11 de setembro de 2025
Politica

Fux rasga votos no 8/1, poupa Bolsonaro de golpe e culpa sobra para delator

O ex-ministro Marco Aurélio Mello, quando estava com a toga, costumava repetir: não se deve julgar o processo pela capa. Traduzindo: o juiz não pode decidir segundo o nome do acusado. Nesta quarta-feira, 10, o ministro Luiz Fux proferiu seu voto ignorando o que fizera em relação aos acusados dos ataques no 8 de Janeiro.

Para o caso que tem como réu o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 7 acusados, Fux, primeiro, defendeu a anulação completa do processo. Alegou que o Supremo Tribunal Federal não é a instância judicial competente para cuidar do caso. Disse que os acusados não têm direito ao foro especial, esquecendo que entre os oito julgados tem o deputado federal Alexandre Ramagem.

O ministro Luiz Fux no início da sessão de julgamento na Primeira Turma do STF
O ministro Luiz Fux no início da sessão de julgamento na Primeira Turma do STF

Isso foi neste 10 de setembro de 2025. Há dois anos, no 13 de setembro de 2023, Fux não tinha isso em mente. Endossou completamente o voto do colega Alexandre de Moraes para condenar Aécio Lúcio Costa Pereira, um dos primeiros envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro. Aécio pegou 17 anos de cadeia.

Na época, o caso foi julgado pelo plenário do STF. Apenas dois ministros disseram que o caso não deveria estar ali: André Mendonça e Nunes Marques. Os dois foram indicados para a corte pelo ex-presidente Bolsonaro.

Ministro Luiz Fux em julgamento no plenário do STF em setembro de 2023
Ministro Luiz Fux em julgamento no plenário do STF em setembro de 2023

O Fux de 2023 era outro. Antes de dizer que seguia inteiramente o voto de Moraes, lembrou que passaram dissabores quando no dia da Independência de 2021 houve risco de invasão. No julgamento, Fux disse que, ao ver as imagens do 8 de Janeiro, disse que os extremistas agiram sem freio e sem limites.

“Não se pode banalizar as injunções políticas que foram realizadas, mas não se pode banalizar um episódio que fez com que a população, em manifesto desrespeito às instituições, sem freios e sem limites, invadisse e depredasse todos os Poderes da República”, disse o Fux, versão 2023.

O Fux 2025 admitiu que é possível rever suas posições, evoluir. O magistrado evoluiu tanto que citou como exemplo para rejeitar a acusação de organização criminosa contra os réus o precedente do caso do mensalão. Lembrou que o STF rejeitou a acusação de formação de quadrilha por falta de tipificação da conduta dos acusados segundo as exigências do tipo penal previsto na lei. O detalhe é que Fux, no caso do mensalão, votou para condenar formação de quadrilha.

Sobre Jair Bolsonaro, disse que discurso agressivo, ou mesmo bravata, não é crime. Críticas às urnas muito menos. Minuta do golpe? O ministro afiançou: mera cogitação, não golpe. No voto, Fux fez uma longa digressão sobre conceitos dos crimes. A partir das balizas que traçou, todas novas em relação ao Fux de 2023, foi limando uma a uma as acusações contra o ex-presidente.

Fux também livrou o ex-comandante da Marinha de todos os crimes. Sobrou para o delator, o coronel Mauro Cid, até aqui o único contra quem o ministro viu algum vestígio para condenar.

Poupado nesta quarta-feira, Bolsonaro espera agora forma a maioria, com um voto divergente, por sua condenação por outros ministros que preferem ver crime onde Fux vê só palavras ao vento.

 

 

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