17 de setembro de 2025
Politica

Os bastidores da negociação entre o PT e o Centrão para rifar Bolsonaro e derrotar a anistia ampla

É grande a lista de jabutis por trás do projeto de anistia a Jair Bolsonaro. Longe dos holofotes, o Centrão passou as últimas horas costurando uma aliança com o PT e o governo para aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem, que cria uma série de empecilhos para a prisão e a abertura de processos contra parlamentares.

Em troca, partidos do grupo – que em público juram fidelidade ao ex-presidente – ofereceram apoio aos petistas para derrotar o PL de Bolsonaro no plenário da Câmara. Traduzindo: o Centrão aceita votar contra a urgência do projeto que prevê anistia ampla, geral e irrestrita a Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro, mas quer ajuda para se livrar de investigações da Polícia Federal autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O maior temor do bloco, no momento, é em relação aos processos sobre desvio de emendas, que têm alvejado seus integrantes.

A oferta dividiu o PT. Em reunião na tarde desta terça-feira, 16, com o presidente do partido, Edinho Silva, deputados e senadores petistas escancararam o racha. Não foram poucos os que viram a aliança como uma contradição com o discurso do presidente Lula de combate aos privilégios. Mas alguns admitiram que votariam a favor, usando uma justificativa parecida com o argumento de que os fins justificam os meios.

Bolsonaro espera apoio de Centrão, mas grupo também faz articulações com petistas
Bolsonaro espera apoio de Centrão, mas grupo também faz articulações com petistas

Enquanto Edinho conversava com os petistas na Câmara, a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, se reunia com ministros do Centrão e do MDB, no Palácio do Planalto. A portas fechadas, ficou decidido ali que deputados e senadores licenciados deixarão a Esplanada por um dia e retornarão ao Congresso para ajudar o governo a derrotar a anistia.

Até as emas do Alvorada sabem, porém, que cada um desses personagens tem seus interesses. Enfraquecido, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), quer tirar o bode da sala para votar pautas de apelo popular, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 salários mínimos e conta com a ajuda de Arthur Lira (PP-AL), seu antecessor, para negociar os acordos.

O Centrão, por sua vez, quer salvar os seus e ganhar mais poder. Munido dessa estratégia, não terá dúvidas em rifar Bolsonaro – condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo STF –, mas ainda vai manter as aparências, fazendo um aceno aqui, outro acolá, porque precisa do aval do ex-presidente para lançar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à sucessão de Lula, em 2026.

Mas por que o PL de Bolsonaro insiste em defender anistia desde 2019 – ano em que o ministro do STF Alexandre de Moraes abriu o inquérito das fake news – depois do sincericídio do presidente do partido, Valdemar Costa Neto?

Para desespero dos bolsonaristas, Valdemar chegou a admitir, no sábado, ter havido um “planejamento”, de golpe no Brasil, que não se consumou. Depois, disse ter sido mal interpretado.

O PL, no entanto, tentará emplacar o projeto por ter certeza de que Moraes usará o inquérito das fake news, ainda inconcluso, para “perseguir” seus candidatos ao Senado. É na Casa de Salão Azul que reside a maior esperança dos aliados de Bolsonaro para aprovar o impeachment de Moraes.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já avisou que matará no peito qualquer proposta como essa. Mas, se bolsonaristas conseguirem maioria no Senado nas eleições de 2026, o desfecho dessa história será imprevisível. Mesmo porque jabuti não sobe em árvore: se isso ocorrer, ou foi enchente ou foi mão de gente.

 

 

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