‘Brasil acertou onde os EUA falharam’, diz texto de professores no New York Times
BRASÍLIA – O cientista político Steven Levitsky, professor na universidade de Harvard e coautor do livro Como As Democracrias Morrem, e Filipe Campante, economista da universidade Johns Hopkins, afirmou em artigo ao jornal americano New York Times, que o Supremo Tribunal Federal (STF) conseguiu, ao condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que o Senado do país da América do Norte não conseguiu fazer.
“Com todos os seus defeitos, a democracia brasileira é mais saudável que a dos EUA”, diz o artigo. “Precisamente cientes do seu passado autoritário, autoridades políticas e do judiciário não tomaram que a democracia seria algo garantido. Em contraste, os EUA fracassaram. Ao invés de minar os esforços brasileiros em defender sua democracia, americanos deveriam aprender com eles.”

Levitsky e Campante mencionam as tarifas de 50% impostas a produtos americanos e a imposição da Lei Magnitsky – descrita por eles como um “passo sem precedente” – ao ministro do STF Alexandre de Moraes como forma de “punir” o “esforço brasileiro em defender sua democracia”.
O texto escrito pelos dois acadêmicos menciona como o Senado americano fracassou por duas vezes em votações de impeachment do presidente Donald Trump em seu primeiro mandato, assim como outras instituições do país, viabilizando o retorno do candidato do Partido Republicano ao poder. “Em menos de nove meses do segundo mandato de Trump, os Estados Unidos já passaram da linha rumo a um autoritarismo competitivo”, afirmam.
Nesse mesmo artigo, os autores mencionam que Moraes disse a eles que “percebemos que poderíamos ser Churchill ou Chamberlain. Eu não quero ser Chamberlain”.
A citação do ministro faz referência a Neville Chamberlain, do partido conservador e ex-primeiro ministro do Reino Unido entre 1937 e 1940. Ele tentou negociar paz diretamente com Adolf Hitler em 1938 – apesar de firmar um acordo, a iniciativa acabou fracassada com o início da Segunda Guerra Mundial. Chamberlain acabou por entregar o cargo em 1940 para o também conservador Winston Churchill, que comandou o país até a derrota nazista, em 1945.
“Vendo-se como um baluarte contra o autoritarismo de Bolsonaro, os juízes brasileiros reagiram com firmeza”, dizem Levitsky e Campante.
Em votação concluída nesta quinta-feira, 11, a Primeira Turma do STF condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão, por quatro votos a um por organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado contra o patrimônio da União. O ministro Luiz Fux foi o único voto divergente.
Como mostrou o Estadão, a expectativa é que Bolsonaro já comece a cumprir a pena ainda neste ano. A defesa do ex-presidente ainda pode recorrer das condenações.