Clima de ‘guerra fria’ entre Câmara e Senado beneficia Lula ao travar dosimetria e acelerar IR
A avaliação entre lideranças do Congresso ouvidas pela Coluna do Estadão é de que o clima de “guerra fria” instaurado entre as duas Casas do Legislativo nos últimos dias acabou beneficiando o Palácio do Planalto, após uma sequência de semanas em que a oposição pautou o debate e travou a agenda governista.
De um lado, o mal-estar entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), por causa da PEC da Blindagem ajudou a colocar um freio no projeto de lei da dosimetria de penas.
Em outra frente, a disputa velada entre o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversários políticos em Alagoas, pela paternidade da proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda impulsionou a maior vitrine eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para 2026.
Depois de ver sua agenda engolida – com julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), articulação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) pela anistia e aliança entre bolsonarismo e Centrão pela blindagem a parlamentares – o governo agora começou a obter vitórias no Congresso. A primeira foi a votação da MP para reduzir a conta de luz. Na semana que vem, deve ser o IR.
Após o relator do PL da dosimetria, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), dizer que o impasse sobre a proposta poderia contaminar o projeto do IR, Motta tratou de desmenti-lo. Segundo aliados do presidente da Câmara, ele quer emplacar pautas positivas após o desgaste da PEC da Blindagem na opinião pública, que resultou em protestos pelo País no último domingo, 21, nos quais ele foi criticado nominalmente.
Líderes da Câmara afirmam que Alcolumbre havia garantido que bancaria a PEC da Blindagem, o que não ocorreu. No fim das contas, o desgaste ficou apenas na conta dos deputados. Agora, depois de a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovar um projeto do IR de autoria de Calheiros, Motta e Lira não querem deixar os louros com o senador e nem serem acusados de travar uma pauta popular.
