13 de setembro de 2025
Politica

Clima é saúde

Quando algumas vozes a clamar no deserto apelam para a consciência inerte dos que não se preocupam com o tema e insistem no trato consequente da questão climática, o propósito é focar os humanos. Defende-se a preservação do verde, a desfossilização da vida moderna, a despoluição do solo, do ar e das águas, com vistas a permitir que a aventura humana sobre este sofrido planeta prossiga por mais algum tempo.

Infelizmente, o negacionismo ainda existe. Mais do que ele, o ceticismo ou a indiferença. Pessoas cuidando do trivial, deixando de lado o essencial.

Aqui em São Paulo, a USP tem alertado com bases científicas o agravamento daquilo que chamávamos “mudanças climáticas”, passaram a ser as “emergências climáticas” e hoje eu não hesito em dizer “cataclismo climático”. O Professor Paulo Saldiva é um especialista em “ondas de calor” e apurou que as temperaturas elevadas têm matado mais do que as ondas de frio. É óbvio que nos assentos de óbito não vai aparecer como “causa mortis” a palavra “calor”. Mas este foi o gatilho que disparou o AVC, o enfarte, as embolias, as comorbidades decorrentes do sedentarismo, da diabete, da obesidade.

E ele está com a ciência mundial. O diretor de serviços da OMM – Organização Meteorológica Mundial, Johan Stander, falou recentemente: “É adaptar-se ou morrer!”. Junto com a OMS – Organização Mundial da Saúde, lançou um manual para enfrentar as condições insalubres de trabalho.

Hoje, o excesso de emissão dos gases venenosos causadores do efeito estufa gerou um perigoso aquecimento global e até em regiões gélidas, como a Escandinávia, registrou-se no verão europeu um calor calcinante. Em Oslo, capital da Noruega, diante de termômetros com temperatura acima dos trinta graus, um hospital dava banho gelado em parturientes. A instituição de 180 anos não dispõe de ar condicionado, porque nunca precisou.

As altas temperaturas são perigosas para todas as pessoas. Estima-se que quase três bilhões de trabalhadores estão atualmente submetidos ao calor excessivo. Isso causa mais de vinte e três milhões de acidentes ocupacionais a cada ano. É uma questão de saúde, mas também econômica. O trabalho sob condições extremas faz definhar a produtividade em 2% a 3% para cada grau acima de 20ºC. Todos temos de nos preocupar com isso e os responsáveis têm de investir na mitigação do problema.

Grande parte dos que trabalham em condições desfavoráveis de calor excessivo estão na economia informal. Por isso o Poder Público também é chamado a contribuir. Em São Paulo, há planos concretos de atendimento para reduzir os efeitos das altas temperaturas. Os mais idosos, os portadores de enfermidades crônicas, os que não estão em plena forma física, são os mais vulneráveis aos problemas.

O estresse térmico prejudica a saúde e os meios de subsistência de bilhões de seres humanos e ele entra em ação a partir de temperatura superior a 34ºC. Mas interessa também avaliar a umidade, a qualidade e circulação do ar. Tudo isso implica em maior ou menor salubridade do ambiente.

Não se preocupar com isso vai significar o recrudescimento da insolação, da desidratação, disfunção renal, distúrbios neurológicos. Tudo isso prejudica a saúde e afeta a economia. Metade da população mundial sofre consequências adversas das altas temperaturas. Toda cidade precisa ter o seu plano de ação, o seu plano de contingência, contra o calor no trabalho, na escola, em cada residência.

Submeter-se ao calor excessivo pode ser fatal. E não custa lembrar que 2024 foi o ano mais quente em cento e vinte e cinco mil anos de História. Nada indica que 2025 seja um ano de temperaturas amenas. Já não choveu o que deveria ter chovido em julho e agosto.

Antes de chegarmos à trágica e indesejável crise hídrica, que fará faltar água para beber na Região Metropolitana de São Paulo e em outras cidades carentes de água, como na região de Bauru, haverá muitas consequências nefastas derivadas do excesso de calor.

Um remédio fácil, todos conhecem: plantar árvores. Por que é tão difícil convencer aqueles que podem a multiplicar as áreas verdes em todas as cidades? É a melhor, mais eficiente e mais barata tecnologia de que os brasileiros dispõem. Entretanto, ainda não fazem uso dela e continuam a desperdiçar vida e patrimônio pelo excesso fatal de temperatura.

Juízo, minha gente! Vamos cuidar do clima, porque não é mera afeição pela ecologia. É uma questão de saúde e de sobrevivência.

 

 

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