27 de setembro de 2025
Politica

Trump piscou, mas Lula diz que sua química era com Bush e recomenda à equipe ir devagar com o andor

O aceno de Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi comemorado no Palácio do Planalto e visto com desdém por bolsonaristas enciumados. No Planalto, auxiliares de Lula disseram que “Trump piscou” e ensaia um recuo, após impor um tarifaço de 50% a produtos brasileiros e aplicar uma série de sanções a magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), ministros de Estado e suas famílias.

Aliados de Jair Bolsonaro, na outra ponta, fizeram pouco caso em público: no Congresso, muitos apostavam que, na conversa com Lula, Trump lerá trechos da carta endereçada a ele no dia 9 de julho. Na correspondência, postada nas redes sociais, o presidente dos EUA ameaçava o Brasil e cobrava o fim do que chamou de “caça às bruxas” a Bolsonaro.

Lula e Bush, em 2005: churrasco na Granja do Torto e passeios.
Lula e Bush, em 2005: churrasco na Granja do Torto e passeios.

Em Nova York, Lula disse, a portas fechadas, que não crê em uma coisa nem outra. Escaldado diante do comportamento errático de Trump, o petista tem o pé atrás: não canta vitória antes da hora e afirma ser preciso ir “devagar com o andor” porque o santo é de barro. Mas também não acha que o americano esteja preparando uma armadilha para ele.

De qualquer forma, como seguro morreu de velho, o diálogo entre os dois, nos próximos dias, deverá ser à distância, por videoconferência.

Na tribuna da 80.ª Assembleia-Geral da ONU, Trump surpreendeu ao contar que, momentos antes, tivera uma boa conversa de “30 segundos” com Lula, numa sala reservada. “Ele parece um cara muito legal”, elogiou. “Tivemos uma excelente química.”

As câmeras flagraram o momento em que Lula, no plenário da ONU, deu um sorriso amarelo. Mais tarde, fora dali, ele relembrou sua relação com o também republicano George W. Bush.

Em seu primeiro mandato, era Lula quem dizia que tinha “química” com o presidente dos EUA. Usava, aliás, essa mesma expressão.

Em dezembro de 2002, por exemplo, antes mesmo de tomar posse no Planalto pela primeira vez, o petista visitou Bush na Casa Branca.

Durante a campanha eleitoral, José Dirceu também desembarcou em Washington, carregando uma cópia da “Carta ao Povo Brasileiro” – idealizada para acalmar o mercado financeiro –, traduzida para o inglês.

Três anos depois, em 2005, após derrotar o plano dos Estados Unidos para pôr de pé a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Lula recebeu Bush e sua mulher, Laura, para um churrasco na Granja do Torto.

“O presidente prometeu me levar para pescar”, contou o líder americano. A “confidência” consta dos arquivos da Casa Branca.

Naquela época, no entanto, os republicanos não eram trumpistas. Além disso, não havia nem Jair nem Eduardo no meio do caminho.

O presidente prometeu me levar para pescar

George W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos

Embora seja muito cedo para interpretar como Trump pretende conduzir sua relação com o Brasil daqui para frente, sabe-se que a economia americana sentiu o baque do tarifaço. O presidente dos EUA tem sido pressionado pelo mercado interno: as sobretaxas trazem problemas para os empresários e o setor agrário passa por maus bocados, após longo período de uma guerra comercial com a China.

Mas e Bolsonaro? Se Trump fizer mesmo acordo com Lula, o ex-presidente sofrerá mais uma derrota maiúscula. E Eduardo Bolsonaro – que mora nos EUA, trabalha para mais sanções contra o Brasil e enfrenta risco de cassação como deputado – será carta fora do baralho político.

Interlocutores de Lula avaliam que a cruzada de Trump contra o Brasil nunca foi mesmo por causa de Bolsonaro. Por esse raciocínio, a ira que atinge o ministro do STF Alexandre de Moraes – relator do processo que condenou o ex-presidente a 27 anos e 3 meses de prisão – tem por trás negócios de Trump prejudicados pelo magistrado. A lista inclui empresas de mídia digital, após o cerco à “terra sem lei” das redes sociais.

Trump também quer deter o avanço dos Brics e interessa a ele um acordo com o Brasil para reduzir a dependência da China no processamento de minerais críticos, como nióbio, cobre, lítio e terras raras.

É fato, porém, que o republicano não deseja ver o Brasil novamente sob comando da esquerda, em 2026. Resta saber se Lula vai convidar Trump para pescar, como fez com Bush.

 

 

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