19 de setembro de 2025
Politica

PEC da Blindagem revela medo de nova onda anticorrupção

Desde 2001, parlamentares podem ser investigados e processados criminalmente sem a necessidade de autorização prévia de suas respectivas Casas Legislativas. Por que, então, aprovar a chamada PEC da Blindagem agora, com tanta urgência? A resposta parece ir além do mero oportunismo do Centrão, que aproveita a aliança com o PL de Jair Bolsonaro para reagir ao Supremo Tribunal Federal. Há um medo real e disseminado, alimentado por múltiplas investigações que ganham corpo e ameaçam não apenas dezenas de congressistas, mas partidos inteiros, da base ao topo de suas estruturas.

Vale, portanto, fazer uma pausa nos debates sobre anistia e formação de chapas para refletir sobre essa iminente onda de operações. Nos corredores do Congresso, circulam há anos relatos sobre um crescente número de deputados focados exclusivamente na liberação de emendas e nos percentuais que lhes cabem. Mas não é preciso especular sobre os bastidores para constatar que há um novo ciclo de apurações policiais e processos criminais com potencial de influenciar a campanha eleitoral de 2026 e o equilíbrio de forças a partir de 2027.

Câmara dos Deputados aprovou PEC da Blindagem, mas Senado resiste em fazê-la avançar
Câmara dos Deputados aprovou PEC da Blindagem, mas Senado resiste em fazê-la avançar

Basta acompanhar o noticiário para notar as várias frentes de investigação abertas pela polícia e pela imprensa, todas com potencial de desdobramentos em múltiplas etapas. O esquema de desvio de emendas parlamentares é apenas um deles. As conexões de políticos com o PCC, as fraudes no INSS e o caso envolvendo o Banco Master são outros três exemplos para os quais há um conjunto crescente de dados em análise pelas autoridades. A julgar pelo histórico recente de investigações de grande porte, é plausível supor que ao menos uma delas seja encorpada por acordos de delação premiada, que podem apontar o caminho para incriminar políticos com mandato.

O trajeto até a próxima eleição será, portanto, bastante acidentado, ao menos para a classe política. Alguns já descrevem os próximos meses como uma “temporada de caça às bruxas”. O período pré-eleitoral, por natureza, já é propício a denúncias, algumas delas levianas e articuladas apenas para desestabilizar campanhas. Desta vez, porém, com o farto material produzido pelos desvios dos últimos anos, muitos congressistas sabem que são alvo de munição real e reagem de acordo com essa preocupação.

Pode ser que nenhuma dessas frentes avance. Contudo, depois que o Congresso encerrar suas atividades no fim do ano, o que impediria o Ministério Público, a Polícia Federal e os tribunais de acelerarem essas operações, sem a preocupação de tumultuar a agenda legislativa? Além disso, qual seria a melhor forma para o Judiciário tentar recuperar sua credibilidade, senão recorrendo novamente à pauta do combate à corrupção? O medo do Centrão, portanto, tem fundamento.

Nesse sentido, qual pode ser o efeito prático em 2026? A questão pode ser analisada de duas maneiras. De forma mais ampla, é provável que um noticiário intenso sobre corrupção coloque o tema novamente no centro da agenda eleitoral. Pesquisas recentes já mostram um aumento da preocupação dos eleitores com o assunto, especialmente desde o escândalo do INSS. Em geral, isso representa um ônus à campanha de quem está no governo e favorece o surgimento de candidaturas com fachada antissistema. O impacto real, no entanto, dependerá dos alvos dessas investigações, e o prejuízo maior pode recair sobre o Centrão e suas campanhas regionais. A escolha dos vices e a montagem das chapas estaduais podem ser diretamente influenciadas pelos rumos que essas operações tomarem nos próximos meses.

 

 

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