22 de setembro de 2025
Politica

Multidões contra blindagem e anistia expõem constrangimento do PT com pauta ética

O mérito não é dos artistas. O público significativo que compareceu aos protestos realizados neste domingo, 21, foi, acima de tudo, resultado de uma onda de indignação legítima e espontânea formada ao longo da última semana contra as votações no Congresso Nacional que fizeram avançar o Pacote da Impunidade – composto pelo PL da Anistia, para livrar Jair Bolsonaro e outros golpistas condenados da cadeia, e pela PEC da Blindagem, para reduzir enormemente as chances de que políticos com foro privilegiado paguem por seus crimes.

Há tempos a esquerda não conseguia reunir tanta gente nas ruas, o que sugere que nem só de militantes empolgados eram feitas as multidões em mais de uma dezena de capitais do País. O PT seria o partido mais apto a explorar esse ânimo popular renovado, mas não vai conseguir completar essa tarefa porque fica meio ridículo na fantasia de defensor da ética na política.

Ato contra anistia e PEC da Blindagem na Praia de Copacabana no Rio
Ato contra anistia e PEC da Blindagem na Praia de Copacabana no Rio

Parlamentares de oposição, quando sobem num carro de som na Av. Paulista ao lado da família Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sabem exatamente o que a massa ali reunida pensa e quer – e por quem ela seria capaz de se jogar no abismo. Quando voltam a Brasília, atuam para atender a esses anseios e para usar todos os meios com a justificativa de defender seu líder. Para eles, os discursos a favor da liberdade de expressão e do combate à corrupção, por exemplo, são moldáveis às circunstâncias. Podem ser perfeitamente relativizados quando isso for do interesse do projeto político de Bolsonaro – e quem vai às ruas por ele está de bem com isso.

O PT não pode dizer o mesmo de quem lotou praças, praias e avenidas neste domingo. As palavras de ordem eram contra uma ideia ampla de impunidade: exigiam punição a quem atentou contra a democracia e recusavam dar a deputados e senadores a palavra final sobre se podem ser processados ou não.

O que o PT tem a oferecer a essa massa de inconformados? O ex-ministro José Dirceu, condenado em 2016 por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, que agora, em seu esforço de reabilitação política, fez até discurso no ato em Brasília dizendo que é preciso “mudar o Congresso Nacional”? Ou os 12 deputados petistas que votaram a favor da PEC da Blindagem, sob os argumentos de que o fizeram em troca do apoio do Centrão para pautas do governo Lula e para evitar a anistia a Bolsonaro? Ou tudo isso e mais um pouco, sem medo do constrangimento?

 

 

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