Críticas em grupos de WhatsApp do PT explodem após apoio de deputados da sigla à PEC da Blindagem
Grupos de mensagens do PT amanheceram nesta quarta-feira, 17, repletos de críticas aos 12 deputados petistas que votaram a favor da Proposta de Emenda à Constituição n.º 3/2021, conhecida como “PEC da Blindagem” por dificultar a abertura de processos judiciais contra congressistas.
Na noite desta terça-feira, 16, o texto-base da proposta foi aprovado pela Câmara em dois turnos. Na primeira votação, foram 353 votos favoráveis e 134 contra. Na segunda, foram 344 a favor e 133 contrários. Por se tratar de uma PEC, era necessária uma maioria de três quintos – ou 308 votos – para aprovação da matéria.

Considerada prioridade pelo Centrão, a PEC da Blindagem foi aprovada com o apoio de deputados de diferentes matizes ideológicos. Porém, as siglas de centro e de direita foram aquelas que, proporcionalmente, mais entregaram votos. Dos 88 deputados do PL, por exemplo, 85 votaram a favor e os outros três se ausentaram.
Do lado petista, 12 dos 67 deputados votaram a favor da PEC no primeiro turno, sendo que dois deles retiraram o apoio na segunda votação. Apesar de o PT ter liberado sua bancada para se posicionar livremente, os votos favoráveis à proposta geraram revolta entre militantes e dirigentes do partido.
Os petistas que votaram a favor da PEC foram Airton Faleiro (PA), Alfredinho (SP), Dilvanda Faro (PA), Dr. Francisco (PI), Flávio Nogueira (PI), Florentino Neto (PI), Jilmar Tatto (SP), Kiko Celeguim (SP), Leonardo Monteiro (MG), Merlong Solano (PI), Odair Cunha (MG) e Paulo Guedes (MG). No segundo turno, porém, Faleiro e Monteiro mudaram de posição e votaram contra a proposta.
As críticas contra os parlamentares foram compartilhadas em grupos petistas no WhatsApp e em publicações nas redes sociais. Em resposta, alguns desses parlamentares apresentaram suas justificativas para apoiar a PEC da blindagem.
Presidente do Diretório Estadual do PT de São Paulo, o deputado Kiko Celeguim afirmou, em mensagem compartilhada em grupos petistas, que entende a indignação dos colegas de partido, mas ponderou que o Parlamento “é um espaço de negociação permanente”.
“Tem muita coisa importante na pauta da Câmara essa semana”, disse ele, em referência à proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, ao projeto de anistia aos condenados pela trama golpista, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, entre outras medidas.
“Pode não parecer, mas tudo isso está caminhando junto. Nós precisamos dos votos do Centrão para aprovar as nossas pautas e eles precisavam de uma sinalização do PT para meio que reduzir os danos da aprovação dessa PEC, que é a que importa para eles, mais do que a anistia”, afirmou Celeguim. “Eu e mais onze deputados do PT, incluindo o nosso líder do governo, topamos fazer esse gesto amargo em nome do que entendemos serem conquistas mais importantes neste momento.”
Ao Estadão, Celeguim confirmou a autoria da mensagem encaminhada em grupos de WhatsApp. O deputado reiterou a importância das articulações contra o avanço da anistia na Câmara. Segundo ele, o apoio de deputados do PT à PEC da blindagem faz parte desse processo.
No grupo do Diretório Zonal do Butantã, do PT paulistano, a justificativa do parlamentar foi considerada insuficiente. Um militante argumentou que um acordo apoiado por apenas 12 votos não se sustenta. Para ele, não se trata de um gesto relevante para o Centro ou para a direção da Câmara, a menos que seja uma iniciativa individual em troca de contrapartidas restritas a esses 12 parlamentares – o que, em sua avaliação, só agrava a situação.
O dirigente petista Valter Pomar, da tendência Articulação de Esquerda, também condenou a justificativa apresentada por Celeguim. “Mas será que o ‘gesto amargo’ de votar na PEC seria um sacrifício heróico em nome de um bem maior? Não concordo com esta tese. Penso que estamos sendo enganados, como já fomos enganados outras vezes”, afirmou ele, em publicação no seu blog.
O deputado Jilmar Tatto também justificou seu voto a favor da PEC. Em nota publicada em suas redes sociais, afirmou que cabe à bancada do PT assegurar a governabilidade e manter o diálogo permanente, com o objetivo de ampliar conquistas e evitar derrotas.
“Com a liberação do Governo para que a base votasse livremente, parte da bancada do PT optou por votar com a maioria nesta PEC por entender que seria o gesto necessário aos partidos do dito Centrão, para evitar o mal maior que é a aprovação da PEC da Anistia, criando cenário para possíveis tentativas de golpe no futuro”, escreveu.
O deputado Flávio Nogueira afirmou que foi favorável à PEC por acreditar que os parlamentares “devem ter suas prerrogativas, assim como os advogados” e criticou a interpretação de que a proposta seria “um escudo de proteção de crimes”. “Sem nossa prerrogativa, não existe democracia”, disse.
Segundo Nogueira, a possibilidade de votar a favor da PEC havia sido discutida durante uma reunião com o presidente nacional do partido, Edinho Silva. Como mostrou o Estadão, a ordem foi orientar o voto contrário à proposta.
Questionados, os outros sete deputados petistas não justificaram seus votos favoráveis à PEC.