19 de setembro de 2025
Politica

Desespero bolsonarista criou o orçamento secreto e agora é usado para salvar quem dele se lambuzou

“Querem reunir todos aqueles que precisam escapar das barras da lei num só núcleo. Daí criou-se o centrão. O Centrão é a materialização da impunidade”. A frase parece atual e poderia ter sido dita por quem se posicionou contra a PEC da Blindagem, aprovada na Câmara dos Deputados na última terça-feira, para proteger os políticos de processos judiciais no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas é antiga, de 2018, dita por Augusto Heleno no lançamento da candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República. No mesmo evento em que ele cantou a versão jocosa para “Reunião de Bacanas”, de Ary do Cavaco e Bebeto Di São João em que ironizou o mesmo grupo político.

Por ironia ainda mais fina, dois anos depois, seria justamente o candidato alçado naquele evento, então presidente da República, o responsável por assinar o texto que oficializou o mecanismo que passou a distribuir emendas por baixo dos panos sob a condução justamente do Centrão. Em 2020 era um momento de desespero do bolsonarismo, que enfrentava perda de apoio no Legislativo após vetar uma primeira versão de dispositivo e as principais contestações judiciais. Foi quando Bolsonaro rendeu-se ao Centrão com medo de não perder o cargo e não conseguir mais governar.

Câmara dos Deputados durante a votação da PEC da Blindagem
Câmara dos Deputados durante a votação da PEC da Blindagem

Dali em diante, sob as ordens de Arthur Lira, que usaria tal inovação para se eleger em 2021 presidente da Câmara e comandar com mãos de ferro o Parlamento, permitiu-se um libera geral na distribuição de recursos, sem comprovação efetiva de que fossem de fato usados com eficiência e honestidade, o que fortaleceu ainda mais o Legislativo diante do Executivo. Deputados e senadores se esbaldaram da inovação, revelada pelo Estadão em 2021.

Agora, com as investigações colocando muitos deles contra a parede e exibindo diversos indícios de fraudes por todo o País, era chegada a hora de a fatura da farra com recursos levar a consequências penais. Gente grande nas Casas, sob ameaça de processo no STF, começou a se assustar. O Centrão, o grande beneficiário da prática, viu-se sob ameaça.

A solução veio do mesmo embrião que gerou o orçamento secreto: o desespero bolsonarista que, uma vez somado à força dos partidos de centro e centro-direita, permitiu o florescimento da PEC da Blindagem. Regra que, se aprovada também no Senado, proibirá que haja qualquer processo contra parlamentares sem que eles próprios possam dar seu aval, registre-se, por votação secreta.

É que o Centrão percebeu que, na bancada de aliados de Bolsonaro, vale qualquer coisa para esticar a corda da relação com o STF. Serve para blindar os próprios políticos de direita das consequências de uma campanha contra o Judiciário movida para tentar salvar o ex-presidente que, com sua força eleitoral, elegeu cada um deles. E serve como esteio para a aprovação de uma anistia que, quem diria, beneficiaria até o general Heleno, aquele da frase sobre o Centrão.

Ainda que o Centrão tenha catado mais uns votos daqui e dali, inclusive na base governista, foi o PL bolsonarista, ao apoiar em massa a medida, que tornou viável a PEC da Blindagem. Quem lá atrás atacava o Centrão e fazia discursos nos palanques com palavras duras contra a impunidade, resolveu unir-se por ela. Uma impunidade que valha para a corrupção ou para o golpe. Em causa própria, como tem sido na Câmara de Hugo Motta, aquela que atua como Sindicato dos Deputados Federais.

 

 

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