Lula deixa Centrão em banho-maria, ‘frita’ ministros e monitora Tarcísio antes de mudar equipe
A um ano das eleições de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar o Centrão em banho-maria. Na prática, Lula aguarda a saída de ministros e integrantes desse grupo político, após o ultimato dado pela cúpula do União Brasil e do PP, sem de fato acreditar que haverá grandes baixas na equipe.
O presidente sabe que não terá apoio integral do Centrão nem do MDB na campanha por um novo mandato, mas espera conquistar “pedaços” desses partidos. O que ele não quer é um casamento de papel passado dos “aliados” de conveniência com o bolsonarismo.
Os movimentos de Lula são feitos sob medida para tentar sua recondução ao cargo – com a montagem de palanques fortes nos Estados –, embalados por uma agenda positiva, que prevê a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Trata-se de um projeto popular, a ser votado nesta quarta-feira, 1.° pela Câmara.

É por estas e outras que o presidente não vai exigir que o deputado Arthur Lira (PP), relator do projeto do I.R e expoente do Centrão, abra mão de seu apadrinhado na presidência da Caixa Econômica Federal.
Pelos cálculos do Palácio do Planalto, de 18 a 20 ministros devem sair no início de abril para concorrer às eleições de outubro. Diante desse quadro, o petista fará agora apenas mudanças pontuais na equipe.
O problema de Lula, porém, é sua dificuldade para demitir. Com isso, ele acaba deixando ministros expostos à fritura política. É o caso de Márcio Macêdo, petista que comanda a Secretaria-Geral da Presidência.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL) já foi convidado para assumir a cadeira de Macêdo e avisou sua corrente no PSOL que não concorrerá à reeleição.
Embora o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) torça o nariz para Boulos, Lula afirmou a dirigentes do PT que quer o deputado na equipe para dar uma “chacoalhada” no time. Em outras palavras: precisa dele para organizar os movimentos sociais. Até hoje, no entanto, não falou com Macêdo, deixando o auxiliar com a constrangedora tarefa de dizer que é vítima de “fogo amigo”.
O mesmo ocorreu com Paulo Pimenta, que ficou meses sendo “fritado” até o presidente escancarar o seu descontentamento com a comunicação do governo durante um encontro do PT, em dezembro do ano passado.
Um mês depois, em janeiro, Lula anunciou a troca de Pimenta na Secretaria de Comunicação Social (Secom) pelo marqueteiro Sidônio Palmeira. O estilo ‘morde-assopra’ do presidente marcou, ainda, a demissão de Nísia Trindade, que foi substituída por Alexandre Padilha na Saúde.
Atualmente, mais do que se preocupar com as ameaças de divórcio do Centrão e com as prováveis saídas de Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte), Lula monitora as articulações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
No diagnóstico do presidente, o jogo tem mudado e o governador somente será seu desafiante em 2026 se Jair Bolsonaro – condenado há 27 anos e três meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – não tiver outra opção para manter seu projeto. E, além disso, se ele se convencer de que não será traído.
A avaliação no Planalto é a de que, se Tarcísio for mesmo adversário de Lula, com apoio do Centrão, a centro-esquerda terá chance na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
A portas fechadas, o presidente tem dito que pretende ver Geraldo Alckmin (PSB) de novo como vice de sua chapa, em 2026, por considerá-lo extremamente leal.
De olho num palanque de peso em São Paulo, no entanto, ele já cogita sondar Alckmin – que também é ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e foi quatro vezes governador – sobre sua disposição para a corrida ao governo paulista.
Neste cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é visto no Planalto como forte opção para concorrer ao Senado.
Nenhum dos dois tem intenção de entrar no páreo. Preocupado com a possibilidade de bolsonaristas fazerem maioria no Senado, porém, Lula tem se dedicado a conversas sobre essas candidaturas.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), por exemplo, tentará mais uma vez uma vaga no Senado – por Mato Grosso do Sul ou mesmo por São Paulo.
O argumento no governo é o de que todos precisam ir “para a guerra”. Sendo assim, a partir de abril, a equipe de Lula será tocada por muitos secretários-executivos. Mas o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, ficará até o fim.
Apesar de estar cercado por militares e por assuntos indigestos, como anistia a golpistas e redução de penas, guerra não é com Múcio, que tem até um álbum gravado com músicas românticas. Curiosamente, com uma faixa intitulada “Revés”.