“Tem um toque de Bahia em tudo que a gente ouve no Brasil”, afirma Dan e Arthur da Filhos de Jorge
Um novo projeto surge na cena baiana com o propósito de dar sentido à expressão de que o estado é um caldeirão musical. No dia 4 de outubro, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), em Salvador, será palco da estreia do Festival Nova Bahia, que reunirá nomes da música local, dando espaço para que os artistas da nova geração apresentem sua arte e colaborem com outros nomes.
Na grade, a banda Filhos de Jorge aparece como os “mais velhos”, que se juntam a artistas como o projeto Doum (do cantor e compositor Diggo e do músico Raysson Lima), a banda Mamacita, e os cantores Murilo Chester e Sofia Pitta. No entanto, mesmo com 15 anos de estrada, a Filhos de Jorge demonstra que ainda é possível se sentir caçula na música, especialmente ao mirar o contexto nacional.
Em entrevista ao Bahia Notícias, Dan Vasco e Arthur Ramos, vocalistas da banda ao lado de Papito Gomes, falaram sobre a responsabilidade de serem os mais experientes no projeto e a sensação de estarem sempre vivendo uma estreia.
“Esse final de semana a gente tocou numa cidade chamada Amélia Rodrigues. Foi incrível! Uma artista chamada Kelly Amorim subiu ao palco e cantou com a gente. Quando ela estava cantando uma música que tinha escrito para a cidade, veio uma ideia na minha mente. Minha mente estava muito longe, porque ia exatamente para essa sua fala, entende? Por mais que para algumas pessoas nós sejamos os mais maduros dessa cena, eu ainda me vejo como Kelly. Todo artista tem esse lugar da inquietude, da certeza e da incerteza, do querer e não saber se é a hora, se está certo ou não. A gente se coloca nesse lugar de todo mundo”, contou Arthur.
Para o artista, o Festival Nova Bahia e a produtora de mesmo nome conseguirão cumprir o papel de ser o vetor de novos artistas baianos.
“A Nova Bahia é, eu digo, um festival e uma produtora, mas vai se tornar meio que um lifestyle, uma temática. As coisas que estão vindo daqui, a partir de agora ou, sei lá, de uns 3, 4, 5 anos atrás, têm um frescor diferente, estão indo para um lugar diferente. Quando a gente recebeu essa ideia, a gente abraçou por isso, porque a gente precisa fomentar a nossa própria cultura. A gente não pode ficar só recebendo o que vem de fora. É importante que a gente aqui dentro, que fez esse caldeirão, que a gente sirva às outras pessoas com esse molho que a gente tem. A gente tem uma cultura muito rica, eu faço questão de exaltar isso porque é de onde a gente se alimenta todos os dias para criar, para compor, para cantar.”
O espaço do MAM será palco da gravação do novo audiovisual da banda. Dan Vasco faz questão de frisar aos fãs que será um registro do show, e não a gravação de um DVD com repetição de músicas. “Vai ser um registro daquele momento, a pretensão não é ficar parando, então o público vai poder curtir o show”, pontuou.
A banda trabalha em um repertório especial que contará com canções inéditas. O fato chamou a atenção dos fãs, que se intrigaram com a distância entre os lançamentos, já que no final de 2024 a banda lançou o álbum “Ninguém Tá Só”, gravado no Estúdio Ori.
Dan explicou que as novas canções vêm como uma continuidade do que foi feito com “Ninguém Tá Só”, já que o disco, apesar de ter tido uma versão deluxe, não teve registro audiovisual das faixas.
“Esse novo projeto também vem para exaltar essas músicas que estão no ‘Ninguém Tá Só’, porque a gente não chegou a fazer um registro ao vivo, oficial, e tem músicas que ainda vão acontecer de uma forma diferente. É uma continuidade, com muito carinho. Essas músicas nos deram um frescor para a gente vislumbrar outros espaços, outras experiências. Então, é todo um combo de vontades, inquietudes e realizações”, conta.
