Eduardo Bolsonaro diz que elogio a Lula é estratégia de Trump e chama Motta de ‘refém do regime’
SÃO PAULO – O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou nesta terça-feira, 23, em entrevista ao portal Metrópoles, que o elogio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) integra uma estratégia política do mandatário americano.
O presidente americano afirmou que abraçou Lula antes de discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, que gostou dele, e disse que os dois marcaram de se encontrar na próxima semana. O governo brasileiro confirmou. Contudo, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, sinalizou à CNN Internacional que a conversa pode ser por telefone ou videoconferência.
Em uma conversa curta, Trump disse a Lula que eles precisavam conversar e sugeriu um encontro na próxima semana. Lula concordou e disse que estava disposto. Agora, os dois países vão estruturar o diálogo.

“Isso é prova de que o Trump tem uma estratégia. Se ele estivesse sancionando apenas por uma questão de vingança ou para fazer o mal àqueles que são violadores de direitos humanos, ele estaria a todo momento despejando a maior força possível nesse conflito”, disse Eduardo.
“Ele fez aquilo que é acostumado a fazer: estressar a relação para depois sentar-se à mesa, onde quiser, quando quiser, e na melhor posição possível para defender os interesses dos americanos.”
Eduardo afirmou que agora a responsabilidade estaria nas mãos de Lula, que teria de costurar e honrar a agenda com Trump. Na avaliação dele, recusar o encontro significaria destruição política, o que obrigaria o presidente brasileiro a se reunir com o norte-americano.
Fez, no entanto, a ressalva de que a reunião, por si só, não representaria vitória. Lembrou que outros líderes, como o primeiro-ministro britânico, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ao entrarem no Salão Oval, já se depararam com verdades inconvenientes.
“Eu não fiquei nem um pouco surpreso. Acho que isso está dentro da estratégia do presidente Trump e mostra que, sim, ele pretende estreitar essa relação para colher os frutos desse estresse previamente feito de maneira proposital”, reiterou o parlamentar.
O deputado licenciado avaliou que é praticamente inevitável que a pauta da perseguição judicial apareça ao longo do encontro entre os mandatários, já que Trump havia orientado seus ministros e secretários a fecharem as portas para autoridades brasileiras interessadas apenas em discutir aspectos comerciais. Dessa forma, as questões políticas estariam colocadas sobre a mesa, e o presidente americano, “devidamente informado”, certamente trataria do assunto por considerá-lo de interesse direto.
Eduardo lembrou ainda que Trump havia assumido para si a questão brasileira ao publicar em sua rede social uma carta aberta a Lula, na qual falava da perseguição a Bolsonaro, seus familiares e apoiadores, mencionava as eleições no segundo parágrafo e, no terceiro, abordava as big techs em defesa de empresas americanas.
“Se você pegar o discurso do presidente Trump, ele fala da questão judiciária, da perseguição, das ‘caças às bruxas’”, continuou o parlamentar. “Só faltou colocar o CPF e citar nominalmente Jair Bolsonaro. Esse é um dos pontos que tocam muito o presidente Trump, porque ele sabe que, amanhã, quando não for mais presidente, pode vir a sofrer esse mesmo tipo de perseguição.”
Deputado diz que Motta é refém do regime e sofre extorsão de Moraes
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou também que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), está sofrendo extorsão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse seria o motivo pelo qual Motta barrou a indicação do parlamentar como líder da Minoria na Câmara.
Em março, Eduardo anunciou que se licenciaria do cargo por 120 dias para permanecer nos Estados Unidos, onde buscaria sanções contra “violadores dos direitos humanos”. O movimento atual seria para impedir que ele perdesse o seu mandato.
“Hugo Mota é um refém do regime. Ele está sofrendo extorsão do ministro Alexandre de Moraes. A gente compreende isso, mas isso não isenta de críticas. Eu esperava mais coragem dele”, disse Eduardo, que salientou que Motta é um presidente que possui muita dificuldade dentro do Parlamento. “Ele poderia perfeitamente seguir o regimento interno da Casa e avalizar a minha liderança da minoria, mas ele prefere perseguir por entender que nós somos o lado mais fraco da força.”
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou ainda que é preciso “levantar a temperatura” sobre Motta e que não vê outra saída senão usar as ferramentas à disposição. Durante a conversa, o deputado mencionou que o governo americano possui uma série de instrumentos para realizar sanções contra o Brasil, embora “não responda” pela gestão Trump.
Eduardo disse também que Hugo Motta chegou a impedir que ele registrasse presença por celular durante as sessões virtuais de Câmara. Para ele, isso configurou perseguição. Acrescentou que Motta estaria fazendo um “esforço fora do normal”, supostamente para agradar Moraes, e que, após a Polícia Federal (PF) ter ido à casa do pai de Motta (prefeito Nabor Wanderley), o presidente da Câmara “mudou” radicalmente de posição.
Sobre a pauta da anistia, que caminha para não ser “ampla, geral e irrestrita” como defende, Eduardo afirmou que vai “guerrear” com o PT e acusou Moraes de “querer matar” o seu pai. “Vamos conversar com o Paulinho da Força. Lembrando que o relator pode ser trocado”, disse.
Eduardo Bolsonaro volta a dizer que pode ser candidato
Ele declarou que, caso Jair Bolsonaro não possa disputar, ele próprio será o candidato a presidente da República. Por isso, avalia, o sistema “corre” para tentar condená-lo em algum colegiado, como a Primeira Turma do STF, com o objetivo de torná-lo inelegível.
Ao ser questionado se apoiaria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao Planalto em caso de estar inelegível, Eduardo desconversou. “Se eu tiver inelegível porque fui condenado pela minha atividade nos Estados Unidos, eu acho provável que os EUA não reconheçam a eleição do Brasil.”
Eduardo Bolsonaro afirmou ainda que só poderá retornar ao Brasil em caso de anistia. Do contrário, disse, voltaria apenas para ir direto à cadeia, ressaltando que não se considera bandido e que não pretende pagar por uma perseguição política de quem, segundo ele, quer se perpetuar no poder. “Estou disposto a ir às últimas às últimas consequências”, salientou.