1 de outubro de 2025
Politica

O adeus de Lewis Hamilton a Roscoe e o que ele nos ensina sobre o luto por pets

Lewis Hamilton tinha um vínculo muito especial com seu cão Roscoe, que faleceu recentemente. Ele conta que Roscoe morreu em seus braços, depois de um período em que chegou a se afastar dos treinos para cuidar do seu companheiro.

Essa história mostra como o vínculo com os animais pode ser profundo e transformador.

Imagine compartilhar pequenos momentos do seu dia como acordar, chegar em casa, e descansar no sofá sempre ao lado do seu pet, e de repente perder essa presença que estruturava sua rotina. É exatamente isso que muitas pessoas sentem quando perdem um animal de estimação. E essa perda pode desestruturar a rotina do tutor.

Como especialista em oferecer suporte para pessoas passando pelo luto de um pet e pesquisadora do vínculo entre pessoas e animais, vejo tanto na clínica quanto nas pesquisas o impacto dessa perda. Uma pesquisa de 2014 utilizando neuroimagem mostra que vínculos com pets ativam circuitos cerebrais de emoção e afiliação semelhantes aos vistos em laços familiares. Isso reforça que o pet está longe de ser “apenas um animal”: ele é parte essencial da vida emocional e da família de muitas pessoas.

Como apontado em um estudo conduzido por pesquisadores da Australia em 2022, a perda de um animal de estimação pode ser comparada à perda de um amigo, de um parceiro, ou de um membro da família. Isso acontece porque o pet muitas vezes é uma presença constante, percebida como fonte de suporte emocional no dia a dia. Quando esse vínculo se rompe, a pessoa não perde apenas um animal, mas também uma base de bem-estar e de saúde mental.

O que torna essa experiência ainda mais difícil é que esse é um luto desautorizado socialmente. Embora hoje se fale mais sobre o tema, ainda existe pouca compreensão prática. Muitas vezes, quando um pet morre, espera-se que o tutor esteja no trabalho no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.

Algumas empresas já começaram a oferecer licença pela perda de um pet, mas essa ainda é uma realidade rara. O avanço dessas iniciativas mostra que existe um movimento de mudança, mas também evidencia o quanto ainda precisamos evoluir para reconhecer a profundidade desse luto.

Vários estudos, incluindo uma pesquisa de 2024 conduzida por pesquisadores da China mostra que alguns fatores tornam o luto pela perda de um animal ainda mais difícil. Um deles é a intensidade do vínculo: quanto mais forte a relação, mais dolorosa costuma ser a perda, especialmente quando não existe suporte social. Além disso, a forma como a morte ocorre também pode intensificar o sofrimento. Por exemplo, quando a despedida acontece por meio da eutanásia, é comum que os tutores sintam culpa e arrependimento, responsabilizando-se até mesmo por aspectos que estavam fora do seu controle. Isso acontece porque, diante de uma experiência muito dolorosa, o cérebro busca explicações. Mas, nesse processo, pode acabar atribuindo ao tutor uma responsabilidade que não corresponde à realidade.

Pesquisadores da Universidade do Havaí mostram que cerca de 4% das pessoas que passam pela perda de um animal de estimação desenvolvem luto prolongado, quando os sintomas se estendem no tempo e impactam significativamente a vida social e psicológica dessas pessoas. Além disso, 20% dos tutores relatam sintomas mesmo após um ano da perda do pet. Esses dados mostram que o luto por um pet está longe de ser algo banal.

Por isso, é fundamental que tanto profissionais da medicina veterinária quanto da saúde mental reconheçam a relevância desse luto e ofereçam acolhimento adequado. Ele é tão legítimo e impactante quanto qualquer outra forma de luto.

Um levantamento de pesquisas realizado em 2022 por Ben Hughes e Beth Lewis Harkin fala sobre a importância dos vínculos contínuos (continuing bonds). Esse conceito se refere à experiência de manter o vínculo com o animal após a sua morte. Isso pode envolver rituais, lembranças, ou até aspectos espirituais, quando a pessoa ainda se sente conectada ao pet. Nutrir esses vínculos ajuda muito no processo de luto, porque reforça que o luto não é apenas uma fase que termina, mas uma experiência que transforma a pessoa. Integrar essa perda à identidade é parte fundamental da adaptação. Esse processo leva tempo e precisa de acolhimento, tanto de quem está vivendo a perda quanto das pessoas ao redor.

Casos públicos, como os de figuras conhecidas que compartilham a perda de seus animais, despertam grande comoção e podem abrir espaço para refletirmos sobre as muitas perdas cotidianas, que passam em silêncio na vida das pessoas. Ainda assim, há um longo caminho a percorrer.

Porém, o mercado pet está crescendo, incluindo o mercado de suporte a pessoas passando pela perda de um pet. Por exemplo, O mercado global de aplicativos que oferecem suporte digital para o luto por pets foi estimado em 122,5 milhões de dólares em 2024 e projeta-se que cresça a uma taxa de até 12,8% até 2033, alcançando um total de 362,8 milhões de dólares, de acordo com um relatório da Growth Market Report.

Em termos de políticas públicas, sabemos que quando questões de saúde mental não são cuidadas, os impactos não se limitam ao indivíduo: eles se refletem também na saúde pública e na sociedade como um todo. Cuidar de quem sofre a perda de um pet, portanto, é também cuidar de uma dimensão essencial do bem-estar coletivo.

 

 

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