9 de setembro de 2025
Politica

Mesmo com fala radical, o melhor para Tarcísio é que a anistia a Bolsonaro não prospere

Caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, queira mesmo ser presidente da República, ele não torce para uma anistia irrestrita ao presidente Jair Bolsonaro. Ao contrário. Por uma razão elementar: na hipótese improvável de Bolsonaro concorrer ao Palácio do Planalto, Tarcísio estará fora do pleito. Atenção: o governador não está sozinho nisso. Muitos dos que se dizem aliados do ex-presidente – que gritam “Bolsonaro presidente 2026!” – pensam da mesma maneira, mas jamais admitirão fora de conversas à boca pequena.

Manifestantes pedem anistia a Bolsonaro em manifestação na Avenida Paulista neste 7 de setembro
Manifestantes pedem anistia a Bolsonaro em manifestação na Avenida Paulista neste 7 de setembro

Hoje, no trio elétrico na avenida Paulista, Tarcísio – que mais uma vez evitou o verde-amarelo da camisa oficial da seleção – precisou fazer um movimento contrário ao seu objetivo final. “Esta festa não está completa porque Jair Messias Bolsonaro não está aqui conosco”, disse. “Só existe um candidato para nós, que é Jair Messias Bolsonaro”, afirmou logo a seguir. Para, finalmente, atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, chamando-o de tirano.

Mas frases como essas, mesmo que radicais, são uma estratégia necessária à meta. Tarcísio sabe que só será um candidato viável caso se mostre fiel ao bolsonarismo. Se em algum momento for colado na sua testa o rótulo de traidor, pode perder o apoio da chamada base dura do bolsonarismo. Haverá sempre divergências nos números, mas trata-se de um movimento aguerrido, histriônico, politicamente forte e, como nenhum outro, capaz de levar a militância fanática para as ruas. Quem gritou hoje “fora Moraes”, em referência ao juiz algoz de Bolsonaro, pode gritar “fora Tarcísio” se for habilmente manipulado.

Com Tarcísio alvejado no próprio campo da direita, as coisas se facilitam para o presidente Lula ser reeleito, mesmo sem trunfos robustos a mostrar à sociedade. Bom lembrar que os filhos de Bolsonaro estão sempre à espreita e não pensarão duas vezes em chamar de Judas os que não sigam exatamente as suas agendas pessoal e política. Tarcísio sabe que nunca é bom esperar racionalidade e ponderação entre os integrantes da família Bolsonaro, principalmente dos mais jovens, agora com o apoio espetacular do presidente americano Donald Trump.

Mas a estratégia do governador cobra um preço alto. Hoje, a lealdade irrestrita a Bolsonaro e o apreço à democracia não são mais atributos compatíveis. A primeira semana de julgamento do presidente mostrou falhas na acusação, açodamentos no processo, mas não a ponto de tornar a vida de Bolsonaro mais simples. O ex-presidente deve ser condenado à cadeia. Logo, tentar anistiá-lo pode significar, de alguma maneira, minimizar uma tentativa de golpe de Estado. Aliás, na fala de hoje o governador de São Paulo, eleito com 13,4 milhões de votos, chegou a insinuar que não vivemos em um estado democrático.

Tarcísio pode estar raciocinando em etapas em sua trajetória tortuosa. Em primeiro lugar, garantir o apoio das margens radicais à direita do eleitorado e, mais à frente, ver o que faz. Sem Bolsonaro no caminho (ou Michelle), contra Lula, conseguiria rapidamente o apoio da centro-direita – gente que nas últimas décadas votou até nos “esquerdistas” tucanos para evitar que o Partido dos Trabalhadores tivesse poder. Setor produtivo e financeiro podem até apoiar retoricamente a questão democrática, mas o pragmatismo de um presidente gestor falaria mais alto a favor do governador de São Paulo.

Faltaria conquistar os moderados ao centro, minoritários, mas decisivos – gente que vai rejeitar quem propuser indulto a Bolsonaro. Frases como “ninguém aguenta mais a tirania de Moraes” podem ser queimar as pontes com a instituição. Mas essas questões serão vistas mais tarde. Talvez lembrar que o compromisso do PT e Lula com a democracia nunca foi absoluto – vide ambiguidades em questões como a guerra na Ucrânia ou nas eleições na Venezuela. “Eles assaltaram bancos, cometeram atentados terroristas e foram beneficiados pela anistia no passado”, afirmou o governador, no trio elétrico. Há cartas políticas a serem jogadas por Tarcísio para tentar reverter o dano de apoiar a anistia de Bolsonaro, mesmo que seja uma ação com a qual discorde no fórum íntimo por prejudicá-lo pessoalmente. Mas Tarcísio não está sozinho.

 

 

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