15 de setembro de 2025
Politica

Bolsonaro preso inicia fase menos tóxica da polarização no País

Nos meses que antecederam sua prisão domiciliar e, na semana passada, sua condenação por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes, Jair Bolsonaro manteve uma intensa agenda de viagens, atos públicos e encontros com aliados cujo objetivo era manter acesa a chama do seu capital político e transmitir a ideia de que colocá-lo atrás das grades representava um perigo para a estabilidade política do País.

Por enquanto, nada sugere que isso seja verdade, contrariando previsões até mesmo de analistas independentes, que viram risco de tumulto social depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no início de agosto, em uma decisão confusa e atabalhoada, mandou o ex-presidente se recolher em sua casa por descumprir determinação de não participar de manifestações — ainda que remotamente, via redes sociais de terceiros.

Capacidade do ex-presidente de pautar os debates políticos vai ser reduzida
Capacidade do ex-presidente de pautar os debates políticos vai ser reduzida

A campanha para salvar a si próprio da condenação e da prisão não surtiu o efeito esperado e ainda levou ao desgaste do discurso populista de Bolsonaro, demasiadamente autocentrado e desprovido de uma nova visão redentora para os problemas nacionais. Tudo o que sobrou foi o vitimismo e o enfrentamento com a cúpula do Judiciário, consolidada em seu posto de “elite inimiga do povo”.

A retórica de perseguição política pode ser o bastante para manter energizada a massa de apoiadores mais radicais e renovar os confrontos da oposição no Congresso com o STF, especialmente se o projeto de anistia aos golpistas avançar, mas é muito pouco comparada à capacidade que Bolsonaro já teve no passado recente de pautar o debate político.

Preso (e inelegível até os 105 anos de idade), o ex-presidente ainda vai manter influência política. Ele continuará sendo o símbolo máximo de cerca de um quinto do eleitorado, motivo pelo qual todos os governadores de oposição cotados para disputar a presidência da República procuram cortejá-lo e extrair dele um apoio explícito. Ainda que com limitações práticas, as principais articulações políticas de seu partido, o PL, passarão por seu crivo.

Parlamentares bolsonaristas continuarão atentos para os sinais emitidos pelo líder de dentro do xilindró. Políticos do Centrão vão emular as estratégias de comunicação e a pauta de costumes do seu grupo em eleições estaduais e legislativas. Ou seja, o bolsonarismo segue vivo.

Mas a capacidade de Bolsonaro de incentivar a polarização extrema, apesar dos esforços para escalar o embate do Congresso com o STF — que passa a ser o maior risco institucional daqui pra frente —, fica bastante reduzida.

Sem cargo, sem poder circular em público, sem acesso direto às redes sociais, ele ficará desprovido de canais para alimentar o ódio aos adversários, criar novas crises e dar legitimidade a teorias conspiratórias — como fez com sucesso, e com efeitos deletérios para a democracia brasileira, durante o seu período no Palácio do Planalto.

Seus sucessores, por mais que se empenhem em incentivar a polarização por motivos eleitorais em 2026, não têm incentivos para depois governar com o mesmo pendor para o confronto. Isso não significa o fim da polarização na política brasileira, mas uma nova fase — quiçá menos tóxica.

 

 

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