Brasil faz sua maior operação militar entre Roraima e o Amapá em meio a cerco de Trump à Venezuela
Serão dez mil militares das Forças Armadas. Equipamentos que jamais estiveram na Amazônia foram deslocados pelo Ministério da Defesa para a Operação Atlas em uma área que vai do Amapá até Roraima. Ali estarão o sistema de foguetes Astros, os carros de combate Leopard, os mísseis MAX 1.2 AC, porta-helicópteros, embarcações, tropas aerotransportadas, defesa cibernética, submarino, além da aviação de ataque ao solo da Força Aérea.

O efetivo é o de uma Força Expedicionária – o primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira enviada à Itália, em 1944, tinha cerca de 5 mil homens. Seu tamanho e a logística para seu deslocamento faz da operação a maior já feita pela Defesa. E isso às vésperas da COP 30, a conferência do clima da ONU, em Belém, e no momento em que os EUA preparam uma nova política de defesa, onde se quer submeter os narcotraficantes não mais ao direto penal, mas às leis da guerra, o que será usado para apertar o cerco a Nicolás Maduro, na Venezuela.
A decisão americana pode ter implicações legais, inclusive para os soldados. O direito internacional não contempla a eliminação física de criminosos a não ser nos casos previstos de uso legítimo da força. Uma coisa é enviar um drone para atacar uma liderança da Al-Qaeda no meio do deserto. Outra bem diferente é lançar um ataque em um outro país, podendo matar civis. Pelas leis dos países, isso seria considerado assassinato e não um ato de guerra.
Há relatos publicados pela imprensa americana que os americanos já teriam alvos dentro da Venezuela para serem atingidos, tratando o país como parte de seu quintal. O governo de Donald Trump estabeleceu a imigração ilegal e controle do tráfico de drogas como prioridades. Já no primeiro dia de governo, Trump assinou um decreto ordenando ao Comando Norte dos EUA que atuasse para “fechar as fronteiras e manter a soberania, a integridade territorial e a segurança” dos EUA. Os militares americanos deveriam repelir toda “forma invasão” e incluem nessa categoria militar a imigração ilegal e o tráfico de drogas.

Os EUA preparariam na Venezuela uma reedição da Operação Just Cause, a invasão do Panamá para capturar seu presidente, Manuel Noriega? Até que ponto os americanos estariam dispostos a deslocar uma força expedicionária para a Venezuela depois que a alternativa de patrocinar a desestabilização do regime de Maduro fracassou diversas vezes, entre outros motivos, em razão do forte apoio da hierarquia militar ao governo?
Desde que Maduro passou a ameaçar a Guiana, reivindicando a região de Essequibo, em 2023, o Brasil reagiu reforçando o efetivo da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Boa Vista, com a criação do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizada (18.º RCMec) e o envio de mísseis anticarro Max 1.2 AC para a tropa em Roraima. Blindados Guarani e Cascavel, além de Guaicurus também foram transportados para o norte como dissuasão de qualquer aventura de Maduro.
Agora, o Ministério da Defesa foi além. Aproveitou a COP-30 para fazer a maior demonstração de força já feita pelo Brasil na região. Oficialmente, o objetivo da Operação Atlas é “coletar subsídios para o aperfeiçoamento do Sistema Planejamento de Emprego Conjunto das Forças Armadas (SisPECFA), proporcionar a identificação de óbices ao planejamento, à coordenação e à execução do deslocamento estratégico dos meios envolvidos e cooperar com o adestramento das Forças Singulares, em ambiente operacional de selva e de difícil acesso, promovendo a interoperabilidade entre elas”.
Iniciada em agosto, a Atlas já teve exercícios em Goiás feitos pelo Corpo de Fuzileiros Navais, com disparos feitos com o Max 1.2 AC e com unidades do sistema Astros de lançamento de foguetes e mísseis. No dia 23, três aeronaves de caça A-1M do 1.º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação (1º/10.º GAv – Esquadrão Poker), da Força Aérea, deslocaram-se da Base Aérea de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, até Boa Vista. Ali estão para treinar militares com a missão de orientar aeronaves a fazer apoio de fogo contra alvos de superfície.
O Exército decidiu que a concentração estratégica na Amazônia terá a coordenação do Comando de Operações Terrestres (Coter) e do Comando Logístico (Colog). Após a reunião das tropas no terreno, esse trabalho ficará a cargo do Comando Militar da Amazônia. Para lá foram enviados tanques Leopard, obuseiros M-109, lançadores do sistema Astros, blindados Guarani, Cascavel, Guaicurus e lançadores de pontes e helicópteros da Aviação do Exército
Entre os dia 3 e 9 de outubro, os exercícios vão acontecer em Roraima. Ali serão disparados foguetes pelo Astros. Trata-se do que o Exército chamou de “fase decisiva com a execução tática em Roraima, área de responsabilidade do Comando Militar da Amazônia, aplicando a doutrina vigente em condições desafiadoras de terreno, clima e logística”.
A Atlas também tem como objetivo testar a interoperabilidade entre as Forças Armadas. Serão empregado na ação homem da Brigada Aeromóvel e da Brigada Paraquedista, além de militares de 1.ª, 2.ª, 16.ª, 17.ª e 23.ª Brigadas de Infantaria de Selva. Também vão participar homens do 2.º Batalhão de Guerra Eletrônica e do 1.º Batalhão de Defesa Química, Bacteriológica, Radiológica e Nuclear, da 5.ª Brigada de Cavalaria Blindada, da 4.ª Brigada de Cavalaria Mecanizada e de unidades de engenharia de combate.
Por fim, a Marinha enviou embarcações para “controlar área marítima adjacente à Foz do Rio Amazonas”. O Comandante da 1.ª Divisão da Esquadra, contra-almirante Antonio Braz de Souza, será o comandante da Força Naval empregada.
Estarão envolvidos na fase de deslocamento estratégico para essa missão: o Navio-Aeródromo Multipropósito “Atlântico”, o Navio de Desembarque de Carros de Combate “Almirante Saboia”, o submarino “Humaitá”, além de helicópteros Esquilo, Super Cougar, Seahawk e Super Cougar. Ao todo, foram transportados 1.357 militares, sendo 1.298 da Marinha, 56 do Exército Brasileiro e 3 da Força Aérea Brasileira, além de 4 civis.