12 de setembro de 2025
Politica

Fraudes no INSS: lobista e empresário foram avisados de operação e esconderam carros de luxo, diz PF

Na noite de 24 de abril, véspera da Operação Sem Desconto, que revelou fraudes milionárias contra aposentados do INSS, três carros de luxo – uma Ferrari F8 Spider e duas Mercedes – foram levados ao estacionamento do Shopping Pier 21, em Brasília. Os veículos só foram retirados oito dias depois. Esse foi o primeiro indício que levou a Polícia Federal a desconfiar do vazamento da operação. Um novo inquérito foi aberto para investigar a suspeita de obstrução.

Os carros estão registrados em nome da FAC Negócios e Investimentos Unipessoal, do empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, que tem sociedade com o advogado e também empresário Nelson Willians Fratoni Rodrigues em outros negócios. O advogado é um dos investigados na Operação Sem Desconto.

Para a Polícia Federal, Cavalcanti é apenas um laranja. Os carros na verdade seriam do advogado. Os investigadores acreditam que Nelson Willians tenha recebido informações privilegiadas sobre a operação e escondido os carros para evitar que fossem apreendidos pela PF.

Nelson Willians têm ligação com outro investigado no inquérito: o empresário Maurício Camisotti, suspeito de ser sócio oculto da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), uma das associações envolvidas nas fraudes no INSS.

Relatórios de inteligência financeira apontaram transferências sem lastro de mais de R$ 28 milhões entre eles, além de uma transação imobiliária suspeita, envolvendo um terreno supostamente vendido por R$ 22 milhões.

Pelo padrão das transações, a Polícia Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) concluíram que Camisotti está empreendendo uma “dilapidação patrimonial” por meio de “evidente pulverização de recursos”.

Segundo a Polícia Federal, a relação entre o empresário e o advogado vai “além dos limites de uma mera vinculação profissional”.

“Nelson Williams figura como possível beneficiário dos descontos associativos da Ambec, demonstrava interesse em obter informações acerca da investigação em curso e permanece efetuando repasses financeiros em favor de Maurício. Nesse cenário, apresenta-se como elo de intermediação na circulação de valores provenientes de atividades ilícitas”, apontou a Polícia Federal em um dos relatórios da investigação.

Além disso, quando a PF apareceu na casa de Camisotti para fazer buscas, no dia 24 de abril, a família não estava em casa, o que reforçou as suspeitas de que teriam sido avisados com antecedência da operação.

Ferrari foi apreendida nesta sexta, 12, em investigação sobre vazamento da Operação Sem Desconto.
Ferrari foi apreendida nesta sexta, 12, em investigação sobre vazamento da Operação Sem Desconto.

Uma denúncia deu a “pista” de vazamento da Sem Desconto para a Polícia Federal. Um dos motoristas envolvidos na operação para esconder os carros de luxo já foi identificado. Trata-se de um taxista. Ele deve ser chamado para prestar depoimento.

A PF acredita que as informações privilegiadas tenham chegado primeiro ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, e que o filho dele, Danilo Carvalho Antunes, tenha “atuado na contraprestação de informações a outros interessados”.

Quando um policial federal esteve no estacionamento, em busca de imagens das câmeras de segurança, cruzou com Danilo. O agente aguardava o gerente para pedir os vídeos do sistema de vigilância.

O filho do “Careca do INSS” circulou os carros e passou um tempo observando a Ferrari e uma das Mercedes, como se estivesse “supervisionando” os veículos, segundo a PF. Depois enviou mensagens no celular. O comportamento chamou a atenção do policial, que logo puxou a placa do carro em que Danilo chegou e conseguiu identificá-lo.

Um funcionário do “Careca do INSS” também alertou a PF que ele falou que precisava “levantar dinheiro, fechar as torneiras, dispensar os empregados e que iria para os Estados Unidos”.

Antonio Antunes e Maurício Camisotti foram presos nesta sexta-feira, 12, por ordem do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao pedir as prisões, a PF afirmou que a possibilidade de fuga para o exterior é “latente” e que eles agiram para prejudicar as investigações e vêm “empregando meios para dilapidar ou ocultar o patrimônio angariado por meio de condutas ilícitas”.

A Polícia Federal também fez buscas no escritório de Nelson Willians.

A defesa de Camisotti afirma que “não há qualquer motivo que justifique sua prisão”, enquanto a de Nelson Willians alega que sua relação com investigados na fraude “é estritamente profissional e legal”.

O advogado Cleber Lopes, que defende o “Careca do INSS”, disse que não há justificativa para a prisão e afirmou que vai apresentar documentos à PF para comprovar a inocência dele.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE ANTONIO CARLOS CAMILO ANTUNES

O advogado Cleber Lopes, que defende Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, disse que não há justificativa para a prisão e afirmou que vai apresentar documentos à PF para comprovar a inocência dele.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE MAURÍCIO CAMISOTTI

A defesa do empresário Maurício Camisotti afirma que não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação relacionada à investigação de fraudes no INSS.

Os advogados chamam a atenção para a arbitrariedade cometida durante a ação policial: Camisotti teve seu celular retirado das mãos no exato momento em que falava com seu advogado. Tal conduta afronta garantias constitucionais básicas e equivale a constranger um investigado a falar ou produzir prova contra si próprio.

A defesa reitera que adotará todas as medidas legais cabíveis para reverter a prisão e assegurar o pleno respeito aos direitos e garantias fundamentais do empresário.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE NELSON WILLIANS

Em relação ao mandado de busca e apreensão cumprido nesta data, Nelson Wilians esclarece que tem colaborado integralmente com as autoridades e confia que a apuração demonstrará sua total inocência.

Nelson Wilians já afirmou, anteriormente, que sua relação com um dos investigados — seu cliente na área jurídica — é estritamente profissional e legal, o que será comprovado de forma cabal. Os valores por ele transferidos referem-se à aquisição de um terreno vizinho à sua residência, transação lícita e de fácil comprovação.

Ressaltamos que a medida cumprida é de natureza exclusivamente investigativa, não implicando qualquer juízo de culpa ou responsabilidade. O advogado permanece à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários e reafirma seu compromisso com a legalidade e a transparência.

 

 

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