Propostas eleitorais de Lula ganham tração e as da oposição, como anistia, recuam
A vitória por unanimidade da isenção do Imposto de Renda para até R$ 5.000,00, com gradação para até R$ 7.350,00 e as novas alíquotas para renda acima de R$ 50.000,00 não é apenas por uma questão social, mas resultado dos ataques de Donald Trump ao Brasil, dos absurdos de Eduardo Bolsonaro, do oportunismo imoral e da falta de comando na Câmara, com um efeito que se alastrou pelo País: a irritação da sociedade, com enorme desgaste do Congresso.
O projeto, promessa de Lula em 2022, chegou ao Congresso em abril deste ano, se perdeu no redemoinho da polarização política e chegou a ser cogitado como moeda de troca para a aprovação da anistia a golpistas. No final, tudo isso virou pó. A aprovação na Câmara foi rápida, com votação unânime do PT ao PL e mantendo os pontos centrais do texto original do governo.

No Senado, não será diferente. A Câmara aprovou a indecente PEC da Blindagem de deputados e senadores por poderosos 330 votos e só agora começa a botar o bonde na direção da opinião pública, mas o Senado saiu na frente e já estava nesses trilhos, derrubou cirurgicamente a PEC e aprovou de surpresa um projeto do IR bastante parecido com o do governo só para mexer com os brios na Câmara. Logo, o ambiente entre os senadores é claramente a favor da aprovação.
Os maiores beneficiários são os milhões de brasileiros e brasileiras que deixarão de pagar, ou pagarão menos IR, mas o principal vencedor político é o presidente Lula, que já vem lucrando com os erros dos adversários e ganhou um discurso poderoso para a campanha de 2026. A bandeira dos pobres contra os ricos colou, deixando o bolsonarismo sem saída.
Dar a vitória a Lula ou votar contra a isenção de imposto para os mais pobres e a classe média baixa, o grande contingente eleitoral do País? Nem Eduardo Bolsonaro, com sua “genialidade política”, conseguiria articular o voto contrário e empurrar os aliados e seguidores do pai Jair para esse precipício eleitoral a um ano das urnas.
A alternativa foi tentar anular a compensação pela perda de arrecadação, mas isso só reforçaria a bandeira lulista de pobres contra ricos e seria um novo tiro no pé. Livrar os 141 mil super ricos de pagar um pouquinho a mais para favorecer os milhões mais pobres sem risco grave para o equilíbrio fiscal?
Os repórteres perguntaram ao líder do PL, Sóstenes Cavalcante, como fechar a conta, sem aumento de alíquota para o topo da pirâmide e ele deu uma resposta desajeitada, desastrada, mais ou menos assim: Sei não, isso é problema do governo. Não, líder, é problema do Brasil.
A discussão nem foi longe, abortada por uma questão objetiva: a norma que proíbe a aprovação de projetos que criem ou aumentem despesas sem apontar a respectiva fonte de receita. Pronto. Esse foi o grande trunfo do relator Arthur Lira, que voltou a emergir em grande estilo, facilitou a vida de Hugo Motta, que patrocinou a maldita PEC da Blindagem, provocou um bom alívio de Fernando Haddad, que anda um tanto sumido. Tudo confluiu para a unanimidade.
O Congresso esticou demais a corda, a corda rompeu, o Senado fez a costura e a Câmara ainda junta os cacos, ou melhor, os fiapos. Num ano dramático, sem votações relevantes, sem olhar para o interesse da sociedade, promovendo auto privilégios e prestigiando pautas indigestas, como anistia a golpistas e blindagem para deputados e senadores, o Congresso faz um mea culpa e age em busca de uma recuperação.
O resultado é o bolsonarismo acuado, o Centrão refazendo seus cálculos e Lula colhendo os louros e os frutos. Suas pautas populares ganharam tração. As antipopulares da oposição, como a anistia, perderam.