28 de setembro de 2025
Politica

Aproximação de Trump e Lula pode significar abandono de Bolsonaro

A reunião entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, provavelmente nesta semana, pode resultar numa guinada estonteante não apenas nas relações entre EUA e Brasil, mas na própria política interna brasileira. Trump extrapolou limites para defender Jair Bolsonaro e obteve o efeito oposto. Se a reunião com Lula for minimamente satisfatória, pode significar (ou ser assimilada como) o abandono do ex-presidente.

A ótima reportagem de Felipe Frazão no Estadão, com os bastidores do encontro de Trump e Lula, deixa evidente que não foi um esbarrão casual no acesso ao púlpito da ONU, mas um movimento diplomático muito bem articulado pelos dois países, com Mauro Vieira e Geraldo Alckmin na linha de frente.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, vê discurso de Lula durante assembleia geral da ONU
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, vê discurso de Lula durante assembleia geral da ONU

Assim como o rápido encontro na ONU, a reunião formal vem sendo milimetricamente detalhada, para excluir o inconciliável e focar nos interesses comuns. O grande trunfo de Lula são as “terras raras”, que têm muito mais valor para Trump do que um ex-presidente inelegível e condenado.

Trump pode estar só trucando, mas a “química” e a guinada em direção a Lula têm potencial para ser a pá de cal nas tentativas tão desesperadas quanto inúteis da família Bolsonaro de usar a maior potência mundial para tentar, primeiro, impedir a condenação e, agora, evitar a prisão do ex-presidente.

Os EUA aplicaram 50% de tarifa em produtos brasileiros, a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, a suspensão de vistos de juízes e autoridades, mas o devido processo legal correu sem uma vírgula de desvio e Lula foi quem se deu bem. Se Trump se aproximar realmente dele, vai queimar pestanas por Bolsonaro?

O clã vem de derrota em derrota e a próxima está a caminho: a cassação de Eduardo Bolsonaro pelo Conselho de Ética da Câmara, com ótimos motivos e o beneplácito de Hugo Motta, que abriu a porta para o processo, ao sustar o absurdo de transformá-lo em líder da Minoria, a muitos quilômetros de distância, em outro País.

De outro lado, Lula recupera energia eleitoral, tem forte chance de ver seu discurso pela soberania desaguar na abertura de negociações com Trump e é o maior beneficiário da volta das esquerdas à rua. Pode ter sido pontual, pode ter vindo para ficar.

Ao concordar com a “química” entre ambos, Lula disse que ele e Trump são dois homens de 80 anos “e não existe espaço para brincadeira”. Eles dividem pragmatismo, vaidade e megalomania e Trump pensa com o bolso e com a popularidade. Vai apostar no passado do Brasil, ou investir no presente? E o futuro? Quanto mais os Bolsonaros definham e Lula se fortalece, menos Tarcísio é candidato à Presidência em 2026.

 

 

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