SOBRE O AUDIOVISUAL
O público poderá acompanhar quatro novas canções no show, que mostram, segundo Arthur, a maturidade da banda. “A gente costuma dizer que cada ano que passa, a gente sobe um degrau, né? E a gente vai nesse mantra de fazer sempre melhor. Dessa vez a gente se preparou desde a parte das composições. A gente fez um camping, reuniu os amigos queridos, talentosíssimos, outros produtores, além de Papito, e nessa brincadeira eu acho que saiu algo muito diferente de tudo que a gente já fez, algo que subiu o sarrafo mesmo.”
A preparação para a apresentação é tamanha que o grupo prometeu novidades no show, entre elas, a presença de um ballet, nova cenografia e figurino.
“A gente vai começar o show antes do pôr do sol, porque a gente quer pegar esse visual. Seria um pecado a gente não fazer desse jeito. A gente tem quatro músicas inéditas compostas no nosso camping, todas com participação de um de nós três, pelo menos. A gente tem ballet, e a galera está falando muito bem do figurino”, antecipou Arthur.
Foto: Instagram
Com o lançamento do audiovisual, a banda volta a trabalhar firme para a temporada mais esperada pelos soteropolitanos: o verão. Segundo os artistas, até abril serão 16 músicas lançadas, sendo dez até o Carnaval e mais seis pós-Carnaval, o que configura um outro álbum. A banda também confirmou ao Bahia Notícias os ensaios de verão, com mais de uma data na capital baiana. “Quando vocês virem a parada startar, entenda que a gente só para agora no ano que vem.”
BAHIA COMO PONTO DE PARTIDA
De volta ao caldeirão, a banda afirma que a Bahia só tem a celebrar com os novos nomes que estão surgindo e conquistando o mundo. Para Dan, o abraço do Brasil aos gêneros locais é uma prova da força do que é produzido em Salvador e em vários outros municípios baianos.
“O pagodão baiano está sendo tocado por artistas gringos. A gente viu isso acontecer com o funk. E eu acho que é o próximo passo da nossa cultura ser abraçada pelo mundo mesmo. A gente brinca que a Bahia é o mundo, mas é a mais pura verdade. A gente tem um toque de Bahia em tudo que a gente ouve no Brasil, querendo ou não. É importante que a gente reconheça e que a gente explore isso mesmo, no sentido bom da palavra, que a gente exalte. Eu acho que é um ponto de partida dessa construção do novo, para que a gente não se perca na essência.”
Arthur ainda citou os bastidores da música baiana como potência brasileira. Na última semana, a Bahia teve diversos nomes indicados ao Grammy Latino, a exemplo de Chibatinha, músico do ATTOOXXA, creditado em três projetos.
“Chibatinha postou que ele está em três álbuns indicados ao Grammy, é um artista incrível. A gente falou aqui de Victor, que não é um produtor, engenheiro da Bahia, mas ele reside. Ele escolheu a Bahia para estar, o estúdio dele é daqui, ele trabalha com os artistas baianos. A Bahia é um celeiro de muitas coisas. Eu estava falando isso com Papito, falei: ‘Velho, La Casa de Papi vai arrebentar o sistema’, esse é o nome do estúdio dele. Ele é meio agoniado, não quer produzir tantas coisas ao mesmo tempo, mas a galera precisa entender a grandiosidade de Papito para além de Filhos de Jorge.”
“Chibatinha postou que ele está em três álbuns indicados ao Grammy, é um artista incrível. A gente falou aqui de Victor, que não é um produtor, engenheiro da Bahia, mas ele reside, ele escolheu a Bahia para estar, o estúdio dele é daqui ele trabalha com os artistas baianos. A Bahia é um celeiro de muitas coisas. Eu estava falando isso com Papito, falei, ‘Velho, La Casa de Papi vai brocar o sistema’, esse é o nome do estúdio dele. Ele é meio agoniado, não quer produzir tantas coisas ao mesmo tempo, mas a galera precisa entender a grandiosidade de papito para além de Filhos de Jorge.”
ONDE VER FILHOS DE JORGE
O Festival Nova Bahia acontece no dia 4 de outubro, no Museu de Arte Moderna da Bahia, às 15h, e contará com apresentações de Mamacita e Sofia Pitta, e do duo DOUM, formado por Diggo e Raysson Lima, o cantor Murilo Chester, além do Filhos de Jorge.
Os ingressos estão disponíveis no site Meu Bilhete, e custam a partir de R$ 80.