1 de outubro de 2025
Politica

Envelhecer no Brasil: invisibilidade e silêncio

O Brasil envelhece a passos largos e trôpegos. Hoje, são mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, segundo o IBGE. Em 2000, eram 15 milhões. Já em 2050, um em cada três brasileiros estará nessa faixa etária. Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma nação é considerada “envelhecida” quando mais de 14% da população é constituída de idosos. Apesar dessa transformação demográfica, seguimos de olhos vendados: ainda tratamos a velhice como um tema secundário, distante do centro da agenda nacional.

Não basta celebrar o Estatuto do Idoso como um marco histórico e nem o Dia Internacional do Idoso, celebrado em 1º de outubro, com homenagens protocolares. É preciso transformar avanços legais em conquistas na vida das pessoas. Precisamos fortalecer a rede de proteção contra violência, expandir a rede de delegacias do idoso com profissionais capacitados para fazer esse atendimento, ampliar o acesso a terapias e tratamentos psiquiátricos, investir em inclusão digital e produtiva. O arcabouço legal existe, mas ações isoladas e sem escala não dão conta do recado.

Tratar do idoso não deve ser algo visto como boa vontade nem assistencialismo, é dever do Estado. O envelhecimento exige políticas claras, propositivas e de longo prazo. Exemplo disso é que passamos pelo Setembro Amarelo sem colocarmos na pauta o suicídio entre os idosos, apesar do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), indicar que a taxa de suicídio em pessoas com 70 anos ou mais chegou a 11,8 por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional.

Além disso, problemas graves como violência e abandono só são discutidos quando há repercussão midiática — uma câmera que flagrou uma cena, mas que, na verdade, expôs a realidade de milhares de idosos neste país.

É urgente se criar uma política nacional de saúde mental da pessoa idosa com foco na prevenção do suicídio e no diagnóstico precoce da depressão. O SUS precisa contar com uma rede pública estruturada e reforçada pela atuação de especialistas em Geriatria. É necessário haver um programa de atenção domiciliar para idosos com mobilidade reduzida que seja capilarizado e cofinanciado por estados e União, garantindo o cuidado permanente da população idosa, sobretudo em áreas mais remotas e carentes.

Ignorar essa pauta é condenar milhões de brasileiros a uma velhice marcada por abandono e sofrimento. Envelhecer não pode ser sentença de invisibilidade. É hora de enxergar o que os números já nos mostram: o futuro do Brasil será idoso. A pergunta é: vamos encarar esse desafio agora ou vamos continuar deixando para depois?

 

 

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