Presidente da Conafer nega fraude no INSS e tem dificuldade de explicar transação milionária
BRASÍLIA – O presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, negou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que a sua organização tenha “algum tipo de corrupção”, mas não conseguiu explicar os serviços milionários prestados.
O relator da CPI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), perguntou sobre a Santos Agroindustria Atacadista e Varejista, que fornece insumos para a Conafer. Lopes não soube responder quem eram os sócios dessa empresa.

“O senhor paga 100 milhões a uma prestadora de serviços e não sabe quem é o sócio dela?”, perguntou Gaspar. “Não, eu preciso dos insumos que eu compro dela”, respondeu Lopes. “Ah, está bom. Está de parabéns”, ironizou o relator.
A Conafer é a segunda entidade associativa com mais descontos nas mensalidades dos aposentados. A investigação da Polícia Federal aponta que esses descontos eram ilegais sem autorização dos pensionistas.
Em um intervalo de seis anos, entre 2019 e 2024, a Conafer registrou um crescimento de mais de 790 vezes nos descontos de aposentados e pensionistas do INSS.
Segundo Gaspar, a Conafer recebeu R$ 800 milhões de recursos de aposentados e pensionistas. A Santos Agroindustria Atacadista e Varejista, por sua vez, é de Cícero Marcelino, funcionário da Conafer.
Cícero Marcelino foi alvo de operação da Polícia Federal em maio. Ele é apontado pela investigação como operador financeiro da Conafer. Ele teria recebido mais de R$ 100 milhões do INSS.
Ele também é suspeito de ter comprado veículos de alto valor com recursos da fraude aos aposentados.
Durante a inquirição, Gaspar também mencionou que a Conafer teria feito desconto associativos de pessoas mortas.
“É padrão da Conafer ressuscitar mortos para assinatura de descontos associativos?“, questionou o relator. ”É padrão do INSS ter defunto recebendo benefício?“, respondeu o presidente da Conafer. Gaspar repetiu a pergunta. ”Se o morto estiver recebendo benefício, pelo jeito, sim, né?“, disse Lopes.
A sessão ainda foi marcada por troca de farpas entre o presidente do Conafer e integrantes da CPI do INSS.
“Esse sujeito aqui (mostrando uma foto), é o senhor? Sabe me dizer se é o senhor?”, perguntou o deputado Duarte Jr. (PSB-MA), vice-presidente da CPI, que levantou a voz e fez acusações contra o depoente em algumas oportunidades. “Se o senhor não sofrer de nenhuma míope (sic), o senhor tá vendo que é eu”, respondeu Lopes.
Em razão da resposta, Duarte pediu a prisão. O presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), negou o pedido.