Funcionário de senador atua na contabilidade de ‘Careca do INSS’
BRASÍLIA – Um contador de Brasília liga o senador Weverton Rocha (PDT-MA) ao suposto esquema operado pelo empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS. Rodrigo Martins Correa é, ao mesmo tempo, funcionário de uma agropecuária do parlamentar, no Maranhão, e sócio da firma responsável pela contabilidade das empresas do Careca na capital federal.
Martins Correa, de 40 anos, aparece formalmente como administrador da DJ Agropecuária, empresa registrada em nome de Weverton Rocha e parentes para administrar propriedades rurais da família do político no Maranhão. A agropecuária é a única empresa na qual o contador Martins Correa está formalizado na Receita Federal como administrador.
Correa também é um dos donos da Voga, firma que segundo informações colhidas pela Polícia Federal e pela CPI do INSS operava empresas usadas para lavar dinheiro do esquema das associações.

O senador afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a Voga presta serviços para ele há mais de dez anos e que desconhece os demais clientes dela. “Sei que é um grande escritório de contabilidade”, comentou.
Por mensagem, Martins Correa disse ao Estadão que presta o mesmo serviço de administrador para “diversos outros clientes” e que sua contabilidade atende a mais de 1 mil. “Associar um cliente a outro simplesmente por contratarem os nossos serviços é, no mínimo, leviano”, disse Correa.
O outro proprietário da Voga é Alexandre Caetano dos Reis. A PF o identifica como sócio de uma offshore do Careca do INSS, a Camilo & Antunes Limited, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Essa firma, aberta em paraíso fiscal, foi usada para “blindar o patrimônio ilegítimo amealhado” no esquema dos descontos associativos ilegais.
Foi por meio dessa offshore que o Careca do INSS comprou quatro imóveis em Brasília e São Paulo, em transações que somaram R$ 11 milhões, em um período de dois meses.
“As aquisições imobiliárias significativas realizadas em junho e julho de 2024 apresentam fortes indícios de lavagem de dinheiro. A coincidência temporal com o esquema da ‘farra do INSS’, o uso de uma empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas e as transações de alto valor reforçam a suspeita de que essas operações foram realizadas com o intuito de ocultar a origem ilícita dos recursos”, diz o relatório da investigação.
O inquérito da PF aponta ainda uma relação financeira da Voga, de Martins Correa e Alexandre Caetano, com outra empresa do Careca do INSS, a Prospect Consultoria Empresarial.
Segundo a investigação, esta consultoria era uma das principais empresas utilizadas pelo Careca para receber e desviar dinheiro proveniente dos descontos associativos ilegais e para pagar propina para servidores do INSS. Entre os beneficiados, o ex-procurador-chefe do INSS Virgílio Filho e o ex-diretor de Governança, Planejamento e Inovação da autarquia Alexandre Guimarães. O inquérito menciona uma pequena transferência de R$ 3,9 mil para a Voga, entre 2023 e 2024.
A CPI do INSS trouxe à tona novas informações sobre o papel da Voga no funcionamento do suposto esquema. No depoimento prestado para deputados e senadores na semana passada, Milton Salvador de Almeida Júnior, ex-diretor financeiro das empresas do Careca e apontado como um dos operadores do esquema, afirmou que todas as movimentações pessoais e empresariais de Antônio Camilo Antunes eram repassadas à Voga.
Ao ser questionado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) se também era o responsável pela contabilidade das finanças pessoais e empresariais do Careca, Milton Salvador respondeu que a tarefa ficava com a Voga.
A documentação oficial da agropecuária junto à Receita Federal tem o e-mail corporativo de Rodrigo Martins Correa. O endereço eletrônico, com final “@vogasc.com.br”, é o mesmo usado por Alexandre no cadastro da offshore do Careca do INSS mapeada pela polícia.
O senador Weverton já havia entrado no radar da CPI por outro motivo. Como mostrou o Estadão, a compra de um jet ski com dinheiro repassado pelo Careca do INSS fez a comissão abrir uma nova frente de investigação. Um secretário municipal do interior do Maranhão recebeu R$ 100 mil do Careca, e o valor está relacionado à compra de uma moto aquática.
Integrantes da comissão seguem pistas que indicam relação política entre o destinatário do dinheiro e o senador maranhense. Ele não quis se manifestar sobre esse caso e sua assessoria afirmou que a linha de apuração é descabida.
Além disso, Rubens Oliveira Costa, outro suposto operador do Careca do INSS, recebeu procuração para movimentar contas e sacar valores de uma empresa de Gustavo Marques Gaspar, ex-assessor e pessoa da confiança do senador. A informação foi revelada pelo Portal Metrópoles.