21 de setembro de 2025
Politica

Medalhões da MPB entram na guerra política. Mas são ouvidos apenas por uma elite minoritária

Por algum motivo, alguns de nossos artistas são também vistos como guias políticos a serem seguidos. Mesmo que não haja ligação direta entre articular muito bem as palavras, criar belas linhas melódicas, ou sequências de acordes inventivos, e dominar questões como proteger a democracia, trazer prosperidade ou equacionar as contas públicas. Do ponto de vista lógico, a palavra política de artista deveria valer tanto quanto de taxista, motorista de Uber, dono de bar ou tantas outras profissões que exigem contato direto com a população.

Mas foi com uma espécie de júbilo que parte de nossa sociedade viu a presença de compositores como Gilberto Gil, Caetano Veloso ou Chico Buarque em atos pelo Brasil contra a PEC da Blindagem (ou PEC da bandidagem) e contra a anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal. Celebrou-se com nostalgia uma espécie de volta dos atos dos anos 60, 70, e 80 conduzidos por esses cantores. Ironicamente, inclusive, a anistia já foi uma causa a ser buscada pela mesma turma que hoje rejeita o termo.

Cantora Daniela Mercury puxou o trio elétrico durante manifestação contra a PEC da Blindagem em Salvador.
Cantora Daniela Mercury puxou o trio elétrico durante manifestação contra a PEC da Blindagem em Salvador.

Faltou, entretanto, combinar com o povo que vai além aos mobilizados que vão às manifestações. Com certeza, qualquer estudo aprofundado de nossa história geral pelos próximos séculos precisará citar os extraordinários artistas que se consagraram a partir dos anos 60 e que constituíram a chamada Música Popular Brasileira (MPB). Mas, na verdade, eles estão longe de serem os mais ouvidos.

Pesquisa Quaest divulgada em abril deste ano trouxe os números. Entre os gêneros de preferência da nossa sociedade, a MPB ocupa um modesto quinto lugar, com 6% das preferências. Figura atrás do sertanejo (26%), música religiosa cristã (19%), Forró/Piseiro/Arrocha (9%) e Samba/Pagode (9%).

Nem mesmo os esquerdistas têm ajudado para a condição hoje algo melancólica de nossa música mais consagrada pela crítica. Apenas 4% dos lulistas/petista afirmam que a MPB é seu gênero musical preferido. O índice exatamente igual ao dos bolsonaristas. A melhor pontuação da MPB está entre os esquerdistas, porém não lulistas ou petistas: 10%.

Mesmo historicamente, entre os 10 maiores vendedores de discos da música brasileira, não há ninguém exatamente da MPB de Gil, Chico & Cia. Na ordem de maior sucesso de todos os tempos estão: Roberto Carlos, Nelson Gonçalvez, Ângela Maria, Rita Lee, Xuxa, Benito di Paula, Tonico & Tinoco, Nelson Ned, Chitãozinho & Xororó, Milionário & José Rico. Nossa música engajada bate na trave com Maria Bethânia, em 11º lugar.

Hoje, quando se busca quais são as canções mais ouvidas do Brasil não haverá nenhum medalhão da MPB. Longe disso. De acordo com a lista de hoje do Spotify, a ordem das preferências é: “P do Pecado” do Grupo Menos é Mais; “Pela última vez”, da mesma banda; “Tubarões”, de Diego & Victor Hugo; “Ama um Maloqueiro”, de Rafa Júnior. Talvez os fãs empedernidos da MPB, como este colunista, não conheçam nenhuma dessas músicas. Talvez, estejam apenas desconectados com o Brasil real.

 

 

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