Reunião do PL com relator da anistia tem ‘lacração’ e reprimenda do líder à bancada; veja bastidor
BRASÍLIA – Deputados do PL hostilizaram o relator do projeto de lei da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), reforçaram críticas às sugestões dele ao texto e também ao encontro com Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente Michel Temer (MDB).
As reiteradas críticas de congressistas da oposição levou o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), a pedir desculpas ao relator e repudiar a ação.
“É fácil vir aqui, lacrar e atacar o relator de boa índole que veio aqui nos ouvir”, afirmou Sóstenes, que foi aplaudido ao fazer a crítica. “Fica aqui o meu repúdio.”
O líder do PL afirmou que a votação do projeto não deve ocorrer esta semana. “Esta semana não”, disse Sóstenes, enquanto entrava em uma reunião com o colégio de líderes da Câmara.
A “lacração” começou logo nas primeiras falas de deputados do PL durante a reunião. Parlamentares lembraram que Paulinho da Força já foi base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é aliado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

“Você não precisa consultar Alexandre de Moraes e muito menos Michel Temer”, disse Delegado Éder Mauro (PL-PA), primeiro a falar.
“Não podemos aceitar isso. A anistia precisa ser ampla, geral e irrestrita”, prosseguiu Éder Mauro. Ele faz referência a pronunciamentos de Paulinho da Força, que já afirmou em diferentes momentos que o foco é reduzir a pena dos envolvidos nos atos golpistas.
O deputado Delegado Caveira (PL-PA) foi na mesma linha. “Esse relator não poderia ser relator. Pessoa que votou no descondenado, ladrão (referência a Lula) de nove dedos não pode ser relator de uma proposta para pacificar o Brasil”, afirmou.
Bia Kicis (PL-DF) reforçou que são bolsonaristas os capazes a dar uma solução ao projeto de lei da anistia. “Não aceitamos que Aécio Neves venha a dar uma solução que pertence a nós”, disse Kicis. Ela ainda descreveu a foto do encontro com Aécio e Temer como “patética”.
A bancada do PL ainda trouxe familiares de pessoas presas para darem os seus relatos ao relator na tentativa de persuadi-lo.
Depois de algumas dezenas de parlamentares falarem, Sóstenes condenou a postura dos deputados que fizeram ataques a Paulinho da Força.
Esse não foi o único aviso que Sóstenes deu aos deputados do PL. Ele pediu que a bancada pare de usar a expressão “ampla geral e irrestrita” ao falar de anistia. “A anistia por si só já ampara tudo. A gente tem necessidade de fazer justiça. E a justiça é uma palavra só: anistia”, avisou.
No final da reunião, Paulinho da Força disse que o relatório dele será “uma coisa que seja a média da opinião da Câmara” e afirmou que trabalhará para o texto esteja pronto para poder votar na próxima semana.
Sóstenes fez questão de demarcar sua posição ao relator. “Dosimetria não é competência do Congresso Nacional”, afirmou. “O que compete é anistia. Se alguém tiver outra opção, que nos apresente.”
Paulinho respondeu. “A gente esta falando dosimetria porque vai reduzir pena. Quem avalia dosimetria é o Supremo”, disse.
Essa foi a primeira parte da andança de Paulinho da Força para dialogar com bancadas da Câmara. Ele ainda visitará, nesta terça-feira, 23, as bancadas do PRD, do Republicanos e do MDB.
Há previsão de reunião de Paulinho da Força com líderes ainda na tarde desta terça-feira. Outras bancadas deverão ser ouvidas na quarta-feira.