mesmos arcarão daqui a pouco, com os custos da imprevisão.