CPI do INSS foca em operadores do esquema e evita a convocação de políticos
BRASÍLIA – Em um mês e meio de trabalhos, a CPI do INSS tem mirado empresários e advogados apontados como articuladores dos descontos associativos ilegais e poupado políticos.
Uma análise de cerca de 2 mil requerimentos protocolados no âmbito da CPI até o último dia 26 feita pelo Estadão com auxílio da ferramenta Pinpoint, do Google, mostra que o principal alvo dos parlamentares até aqui é Antônio Carlos Camilo, o “Careca do INSS”.
Ele prestou depoimento em que afirmou ser inocente dos crimes que a Polícia Federal lhe atribui. O início da sessão foi marcado por confusão após o relator da comissão, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) dizer que o depoente era o responsável pelo maior roubo de aposentados da história. O advogado do “Careca” interveio, e um bate-boca generalizado com parlamentares exigiu a suspensão dos trabalhos.
Durante o depoimento, o “Careca” afirmou ser um empresário de sucesso e garantiu que tem como provar os serviços prestados às associações. Ele também reconheceu que havia falhas nos mecanismos de registro de associados, o que, segundo ele, pode ter levado a irregularidades.
O ex-chefe da autarquia Alessandro Stefanutto é o segundo alvo mais cobiçado pelos membros da CPI, mas ainda não foi convocado.

Até agora, o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi foi a única figura ligada ao Palácio do Planalto ou à oposição que depôs à comissão. As participações do atual chefe da pasta, Wolney Queiroz, e do advogado-geral da União, Jorge Messias, já estão confirmadas, faltando apenas a definição de datas para o comparecimento deles.
Parlamentares sob suspeita de envolvimento com o escândalo ainda não foram convocados. Até o momento, dois nomes foram citados atrelados às investigações: o do senador Weverton Rocha (PDT-MA) e o Euclydes Pettersen (Republicanos-MG).
Conforme revelou o Estadão, Weverton mantém como administrador de uma de suas empresas o empresário Rodrigo Martins Correa, que também figura como sócio da Voga, firma que fazia a contabilidade dos negócios do “Careca do INSS”, inclusive das offshores.
A associação da Voga com o Careca foi confirmada por Milton Salvador, apontado como operador financeiro do esquema. Ele trabalhou como administrador financeiro da Prospect, empresa que segundo as investigações, era utilizada para receber recursos das associações e para pagar propinas a empresas de familiares de servidores do INSS.
Até agora foram identificados dois agentes públicos da autarquia que teriam sido contemplados: o ex-procirador-chefe do órgão Virgílio Filho e o ex-diretor. Já Euclydes Pettersen vendeu um avião a uma ONG que serve como braço da Conafer, uma das entidades que procedeu descontos ilegais em aposentadorias e pensões.
Dias depois de ser alvo da operação Sem Desconto, que investiga o esquema, o parlamentar revendeu a aeronave do mesmo grupo da Conafer. Nem Weverton nem Pettersen foram convocados, apesar de terem sido protocolados requerimentos com pedidos para que compareçam à CPI.
Em deliberação realizada minutos antes do depoimento do “Careca”, os parlamentares votaram contra a convocação de Weverton e de seu ex-assessor Gustavo Gaspar. O auxiliar fez procuração em qie concedeu “amplos poderes” a Rubens Oliveira Costa, apontado como um dos operadores financeiros do esquema.
O veto à convocação foi articulado pela base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A principal justificativa foi a de que Gaspar se comprometeu em fornecer voluntariamente seus dados fiscais sem necessidade de quebra de sigilo.
Na cúpula da CPI, a leitura é de que é preciso fechar o cerco em torno de agentes políticos envolvidos antes de convocá-los. Isso requer a aprovação do maior número possível de medidas contra os investigados, com quebras de sigilo e requerimentos de informação.
Assim, quando essas figuras forem depor, haverá mais subsídios para questioná-las.
Esta reportagem foi produzida com o auxílio do Pinpoint, ferramenta do Google que ajuda a analisar grandes coleções de documentos usando recursos de pesquisa e de inteligência artificial. Para ver a coleção completa dos documentos analisados nesta reportagem, clique aqui.