26 de setembro de 2025
Politica

Arte & responsabilidade

O MASP é um orgulho para o Brasil. Desde a arquitetura emblemática de Lina Bo Bardi, naquele vão que grita a glória da estética, até o primoroso conteúdo de suas mostras. Lembro-me de sua inauguração, com a jovem Rainha Elisabeth e o governador de elite, pois muito bem casado e amigo da beleza, como era Roberto Costa de Abreu Sodré. Nunca mais cessou a febril atividade de suas diretorias, a semear cultura e incentivar o cultivo do que realmente vale a pena, em uma terra que às vezes parece tosca e arrasada.

Agora mesmo, avisa-me Fábio Magalhães, um dos nossos patrícios mais generosos em termos de se doar pelo aprimoramento do convívio, que o MASP se preocupa também com as emergências climáticas. Por receber cerca de vinte mil visitantes por semana, o Museu de Arte de São Paulo quer contribuir para a redução das emissões dos gases de efeito estufa que produzem o aquecimento global.

Recorrerá ao mercado de carbono, servindo-se de créditos cedidos por um patrocinador, para chegar ao NET-Zero entre este ano e 2030. Serão neutralizadas quase três mil toneladas de dióxido de carbono, em atenção aos escopos 1 e 3, que são emissões diretas e indiretas. Já em relação ao escopo 2, que cuida do consumo de energia, a neutralização advirá com os 1-RECs, certificados internacionais de energia renovável.

É uma parceria importante entre a iniciativa privada e uma entidade cultural que, embora não seja governo, presta inegáveis serviços de utilidade pública. De acordo com o MASP, as emissões indiretas nem sempre entram no radar de todos os que admiram exposições que geraram gases venenosos. Pense-se, por exemplo, na Mostra Ecologia de Monet. Vieram quadros de cinco países, além do Brasil: Canadá, Estados Unidos, Suíça, França e Hungria. Esses deslocamentos internacionais são fonte de emissão diante do transporte aéreo.

É paradoxal que, para despertar a consciência da população quanto à necessidade de intensificação do zelo pela natureza, como é o caso da “Ecologia” de Monet, haja necessidade de emissão dos gases que nos envenenam.

Mas o importante é que o MASP tem isso no radar. Toma as providências necessárias a que sua contribuição para o aquecimento global e para o cataclismo climático seja neutralizada mediante uso da ciência, cada vez mais preocupada com esse fenômeno irreversível.

Por sinal, a nova exposição do MASP também é voltada para a ecologia, uma coletiva que congrega mais de duzentas obras de artistas de vinte e dois países. Todos os andares do edifício Pietro Maria Bardi ostentam esse instigante acervo. Plantas, animais, rios, florestas e montanhas, tudo faz os humanos recordarem de que não somos o único elemento a ocupar a face da Terra. Muito bem elaborada, a exposição se divide em cinco núcleos temáticos: Teia da Vida, Geografias do Tempo, Vir-a-Ser, Territórios, Migrações e Fronteiras e Habitar o Clima.

Para quem não acredita em mudança climática, recomenda-se a visita e reflexão no quinto andar, que oferece perspectivas indígenas, rurais, urbanas e da diáspora negra. Os africanos obrigados a deixar seu território e enfrentar o desconhecido, as transformações da natureza provocadas pelo bicho-homem.

Na temática “Territórios, Migrações e Fronteiras, enfatiza-se o drama dos deslocamentos forçados e fluxos migratórios gerados por conflitos ambientais e sociais. O tema dos refugiados climáticos é cada vez mais urgente e nem sempre merece a atenção de quem poderia atuar em sentido contrário, seja com ações concretas, seja mediante legítima pressão sobre o poder público, no sentido de ao menos minimizar os deletérios efeitos da ignorância e insensibilidade humana ao tratar do ambiente.

Muita coisa mais está ali disponível, com ênfase para a crise climática. Inclusive está contemplada a tragédia do Rio Grande do Sul, no segundo andar, tema “Habitar o Clima”. Não deixe de ver e meditar sobre a instalação “Descida da Terra/Trabalho das Águas”, que impressiona e realça o significado das enchentes em Porto Alegre em 2024.

Vale a pena visitar a exposição, que já se encontra aberta e que assim permanecerá até primeiro de fevereiro de 2026. Mas vá logo. Não deixe para o último dia.

 

 

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